Fiquei um pouco nervosa com a conversa e pelo meu pedido ter sido aceito tão rápido, eu estava contando com, sei lá, mais alguns dias pra ela ver aquilo e pensar se valia a pena aceitar. Mas ela não apenas aceitou como me seguiu de volta e me chamou pra almoçar com ela na escola. Ela disse que tinha uma amiga com quem achava que eu me daria bem.
Bom, bem-vinda ao meu mundo de compartilhar vídeos de gatos e de gente se ferrando, Raven, por favor, não se assuste, às vezes tem comentários sarcásticos no meio da bagunça, não note.
Então era isso. Eu tinha furado meus olhos com agulhas de crochê, girado até ficar tonta e tropeçado numa direção desconhecida que eu não sabia se subia, descia ou continuava em linha reta. Era basicamente assim que eu tomava decisões na minha vida.
Durante o fim de semana, fiz algumas atividades da escola que deveria apresentar na semana seguinte numa cartolina com as respostas de um lado e o comparativo do outro e joguei videogame. Bom, foi basicamente isso mesmo.
Ok, não exatamente. Eu também fiquei olhando durante alguns minutos a página inicial do perfil de Jamie, sem fazer mais nada, apenas pensando se deveria seguir ou continuar anônima. Ver a foto de perfil dela e a foto de capa, que era de umas pinturas de flores meio surrealistas, com pessoas muito magrinhas no lugar dos estigmas e das anteras, me fazia sentir meio nervosa, por algum motivo.
Eu me tocava que, por trás daquele perfil, estava ela, ela mesma, em carne, osso, cabelos, shampoo cítrico, rímel, lápis de olho, olhos amendoados, piercing no septo, unhas pintadas de tons neutros, risada causada por uma pipoca caída no olho, incapacidade de acertar de primeira a boca quando bebe água no bebedouro, cara de raiva quando está concentrada, mochila roxa. Ela, de algum lugar, estava abrindo o perfil dela como eu estava com o meu aberto porque ela existia numa realidade totalmente diferente da minha, e, ainda, tão perto de mim.
Mas eu não entendia o motivo de eu ter criado esse nervosismo quando via a mochila dela lá longe no corredor, quando a via escrever no caderno, quando me perguntava se ela preferia grafite, caneta preta ou caneta azul, se ela era do tipo que usava várias canetinhas coloridas, quando a via estar no centro das atenções sem prestar atenção em nada, quando via que quem falava pelos dois era só ele e como ela parecia se apagar no meio de tanta gente, quando esperava pelo dia em que ela esquecesse as canetas em casa e precisasse pedir emprestado... pra mim, de preferência, mesmo que as minhas fossem mastigadas.
Abri a barra de pesquisas do celular. "Quando você pensa muito em alguém, a pessoa sabe?". "Causas de ansiedade". "Do que é feita tinta de caneta?". "Se eu acidentalmente engolir tinta de caneta, eu morro?". "Por que ela me deixa nervosa?". "A bolinha na ponta da caneta tem nome?".
Um dos links que eu encontrei era: "pensar muito em alguém faz a pessoa também pensar em você?". Eu não tinha parado pra pensar nisso. E se a razão de Jamie também olhar pra mim de vez em quando for porque eu estou, de certa forma, a forçando a fazer isso?
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A Vida Absolutamente Ordinária de Amanda Pritchett ⚢
Ficção AdolescenteAmanda Pritchett tem 15 anos, pais recém-divorciados, uma irmã de 11 anos, um costume antigo de rabiscar e fazer colagens, uma imaginação tão fértil que talvez seja um pouco preocupante, uma luz noturna infantil e vontade de beijar garotas. Após o d...