CAP 52 - A segunda pulseira colorida desgastada

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Durante todo o dia eu não consegui prestar atenção em nada. Fiquei o tempo todo tentando evocar qualquer memória que eu tivesse sobre Londres, parques de diversão, viagens e Maxine. Mas eu não conseguia. Não havia nada. Era como tentar cavar no asfalto.

Antes de ir dormir, falei ao meu pai que não ia voltar no domingo. Não queria. Não estava pronta pra ver mamãe de novo, pra falar sobre todas as coisas de novo. Mas também tinha certeza de que não queria ficar aqui em Vansmourth. Não era o meu lugar. Nunca foi. Eu teria que voltar alguma hora. Eu tinha que dar um fim a isso em algum momento.

Eu fiquei assim até quarta-feira, quando fazia quase uma semana que eu estava lá.

Na quarta-feira, eu não estava conseguindo pensar em mais nada. Papai tinha dito que eu conheci uma garota igual a Maxine numa viagem a Londres que eu não me lembrava de ter feito mas Maxine tinha negado que a gente se conhecia. Papai não tinha motivos pra mentir pra mim,  então por que Max estava mentindo?

Se eu conhecia Maxine antes, eu precisava saber. Precisava entender porquê ela estava mentindo pra mim. Porquê papai se recusava a falar sobre. Porquê eu não lembrava.

Me levantei do chão, onde estava encostada na cama jogando no meu celular sem muito propósito. Tinha passado um pouco das 6 da tarde. Desci as escadas como um cavalo galopando livremente no meio da relva, com sua crina voando pra trás. Exceto que eu mal tinha cabelo. Vovó estava assistindo novela e Niyati tinha saído com Kabir. Eu não sabia onde papai estava.

— Daadee. — Eu chamei vovó. — Você sabe onde paapa está?

— Lá atrás, Shahad. — Ela disse sem tirar os olhos escuros da televisão.

Fui até o quintal quase correndo, abrindo a porta em um supetão.

— Pai. — Ele olhou pra mim. Estava fumando sentado numa cadeira.

— Amanda? 

— Pai, você tem algum álbum de fotos, alguma caixa com lembranças da gente? — Ele pensou um pouco.

— Tenho, sim. Umas coisas que sua mãe não quis ficar. — Ele apagou o cigarro.

— Onde estão?

— No seu quarto. Em alguma caixa lá em cima do guardarroupa.

Eu saí correndo pelo quintal, atravessando a porta de vidro, subindo as escadas dois degraus por vez. Meu coração batia tão acelerado e eu respirava tão rápido que tudo parecia passar em câmera lenta. Empurrei a porta escura do quarto onde eu estava dormindo todos esses dias e pulei sobre a mala que ainda estava no meio do chão, puxando uma cadeira de rodinhas da escrivaninha logo ao lado e me equilibrando num pé só pra conseguir alcançar a parte de cima do armário.

Tinha muitas caixas. Ok, não tantas assim. Tinha umas 5.

Na primeira havia várias roupas velhas.

Na segunda havia várias revistas de fofoca em hindi e cacarecos da minha avó.

Na terceira havia...

Depois de tudo que Max tinha dito, como eu pude ser tão burra? Como é que isso passou voando na frente da minha cara? Tudo bem, também tinha passado na minha cara que ela era afim de mim e eu não percebi. Idiota, idiota, idiota!

Álbuns pequenos de fotos. 

Souvenirs de Londres.

Um guaxinim de pelúcia pequeno.

Tickets nunca usados.

E uma.

Uma pulseira colorida desgastada com um "M" escrito em canetinha.

Uma pulseira colorida desgastada com um "M" escrito em canetinha

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A Vida Absolutamente Ordinária de Amanda Pritchett ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora