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HELENA

Azriel tinha cheiro de casa. Tinha essa sensação de lar que eu nunca sequer havia imaginado antes. Ele parecia tão... certo. E quando suas mãos — suas mãos cheias de cicatrizes, tão fortes e seguras, contendo tanta história e tanta coragem, tanta dor, e mesmo assim sendo as mais gentis — acariciaram meu rosto e ele pediu-me que lhe contasse, quando ele disse que eu poderia contar qualquer coisa a ele... Mostrei a ele. Mostrei tudo a ele.

A forma como canalizo cada emoção ao redor; como esses sentimentos entram em mim e percorrem meus órgãos de dentro pra fora; o impacto que eles causam em meu coração; a responsabilidade que me atinge de cada alma que vem até mim; de como pode ser seletivo ou aleatório, e de como eu não consigo controlar. Mostrei a Azriel que foram raras as vezes que senti o que senti naquela noite; o desespero, o ódio, a angústia... e que sabia que só com conexões fortes já havia me sentido assim. Só com meus pais, Feyre, Rhys. Só entre aqueles que eu me importava mais do que o mundo. Mostrei que eles faziam parte daquele pequeno grupo agora. Que já era escasso pela falta do primeiro casal há quinze anos. Mostrei as vezes que aleatoriamente gritos de socorro me atingiram sem que eu pudesse ajudar. Mostrei Sob a Montanha. A crueldade e a desesperança, e Clare Beddor pregada na parede, e a mente atormentada de Rhys que eu sentia em cada poro meu. Mostrei os horrores que engoliam os pensamentos de Feyre e o quanto eu tentava, sem sucesso, sanar aqueles ferimentos. A alma dela se dilacerando em minhas mãos atadas pelas correntes de Amarantha fisicamente ao redor dos meus pulsos e pernas e mentalmente cercando e esmagando qualquer sinal de poder. Poder esse que não ia embora, e ela não desconfiava que por esse motivo, doía ainda mais. Se soubesse, talvez tivesse apertado até que eu sufocasse com as pobres almas naquele lugar sugando minhas energias e emaranhando meu coração. Mostrei as pontadas agudas no peito, o enjoo furtivo e a sensação de pavor. Deixei que toda essa parte de mim fosse compartilhada com o homem segurando meu rosto entre suas mãos e acariciando-o suavemente.

Quando não tive mais forças para continuar, exausta e deprimida, Azriel me segurou contra si e um segundo depois estávamos em outra sala. Uma sala menor, privada e aconchegante. Estávamos sentados em um sofá sépia fofo e confortável. Fui embalada pelos braços musculosos do macho que me deitou em seu peito, fazendo-me sentir que aquele era meu lugar no mundo. Fechei os olhos por um instante e tentei inalar o máximo do cheiro dele. Az, o mestre-espião da Corte Noturna, um dos guerreiros illyrianos mais avassaladores que Prythian já viu e um encantador de sombras raro e poderoso, o mesmo Az que parecia o mais reservado dos machos, me embalava em seus braços da forma mais natural e intimista possível. Com uma pureza de chorar, um carinho genuíno por alguém que não parecia ter conhecido há apenas três dias.

__Me sinto péssima por ter arruinado o jantar. — revelei baixinho, ainda de olhos fechados e abraçando Az.

__Você não arruinou nada. — ele respondeu seriamente, mas num tom gentil, e seus dedos percorreram meu cabelo. — Não arruinou absolutamente nada. — reafirmou ainda mais doce.

__Onde todos foram? — questionei, abrindo lentamente os olhos e observando o lugar. Uma estante alta e bonita de madeira maciça e cheia de livros enfeitava de um canto a outro da parede creme da sala; em frente a ela uma mesa redonda com cadeiras enormes, que eu supus terem sido feitas para comportar asas, destacava-se. Dois quadros estavam pendurados na parede ao lado do sofá; um de um pôr do sol alaranjado contrastando com montanhas gélidas e outro de um céu estrelado lindamente iluminado pela lua. A sala pequena e aconchegante era aquecida por uma lareira simples com pequenas espirais douradas contornando-a e notei que o fogo que crepitava ali tinha sido acendido magicamente desde que chegamos.

us | azriel  Onde histórias criam vida. Descubra agora