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HELENA

Senti todo meu corpo formigar. Minha garganta estava seca e minha cabeça pesava no travesseiro confortável onde repousava. Ao respirar fundo senti uma dor aguda no peito; senti primeiro minhas pernas, a coxa e depois minha cintura. Senti o impacto bruto das perfurações no meu corpo e grunhi baixinho. Abri meus olhos lentamente recobrando a consciência. Meu coração acelerou quando lembrei de tudo.

__Feyre... — ouvi minha voz. Rouca, baixa e fraca. Quase um sussurro. Tossi pelo desconforto, sentindo mais dor. — Cadê a Feyre? — ansiedade percorria minhas veias. Mal enxergava um palmo a minha frente, tudo estava embaçado, um verdadeiro borrão. Tentei me mexer mas me sentia pesada demais, fraca demais. Lágrimas já ardiam nos meus olhos quando senti uma mão na minha cabeça e outra segurando gentilmente meu braço.

__Shhh... está tudo bem... — aquela voz... — Feyre está... livre. Está a salvo. — Mor. Era Mor quem falava. Suspirei aliviada. — Respire... devagar... — acompanhei a respiração dela, fechando os olhos e acalmando minha alma.

Quando os abri novamente, pisquei diversas vezes para me acostumar com a claridade e pousei gentilmente meu olhar na garota loira ajoelhada ao meu lado. Seus olhos estavam brilhando e uma grossa lágrima escorria por sua bochecha. O sorriso em seu rosto era um conforto à parte.

__Oi... — sorri fracamente pra ela, o máximo que conseguia, e segurei sua mão. — Você me salvou. — não foi uma pergunta. Ela assentiu. Minhas piscadas eram lentas e preguiçosas; estava fraca demais. — Onde estamos?

Apertei meus olhos e vasculhei o lugar. Eles percorreram a sala; definitivamente não era o palácio da Corte Noturna. Era uma casa. Uma casa de verdade, com cortinas bonitas e móveis de madeira que pareciam contar milhões de histórias. Meu olhar parou no homem de braços cruzados e olhos violeta encostado na bancada. Rhys me encarava divertidamente, mas eu sabia o que ele estava sentindo. Sorri pra ele, e sua alma estremeceu. Quis chorar na hora, mas nem para lágrimas eu tinha força.

__Você nos deu um grande susto, mocinha. — ele brincou, aproximando-se e segurando meus pés. — Nunca mais faça isso. — apontou para mim e por trás da brincadeira senti seu medo.

__É muito bom ver você também, Rhys. — brinquei, ainda rouca e quase sem voz. Vi uma figura aparecer ao meu lado. Uma mulher de cabelos curtos e pretos, olhos prateados que reluziam e uma expressão séria. Ela segurava um copo estendido.

__Beba. — sua voz era firme e solene. Lancei-lhe um sorriso tranquilo e levantei minha mão para alcançar o copo, sentindo dor em todo meu corpo.

__Obrigada. Você tem olhos lindos. — disse assim que segurei o copo e o levei a boca, observando algo em seus olhos brilhar com o comentário. Ouvi um assovio do outro lado da sala e virei minha cabeça para enxergar uma figura alta e máscula, de cabelos compridos e olhos castanho-claros, um sorriso selvagem no rosto quando percebeu meu olhar. Ele tinha asas... asas parecidas com as de um morcego. Bonitas e parcialmente recolhidas, e ele usava roupas de couro que guardavam duas espadas prateadas nas costas. Eu ainda bebia o líquido morno e com leve sabor de mel e limão quando senti um arrepio na espinha e mirei um pouco mais ao lado, perto de uma estante de livros, onde um outro homem estava encostado.

Usando roupas parecidas com as do anterior, o homem que eu encarava tinha cabelos pretos curtos e olhos amendoados, pele bronzeada e traços perfeitamente lindos. As asas, também recolhidas, passavam um ar de poder absoluto. Guardava uma lâmina nas costas e seu corpo era forte e gracioso. Ele tinha desencostado da estante e dera um passo à frente, mirando-me com a mesma intensidade que eu analisava-o em cada centímetro. E eu senti que se estivesse em pé, minhas pernas teriam me traído.

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