CAP 25 - Sociedade Anônima dos Cordões Rasgados

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— Chegamos. — Brooke falou, virando o rosto pro lado para que eu pudesse escutar. Seu cabelo cacheado entrou um pouco no meu campo de visão, alaranjando mais ainda o outono.

— Chegamos? — Eu ainda não estava vendo o parque. Ainda não tinha me acostumado com o mapa daquela cidade. O que me fez pensar que talvez eu devesse andar com um. Péssima ideia.

— Aham. — Imediatamente, ela virou outra esquina e eu vi o festival acontecendo mais pra frente.

Quando viramos a esquina, Ray estava diminuindo a velocidade e descendo na calçada enquanto Max fazia o skate saltar pra cima, pegando no ar. Parecia que elas tinham chegado apenas alguns segundos antes. Maxine olhou pra trás, pra mim, enquanto eu e Brooke nos aproximávamos e Raven prendia sua bicicleta no bicicletário.

— Pode descer, eu vou prender a bicicleta e já volto. — Brooke falou pra mim, diminuindo a velocidade para que eu pulasse na calçada acinzentada cheia de matinhos e florzinhas que cresciam nos cantos mais inóspitos e eu achava isso uma das belezas mais subestimadas do mundo. A capacidade das florzinhas crescerem na calçada. Uma das belezas mais subestimadas do mundo.

— Tá bom mas como desce? — Ela riu um pouco, olhando pra mim. Eu olhei pra ela de volta.

— Do jeito contrário que você subiu, só pula. — Preciso confessar que sentia um pouco de medo daquela corrente, se meu uniforme prendesse e rasgasse minha mãe me matava.

Mas eu tinha decidido me esforçar pra ser outra pessoa, e isso incluía não ter medo de prender e rasgar a calça da escola na corrente da bicicleta da menina que eu beijei algumas vezes numa festa que eu fui sem ser convidada porque agora eu beijava uma menina e isso me dava muito mais medo do que rasgar a calça da escola na corrente da bicicleta, mas eu beijava mesmo assim. Então rasgar a calça era a menor das minhas rebeldias.

De qualquer forma, eu pulei da bicicleta e não rasguei a calça, mas eu poderia ter rasgado. Me desequilibrei um pouco na calçada, apenas, e Brooke continuou pedalando por mais alguns metros até o bicicletário.

— Oi, Max. — Eu disse, expirando forte enquanto pulava. Ela sorriu, me olhando de lado e tombando o tronco um pouco pro meu lado.

— Pronta pra perder hoje, Mad? — Ela falou, um pouco baixo. Eu estranhei o apelido, mas não ia perguntar de onde ele tinha vindo, eu gostava de ter um apelido novo e diferente.

— Por que pra tudo você precisa criar uma competição, Maxine? Sinceramente. — Raven andava na nossa direção, cansada e com a mochila nas costas. Max estava pronta pra responder quando Ray continuou. — Não sei por que você ainda tenta se sempre perde pra mim.

Max abriu a boca e arqueou as sobrancelhas, jogando a mochila preta em cima de Raven, que riu. Eu sorri junto.

— Eu preciso me encontrar com o pessoal da banda antes da competição, se eu chegar atrasada de novo eles me matam, não ironicamente. — Brooke se aproximou, ajeitando a própria roupa e afrouchando a gravata. Max olhou pro lado, pro parque, provavelmente vendo o que tinha pra fazer naquele dia. Tinha uma placa com horários logo na frente.

— E quando você fica livre? — Perguntei.

— Só depois que saírem os resultados, todo mundo precisa ficar por lá pra garantir que ninguém vai acabar se esquecendo ou não se ligando no horário. Pontualidade não é exatamente o meu forte.

— Então daqui a umas 3 horas? — Ray apertou os olhos por trás dos óculos pra conseguir ler a placa.

— Aham. Por aí. — Ela olhou pra mim. — Te procuro do palco, tá?

A Vida Absolutamente Ordinária de Amanda Pritchett ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora