De todas as possibilidades de coisas que eu achava que Maxine poderia querer me falar, eu acho que aquela seria possivelmente a última a passar pela minha cabeça, e olha que muitas coisas costumam passar pela minha cabeça. Eu achava que ela ia explicar o motivo dela ter saído do festival tão repentinamente, mas não. Eu acho que nunca saberei o motivo dessas fugidas repentinas que ela sempre dá e nunca parece querer explicar, algo que já deve ser próprio dela mesmo.E uma das muitas coisas que eu queria entender sobre ela.
— Quê? — Ela virou de costas e pôs ambas as mãos na nuca, juntando os cotovelos à frente da cabeça e suspirando, como se tivesse falado algo de que acabou de se arrepender. Eu sentia o suspiro dela daqui, foi pesado.
— Nada, não. Deixa pra lá, é estúpido. — Ela falou, forçando uma risada com a voz um pouco trêmula, e começou a andar até a porta, ignorando o que tinha acabado de acontecer. — Vamo voltar antes que o sinal toque e os professores comecem a vir pra cá.
— O que é estúpido? — Andei até ela e a virei de frente pra mim.
Maxine estava tão vermelha que parecia aquelas crianças de filme fingindo estar doentes colocando uma toalha com água quente na cabeça. Ela estava com os olhos trêmulos também, quando olhou pra mim. Parecia não saber pra onde olhar, o que fazer, o que dizer, olhos de ping-pong, pulando de um lado pro outro, pretos como dois buracos negros sugando toda a minha atenção.
— O que é estúpido? — Perguntei de novo. Ela olhou pela janela.
— Nada. Vamos, esquece o que eu falei. — Ela se virou pra voltar a andar até a porta.
Nesse momento, ouvimos passos no corredor. Passos de salto. Tec tec tec tec tec, que nem um pica-pau. E outros passos, de sapatos normais. Max olhou de soslaio pela pequena janela de vidro que tinha na porta, bem no cantinho.
— Merda, tem gente vindo! — Maxine olhou ao redor da sala, rapidamente.
— O que a gente faz? O que a gente faz? — Meu coração começou a bater forte, não era pra gente estar ali, naquela hora. Principalmente eu, que não tenho nada a ver com a banda. Maxine ainda teria uma desculpa, mas e eu?
— Vem! — Max sussurrou, me puxando pela mão tão rápido e com tanta força que meu corpo foi com ela mas a cabeça ficou.
Entramos no armário dos instrumentos e Max fechou a porta tão devagar quanto pôde, pra evitar o barulho. Nos sentamos no cantinho, entre estantes cheias de tralha, e só tinha uma janela, deixando apenas um pouco de luz entrar. Eu observei a poeira pairando no ar caindo sobre os instrumentos e sobre nossas pernas.
Nossas respirações fortes entraram em um consenso enquanto os passos se aproximavam e eu e Maxine ficávamos nos olhando esperando qualquer coisa de ruim acontecer ali. Acho que nossos corações batiam no mesmo ritmo também.
Olhamos para a porta do armário no mesmo momento, quando a porta da sala se abriu em um estrondo, batendo na parede.
— Opa, foi sem querer! — Disse a voz de um menininho.
— Ethan, eu já te falei pra parar de abrir as portas, é o trabalho da moça, a gente não pode sair abrindo portas por aí! — Disse a voz de uma mulher. — Peça desculpas! Sinto muitíssimo, senhora Davies, ele quis porque quis vir conhecer a futura escola da irmã.
Segurei a mão de Maxine, estava nervosa. E se o menino viesse abrir o armário?
Ela apertou minha mão e olhou pra mim, acho que pensamos a mesma coisa.
— Desculpa, senhora Davies. — Disse o menino.
— Não tem problema algum. — Outra voz feminina surgiu, antipática. — Esta é a sala de música. Você disse que praticava violino, não, Olivia?
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A Vida Absolutamente Ordinária de Amanda Pritchett ⚢
Teen FictionAmanda Pritchett tem 15 anos, pais recém-divorciados, uma irmã de 11 anos, um costume antigo de rabiscar e fazer colagens, uma imaginação tão fértil que talvez seja um pouco preocupante, uma luz noturna infantil e vontade de beijar garotas. Após o d...