Eu estava muito animada com as fotos que tinha tirado naquela noite. Mamãe disse que poderíamos revelar na próxima semana, junto com as fotos do aniversário de Jess, que tinha sido há um mês, dia 08 de agosto. Eu já sabia que tipo de desenhos e colagens eu queria fazer com (quase) todas elas e o que eu ainda não soubesse, eu inventava. Era boa em me virar e até gostava de ter que fazer algumas coisas sem planejamento.
Bom, na verdade, eu não me planejava muito e nem era boa em seguir projetos, de um jeito que, quase sempre, algo que estava bem orquestrado na minha cabeça, ao ser executado, acabava 100% diferente do que eu tinha imaginado, mas isso nunca me impediu de fazer planos que não me levariam a canto algum. Era até divertido descobrir de quais jeitos meu cérebro esperava conseguir me frustrar.
Quando chegamos em casa, Jess fez seu dever, colocou seu pijama azul, branco e rosa com desenhos de vaquinhas gordas e depois foi dormir. Mamãe guardou os restos do jantar na geladeira e sentou no sofá. Ela sacou o celular e ficou mexendo nele por um tempo antes de pegar umas revistas pra ler e fez uns comentários em voz alta sobre essa geladeira nova que ela viu no catálogo.
— Por que a gente só não trouxe a lá de casa? — Perguntei enquanto vestia minha calça quadriculada azul marinho pra dormir.
— Nossa geladeira já estava velha, precisaríamos de outra dentro de alguns meses, aquela é mais velha que você. Talvez ela agregue mais valor à casa quando conseguirmos vendê-la. E eu não a queria aqui. — Ela fechou a revista e olhou pra mim por baixo dos óculos. — A gente vai poder falar que a casa já vem com geladeira. Ela tá em bom estado pra idade dela, só não gela como deveria e gasta mais energia do que antes.
— Mas as pessoas não deveriam saber que ela não presta mais? — Tirei o par de camisas que tinha vestido antes e as troquei por uma camisa branca muito larga, que eu roubei de papai e ele, aparentemente, nunca se deu pela falta dela. Tinha um desenho bem desgastado de um carro vermelho desses antigos, um sol e umas pessoas bebendo encostadas no carro.
— Ela dá pro gasto por algum tempo, que nem a que a gente tem aqui agora, suficiente pra dar pra organizar o principal da mudança e se preocupar com isso depois.
— Você lembra de quando é essa camisa? — Puxei o desenho desgastado pra frente.
— Da época da faculdade. — Ela disse, seca. Não gostava de falar do papai e nem da época em que eles eram felizes. Ou tristes. Não gostava de lembrar da existência dele, pra todo o caso. Ela se levantou e deixou a revista sobre a mesa de centro. — Vou dormir, você não demore muito, se não seu sono vai ficar todo desregulado de novo.
Eu deveria contar a ela que ele nunca foi regulado?
Mamãe se fechou em seu quarto e pouco tempo depois a luz que escapava pela fresta da porta se apagou, se seguindo a uma música clássica tocando de seu celular. Mamãe gostava de ver vídeos de gente pintando até ficar com sono. Geralmente esses vídeos eram acompanhados por músicas clássicas. Depois, ela colocava uma mecha de cabelos sobre os olhos e se virava de lado pra dormir.
Na madrugada da sexta pro sábado, eu fiquei jogando Skylights. Parei dentro de duas horas de jogo, na parte em que o principal, Moe, está escoltando a Josie com a Eleonore até a antiga prefeitura, fugindo das luzes que surgiam do céu e ficavam varrendo a terra à procura de coisas vivas pra sequestrar, mas tem um buraco enorme no meio do caminho e eu descobri que precisaríamos dar a volta. Mas que merda, hein.
Eu gostava de Josie, ela era meio parecida comigo, estava animada pra jogar a parte II e Final Darkness porque ia dar pra jogar com ela.
Pausei o jogo, abri a porta do quarto como se houvessem zumbis à espreita que pudessem escutar meus passos sobre o chão amadeirado que fazia crec e nhém e fui até a cozinha andando nas pontas dos pés. A luz da geladeira piscou quando a abri pra beliscar um pouco do resto do burrito que eu não tinha conseguido terminar de comer mais cedo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Vida Absolutamente Ordinária de Amanda Pritchett ⚢
Teen FictionAmanda Pritchett tem 15 anos, pais recém-divorciados, uma irmã de 11 anos, um costume antigo de rabiscar e fazer colagens, uma imaginação tão fértil que talvez seja um pouco preocupante, uma luz noturna infantil e vontade de beijar garotas. Após o d...