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FEYRE

Um dia e meio atrás.

Meus chinelos de seda se arrastavam na escadaria de mármore, a cauda de chiffon do vestido verde serpenteava atrás de mim. Tanto silêncio. Silêncio demais. Precisava sair daquela casa. Precisava fazer alguma coisa. Precisava ver Helena. Falar com minha irmã e abraçá-la. Precisava conseguir voltar a dançar entre as árvores floridas que ela cuidava com tanto zelo. Tamlin não queria que eu fosse para a floresta... mas também não deixava Helena entrar aqui. E eu ainda não entendia o porquê. Por um segundo, desejei estar na Corte Noturna só para estar na presença de Lena sem qualquer restrição. Precisava sair dessa casa. Se os aldeões não queriam minha ajuda, tudo bem. Eu poderia fazer outras coisas. O que quer que fossem. Eu estava prestes a virar no fim do corredor que dava para o escritório, determinada a perguntar a Tamlin se havia qualquer tarefa que eu pudesse realizar, pronta para implorar a ele, quando as portas do escritório se abriram e Tamlin e Lucien surgiram, ambos pesadamente armados. Nenhum sinal de Ianthe.

— Vai embora tão cedo? — perguntei, esperando que eles chegassem ao saguão. O rosto de Tamlin era uma máscara sombria quando os dois se aproximaram.

— Tem atividade na fronteira com o mar oeste. Preciso ir. — Aquela mais próxima de Hybern.

— Posso ir junto? — Jamais tinha perguntado diretamente, mas...

Tamlin parou. Lucien continuou andando, atravessou as portas abertas da entrada da casa, quase incapaz de segurar um encolher do corpo.

— Desculpe — pediu Tamlin, estendendo o braço para mim. Desviei de seu alcance. — É perigoso demais.

— Sei como permanecer escondida. Apenas... me leve com você.

— Não vou arriscar que nossos inimigos coloquem as mãos em você.

Que inimigos? Conte... conte alguma coisa.
Olhei por cima do ombro de Tamlin, na direção em que Lucien esperava, no cascalho além da entrada da casa. Helena...

Mas ela não estava lá, por mais que eu sentisse sua essência pelo laço. Olhei novamente. Nenhum cavalo também. Imaginei que não eram necessários dessa vez, pois os dois machos eram mais rápidos sem eles. Mas talvez eu conseguisse acompanhar. Talvez esperasse até que partissem e...

— Nem pense nisso — avisou Tamlin. Minha atenção se voltou para seu rosto. Tamlin grunhiu: — Nem tente vir atrás de nós.

— Eu posso lutar. — Tentei de novo. Aquela era uma meia verdade. Certa manha para sobreviver não era o mesmo que uma habilidade treinada. — Por favor.

Jamais odiara tanto uma palavra. Tamlin fez que não com a cabeça e cruzou o saguão até as portas da entrada. Eu o segui e disparei:

— Sempre haverá uma ameaça. Sempre haverá um conflito ou inimigo ou alguma coisa que me manterá aqui.

Tamlin parou subitamente do lado de dentro das imensas portas de carvalho, tão perfeitamente restauradas depois que os seguidores de Amarantha as destruíram.

— Você mal consegue dormir uma noite inteira — disse Tamlin, com cautela.

Repliquei:
— Você também.

Mas ele apenas prosseguiu:
— Mal aguenta estar perto de outras pessoas...

— Você prometeu. — Minha voz falhou. E não me importava por estar implorando. — Preciso sair desta casa.

— Peça que Bron leve você e Ianthe para uma cavalgada...

— Não quero cavalgar! — Abri os braços. — Não quero cavalgar, ou fazer piquenique, e não quero fazer nada com Ianthe. Quero Helena. E quero fazer algo. Então, me leve junto.

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