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FEYRE

As rainhas mortais eram uma mistura de idade, cor, altura e temperamento. A mais velha, usando um vestido de lã bordado do mais profundo tom de azul, tinha uma pele bronzeada intensa, como se tomasse sol todos os dias, o dia todo, os olhos inteligentes e frios, e não andava curvada, apesar das pesadas rugas que lhe sulcavam o rosto. As duas que pareciam de meia-idade eram opostos: uma negra, a outra branca; uma de rosto doce, outra esculpida em granito; uma sorrindo, e a outra franzindo a testa. Até mesmo usavam vestidos em preto e branco — e pareciam se mover como em pergunta e resposta uma à outra. Imaginei como seriam seus reinos, que relações teriam. Se os anéis de prata combinando que cada uma usava as uniam de outras formas. E as duas rainhas mais jovens... Uma talvez fosse alguns anos mais velha que eu, de cabelos e olhos pretos, uma esperteza cautelosa escorrendo de cada poro conforme ela nos avaliava. E a última rainha, aquela que falou primeiro, era a mais bela entre as rainhas. Aquelas eram mulheres que, apesar da elegância, não se importavam se eram jovens ou velhas, gordas ou magras, baixas ou altas. Essas coisas eram secundárias; essas coisas eram como cartas na manga. Mas a última, essa linda rainha, talvez não tivesse mais que 30 anos... Os cabelos selvagemente crespos eram tão dourados quanto os de Mor, e os olhos eram do mais puro âmbar. Até mesmo a pele marrom e coberta de sardas parecia salpicada de ouro. O corpo era firme nos locais em que ela provavelmente descobrira que os homens consideravam uma distração, suave onde mostrava graciosidade. Um leão em pele humana.

__Saudações — falou Rhys, permanecendo imóvel conforme os guardas de rosto impassível das rainhas nos observavam, observavam o cômodo. Enquanto as rainhas nos avaliavam. A sala de estar era enorme o bastante para que um aceno de cabeça da rainha dourada levasse os guardas a se afastar para se posicionarem às paredes, às portas. Minhas irmãs, silenciosas diante da janela da sacada, se moveram para o lado para abrir espaço. Rhys deu um passo adiante. Todas as rainhas inspiraram, como se estivessem se preparando. Os guardas, casualmente, talvez tolamente, levaram uma das mãos ao cabo das espadas longas — tão grandes e ruidosas em comparação às armas illyrianas. Como se tivessem chance... contra qualquer um de nós. Inclusive eu, percebi, um pouco surpresa. Mas eram Cassian e Azriel que fariam o papel de meros guardas aquele dia; distrações. Mas Rhys fez uma reverência com a cabeça, levemente, e disse às rainhas reunidas: — Somos gratos por terem aceitado nosso convite. — Ele ergueu uma sobrancelha. — Onde está a sexta?

A rainha idosa, com o vestido azul pesado e exuberante, apenas respondeu:
— Ela não está bem e não pôde fazer a viagem. — A rainha me observou. — Você é a emissária. — Minhas costas enrijeceram. Sob seu escrutínio, minha coroa parecia uma piada, uma quinquilharia, mas...

__Sim — respondi. — Sou Feyre.

Um olhar súbito para Rhysand.
__E você é o Grão-Senhor que nos escreveu uma carta tão interessante depois que as primeiras foram ignoradas.

Não ousei olhar para ele. Rhys tinha mandado muitas cartas por minhas irmãs àquela altura. Você não perguntou o que havia dentro delas, disse ele, com a mente ligada a minha, gargalhadas dançando pelo laço. Eu tinha deixado os escudos mentais abaixados... só para o caso de precisarmos nos comunicar silenciosamente.

__Eu sou — disse Rhysand, com um ínfimo aceno. — E esta é minha prima, Morrigan.
— Mor caminhou até nós, o vestido carmesim fluía com um vento fantasma. A rainha
dourada a olhou de cima a baixo, a cada passo de Mor, cada fôlego. Uma ameaça: por beleza e poder e domínio. Mor fez uma reverência ao meu lado.

__Faz muito tempo desde que conheço uma rainha mortal. — A rainha vestida em preto levou a mão branca como a lua à altura do ventre.

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