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FEYRE

Amren levou o Livro para onde quer que fosse sua casa em Velaris, Helena estava com Azriel onde quer que fosse a casa dele e eu fiquei ali, sozinha. Então, comi algo rapidamente e deixei que a exaustão de ter ficado acordada a noite inteira, de ter destrancado aquelas portas e de ter chegado muito perto de morrer me atingisse. Quando acordei, a casa parecia vazia, o sol da tarde estava morno e dourado, e o dia, tão incomumente quente e lindo que levei um livro para o pequeno jardim nos fundos. O sol, por fim, mudou, sombreando o jardim até esfriar de novo. Ainda não estava muito disposta a desistir de seus raios; então, subi os três andares até o pátio do telhado para vê-lo se pôr.

É claro — é claro — que Rhysand já estava sentado em uma das cadeiras de ferro pintadas de branco, com um dos braços jogado para trás enquanto a outra mão segurava casualmente um copo com algum tipo de bebida, e um decantador de cristal cheio da mesma estava na mesa diante de Rhys. As asas estavam abertas às costas, até o piso de azulejo, e me perguntei se Rhys estaria aproveitando o dia incomumente ameno para banhá-las ao sol; depois, pigarreei.

__Eu sei que você está aí — disse Rhys, sem dar as costas à vista do rio Sidra e do mar vermelho-dourado além. Fiz uma expressão de raiva.

__Se quer ficar sozinho, posso ir.

Rhys apontou com o queixo na direção da cadeira vazia à mesa de ferro. Não era um convite entusiasmado, mas... eu me sentei. Havia uma caixa de madeira ao lado do decantador; e talvez eu tivesse pensado que era algum ingrediente para o que quer que Rhys estivesse bebendo, caso não tivesse notado a adaga de madrepérola na tampa. Se não tivesse jurado que sentia o cheiro do mar e do calor e do solo que eram de Tarquin.

__O que é isso? — perguntei. Rhys esvaziou o copo, ergueu a mão — o decantador flutuou até ele em um vento fantasma — e se serviu de mais um dedo antes de falar.

__Debati por um bom tempo, sabe — revelou Rhys, encarando sua cidade. — Se deveria simplesmente pedir o Livro a Tarquin. Mas achei que ele poderia muito bem dizer que não, e em seguida vender a informação para quem fizesse o lance mais alto. Achei que pudesse dizer que sim, e ainda acabaria com pessoas demais a par de nossos planos e com o potencial para que essa informação se espalhasse. E, no fim das contas, precisava que o motivo de nossa missão permanecesse em segredo pelo máximo de tempo possível. — Rhys bebeu de novo e passou uma das mãos pelos cabelos preto-azulados. — Não gostei de roubar dele. Não gostei de ferir os guardas de Tarquin. Não gostei de sumir sem dizer uma palavra, quando, com ou sem ambição, ele realmente queria uma aliança. Talvez até mesmo amizade. Nenhum outro Grão-Senhor sequer se deu o trabalho, ou ousou. Mas acho que Tarquin queria ser meu amigo.

Olhei de Rhysand para a caixa e repeti:
__O que é isso?

__Abra.

Cuidadosamente, abri a tampa. Dentro, aninhados em uma cama de veludo branco, quatro rubis brilharam, cada um do tamanho de um ovo de galinha. Cada um tão puro e de cor tão intensa que pareciam feitos de...

__Rubis de sangue — explicou Rhys. Afastei os dedos que estavam se aproximando das pedras. — Na Corte Estival, quando um insulto grave é cometido, eles mandam um rubi de sangue ao ofensor. Uma declaração oficial de que há um preço sobre sua cabeça, de que agora são caçados e, em breve, estarão mortos. A caixa chegou à Corte dos Pesadelos há uma hora.

__Presumo que um desses rubis tenha meu nome. E o seu. E o de Amren. E o de Helena.

A tampa se fechou com um vento sombrio.
__Cometi um erro — disse ele. Abri a boca, mas Rhysand continuou: — Eu deveria ter apagado as mentes dos guardas e deixado que continuassem. Em vez disso, eu os apaguei. Faz um tempo desde que precisei... me defender fisicamente daquele jeito, e estava tão concentrado no treinamento illyriano que esqueci o outro arsenal a minha disposição. Eles provavelmente acordaram e foram direto para Tarquin.

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