AZRIELFoi como se eu tivesse levado um soco brutal no estômago, vê-la daquele jeito. Em um piscar de olhos, a tive em meus braços, e todas as preocupações e tormentos dos dias que ficamos separados se materializaram. Ignorei tudo ao nosso redor, focado totalmente nela. Nos lábios roxos, na pele cinza azulada, no corpo trêmulo e fraco. Ódio gélido se instaurou em cada poro meu, e a apertei contra mim, as sombras nos cercando e minha chama azul inspecionando cada centímetro de Helena para aquecê-la e curá-la. Ela estava tão fria... tão fraca... Estou bem, sua voz doce ecoou em minha mente. Sacudi a cabeça e segurei seu rosto com uma das mãos. Não posso deixar que você se machuque. Não dá. Enviei pelo laço, sentindo o coração de Helena batendo junto ao meu.
Lena dormia em meu colo no sofá da Casa quando a apertei nos meus braços e atravessei para minha casa, recebendo olhares de todos, que ignorei com agrado. Enxeridos. Limpa e aquecida, deitei a fêmea na cama do quarto de hóspedes. Colocaria-a no meu, mas tive vergonha - e medo - do que ela pudesse pensar, do que pudesse sentir. Beijei a testa de Helena e me afastei centímetros antes de sentir sua mão na minha.
__Onde você vai? — a voz rouca de sono causou um embrulho em meu estômago. — Fique comigo. — pediu, abrindo lentamente os olhos. Ah, esses olhos... — Por favor...
__É claro. Claro. — respondi rapidamente, sentindo meu coração pesar com seu pedido tão puro e sincero, e com o "por favor" carregado de sentimento. Como se ela precisasse implorar para que eu ficasse! Eu é que poderia implorar de joelhos apenas por um olhar dela sobre mim. Vi seus olhos pesados piscarem devagar, grudados em meus movimentos, os cantos dos lábios se repuxando para cima quando deitei confortavelmente ao seu lado, aninhando-a em meu peito e suspirando. Sorri, confortável e aconchegado, mas meu sorriso se deteve por aí.
__O que foi? — murmurou, um tom preocupado assumindo. Neguei com a cabeça, mesmo que ela não pudesse ver. — Converse comigo. — pediu, novamente sua suavidade e doçura me vencendo.
__Passei as duas últimas semanas trabalhando e treinando todos os dias loucamente, tentando manter minha cabeça ocupada ao máximo, lendo mais e mais sobre estratégias de Guerra, cuidando da cidade, investigando cortes... tentei tanto pensar em qualquer outra coisa que não fosse você. Fiz de tudo para ocupar minha mente e não ficar louco imaginando você na Corte Estival. Não sabia com o que ficava mais louco; você radiante aproveitando as férias e eu não poder admirar esse esplendor, você sendo seguida, questionada, supervisionada e talvez descoberta, aprisionada... você machucada, ferida, torturada... ou você desejando viver na estival para sempre. Tive tanto... medo.
Minha voz diminuiu, quase um sussurro no final. Helena levantou a cabeça, de repente desperta e com o olhar trincado no meu, já havia recuperado a cor nos lábios e a pele estava mostrando o bronzeado do sol da estival; linda, tão linda. Inconscientemente, deslizei uma mecha de seu cabelo atrás da orelha, desejando admira-la pelo resto da vida. Suspirei, o peito inflando, esse sentimento me deixando ainda mais atordoado, e desandei a falar novamente.
__Tentei tanto não pensar em você... mas fui incapaz. Incapaz de te tirar da minha cabeça. Incapaz de não deixar Nuela e Cerridwen incumbidas de todos os detalhes da sua estadia, de como você estava, se era bem tratada, se estava segura. Fui incapaz de dormir sem sonhar com você; incapaz de acordar sem lembrar desses sonhos. Incapaz de esquecer esse sorriso... sua voz, seu cheiro, sua presença... incapaz. Eu sou incapaz de viver sem você. Não posso e não quero ficar longe, de preferência nunca mais. Eu senti uma dor física no peito quando você estava se afogando. Senti como se meu mundo estivesse desabando e eu só pudesse assistir, sem fazer nada a respeito. E você estava tão pálida... tão fraca... você quase morreu. De novo. Você quase morreu... — a essa altura, minhas mãos tremiam um pouco, minha voz estava embargada e meus olhos cintilavam. — É tão idiota e egoísta, mas tive tanto medo de que você se apaixonasse por algum macho da Corte Estival. Alguém leve, tranquilo, sem essa bagagem de sombra e cicatrizes, alguém fácil de amar. — despejei tudo sobre ela. Helena repousou as mãos nas laterais do meu rosto, fazendo um carinho reconfortante. — E isso... isso parte minha alma e coração. Essa ideia de ver você com alguém muito melhor que eu.
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us | azriel
FanfictionEm A Corte de Névoa e Fúria, com narrações de todos os personagens desse universo e foco central em Azriel, Us traz a história original de Sarah J. Maas adaptada e modificada pela presença de uma nova peça chave no Círculo Íntimo, Helena Avalon. Aqu...