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HELENA

Eu mal conseguia respirar. O ar em Velaris era fresco, puro, mas dentro de mim tudo parecia pesado, abafado. Eu sabia que Azriel estava bravo e frustrado pelo que aconteceu na Corte dos Pesadelos, mas não entendia por que ele me afastou de forma tão brusca. Talvez ele tenha razão, talvez eu não devesse ter interferido... Mas ver aquele tipo de dor, mesmo vindo de Keir, me quebrou de um jeito que eu não soube ignorar. Azriel é... sombras e fogo contido. Sempre controlado, sempre rígido quando o assunto é trabalho e principalmente proteção, mas havia uma selvageria nele esta noite. A maneira como ele olhou para Keir... a maneira como ele respirava fundo, os olhos escuros de ódio quando aqueles machos falavam de mim... foi uma noite difícil. E agora, quando finalmente podemos ficar juntos, quando sinto que ele precisa de mim, ele se fecha. Eu o desapontei, concluí, e esse pensamento foi quase insuportável.

Em contrapartida, Azriel parecia um bichinho perdido. Não falava diretamente comigo, mas também parou de tentar me afastar; não se prontificou a me levar pra casa mas não me deixou caminhar por Velaris sozinha; não conseguiu pronunciar uma palavra decente sequer, mas ficou abrindo e fechando a boca como se quisesse falar o caminho inteiro. Eu já estava começando a ficar irritada.

__Estou cansada disso. Podemos conversar? — perguntei assim que entramos em casa, praticamente explodindo as palavras. Azriel me encarou e franziu o cenho.

__Você está brava? — perguntou, e quis dar um tapa nele.

__É claro que estou brava! Meu parceiro tem me tratado com indiferença desde que saímos da Corte dos Pesadelos! E eu não fiz nada de errado! — balancei as mãos no ar, enfatizando minhas palavras. Ele cruzou os braços e me encarou, ainda franzindo.

__Você pode não ter feito nada de errado, mas definitivamente fez algo que não precisava.

__Porquê? Porque você não concorda que Keir mereça um pouquinho de piedade? — e vi seus olhos tremeram quando eu disse isso.

__Eu quero que ele queime! — Azriel deu um passo à frente, os olhos escuros cintilando com uma fúria controlada. Sua voz saiu baixa, mas cada palavra carregava o peso de algo muito mais profundo. — Eu quero que ele queime — repetiu, os punhos cerrados ao lado do corpo. — E o fato de você pensar o contrário, de sequer cogitar mostrar piedade para alguém como Keir... me deixa louco. — Ele finalmente desabafou, e sua tensão parecia quase palpável no ar.

Eu o encarei, meu coração acelerando enquanto tentava entender a raiz daquela emoção. Não era só raiva, havia algo mais ali. Frustração, medo, talvez? Algo que ele não queria deixar transparecer, mas que estava à beira de explodir.

__Você acha que eu não vejo? — perguntei, minha voz um pouco mais suave agora. — O quanto isso te afeta? A maneira como ele e tantos outros te trataram todos esses anos? — Eu dei um passo em direção a ele, tentando alcançar o que quer que estivesse o consumindo por dentro. — Mas Azriel, se você continuar se deixando corroer por isso, ele vence. Todos eles já te roubaram tanto... não deixe eles roubarem mais.

Azriel apertou os punhos com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. Ele virou o rosto, evitando o meu olhar, e aquilo me deixou ainda mais nervosa, mais desesperada.

__Amor... eu só... não entendo — minha voz saiu embargada, mas carregada de frustração. — Por que te incomoda tanto eu ter apagado ele? Por que você não me conta o que está acontecendo de verdade? O que está te corroendo tanto que você não consegue nem olhar pra mim? — Ele finalmente voltou o olhar para mim, os olhos sombrios carregando uma mistura de emoções. Raiva. Dor. Medo.

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⏰ Última atualização: 7 days ago ⏰

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