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HELENA

A luz apagou dos olhos de Rhys. O que Feyre tinha perguntado sobre Amarantha, os horrores dos quais ele lembrou... Quer conversar? Sou sua conselheira oficial, afinal de contas. Uma pergunta simples através da mente de Rhys que eu esperava receber uma risada em troca, mas só houve uma resposta singela: Talvez depois. Lancei-lhe um olhar compreensível e ignorei aquela dor costumeira. Meu prato ainda estava praticamente cheio...

Cassian continuou, atraindo minha atenção do silencioso Grão-Senhor.

__Nós somos desprezíveis, sabe. Az e eu. — a menção de Az ser desprezível me fez franzir o cenho involuntariamente. Até parece, fiquei tentada a responder. — Os illyrianos... Amamos nosso povo e nossas tradições, mas eles vivem em clãs e acampamentos nas profundezas das montanhas do Norte e não gostam de forasteiros. Principalmente Grão-Feéricos que tentam lhes dizer o que fazer. Mas são igualmente obcecados com linhagem e têm os próprios príncipes e lordes entre eles. Az — disse Cassian, apontando com o dedão na direção de Azriel, o Sifão vermelho refletindo a luz — era o bastardo de um dos senhores locais. E se acha que o filho bastardo de um senhor é odiado, então não pode imaginar o quanto é odiado o bastardo de uma lavadeira de campo de batalha com um guerreiro do qual ela não conseguia, ou não queria, se lembrar. — O gesto casual de ombros de Cassian não combinava com o brilho malicioso nos olhos cor de avelã. — O pai de Az o mandou a nosso campo para treinar depois que ele e sua adorável esposa perceberam que Azriel era um encantador de sombras.

__Como os daemati, — disse Rhys, apontando entre ele, Feyre e eu — Encantadores de Sombras são raros... cobiçados por cortes e territórios pelo mundo devido ao quanto são furtivos e à predisposição a ouvir e sentir coisas que outros não conseguem.

As sombras ao nosso redor espiralavam. Eu sabia que elas estavam sussurrando coisas para Azriel, sentia isso também. Eu não era uma encantadora de sombras, mas por alguma razão elas também brincavam comigo. Reparei que minha mão permanecia no joelho do homem ao meu lado e cogitei tirá-la, mas o rosto inexpressivo e o olhar frio e distante de Az me levaram a fazer mais um carinho delicado. Antes dessa conversa Az mantinha-se leve, sorrindo para mim de um jeito meigo. Agora uma escuridão imergia em seus lindos olhos. Apertei um pouquinho meus dedos em seu joelho. Ele piscou uma vez para o que quer que mirasse ao longe e prestou atenção em Cassian, que prosseguiu:

__O senhor do acampamento praticamente se cagou todo de animação no dia em que Az foi jogado ali. Mas eu... depois que minha mãe me desmamou e aprendi a andar, me mandaram para um acampamento distante, e me enfiaram na lama para ver se eu sobreviveria.

__Teriam sido mais espertos se jogassem você de um penhasco — argumentou Mor, rindo com deboche.

__Ah, com certeza — rebateu Cassian, e aquele sorriso ficou afiado como uma lâmina. — Principalmente porque, quando eu tive idade e força o suficiente para voltar para o acampamento no qual nasci, descobri que aqueles porcos se aproveitaram de minha mãe até ela morrer.

Senti a dor aguda no peito novamente, a tontura e o enjoo. A mesma de quando Sob a Montanha é citada, a mesma de quando Feyre tem pesadelos, a mesma que senti ao perceber a dor nos olhos de Az ao estender a mão para minha irmã. Ainda não sabia a história por trás das cicatrizes, mas pude senti-lo escorregar em memórias ao meu lado naquela varanda. De novo, silêncio; diferente dessa vez. A tensão e o ódio fervilhante de um grupo que suportara tanto, sobrevivera a tanto... e sentiam as dores uns dos outros profundamente. E meu dom me levava a sentir por todos.

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