Em pouco tempo chegamos ao cinema em estilo antigo, com suas colunas cheias de desenhos, pôsteres de filmes debaixo de luzes brancas e a bilheteria com uma cortininha vermelha aberta, expondo um homem por trás do vidro.
Eu desci em frente à porta e Brooke estacionou a bicicleta verde logo ao lado do cinema, passando a correntinha com chave num daqueles postes curvos pra parar bicicletas que eu não sei o nome e nem vou me preocupar em pesquisar ou perguntar agora.
— Esse aqui que eu tava falando, "Alarme de Invasão". É ficção científica, parece bem legal. — Brooke apontou para um cartaz com naves espaciais e cometas e estrelas e planetas e armas de laser que fazem "piu piu". Ela olhou pra mim com olhos verdes brilhantes e redondos, animados, o cabelo curto ruivo e ondulado todo bagunçado depois de andar de bicicleta.
— Eu gosto de ficção científica. — Acho que Maxine tinha medo de filmes de terror e não admitia pra ninguém.
— Massa. — Brooke sorriu e a gente foi em direção à bilheteria. Eu deveria ter ajudado Max a se levantar, ter perguntado se tava tudo bem.
Será que ela tava com raiva de mim? Eu não me toquei disso na hora, não foi por mal.
Assim que compramos os tickets, entramos no cinema pelas portas duplas de metal escuro e frio. O cheiro de pipoca e de carpete velho e sujo, cheio de mofo, me impactou. Fazia muito tempo que eu não ia a um cinema. Ninguém nunca tinha me chamado pra ir, eu só ia de vez em quando com Jess, mamãe e papai quando eles ainda eram casados.
Eu não gostava de Brooke assim, ver ela não fazia meu estômago revirar, tocar nela não me fazia brilhar como um vagalume em tons neons. Mas eu não sabia o que mais eu poderia responder quando ela me chamou pra vir. Ela veio de Riverside pra cá, só pra me ver.
Acho que Max não é do tipo que chama pra ir ao cinema.
— Você quer pipoca? — Brooke perguntou, olhando pra mim.
— Hã?
— Pipoca. A daqui é muito boa, todo mundo fala. Tem gente que vem só pra comprar pipoca. — Assenti. O carpete no piso tinha formatos triangulares em tons de azul e as paredes eram vermelhas.
— Pode ser, um lanche é bom. — Ela sorriu e pagou pela pipoca. Ela tinha um sorriso tão bonito, ia de um canto ao outro, reluzente. Eu sentia que toda vez que ela sorria ela realmente queria estar sorrindo, não como eu. Ela me entregou a pipoca.
O cheiro de pipoca subiu sibilante até o meu nariz. Quente. Salgado. Amanteigado. Eu sentia que queria me derreter em um balde quente de pipoca, que nem a manteiga, que talvez meus problemas desaparecessem. Meus pais voltariam a ficar juntos, eu não teria problemas sociais e de ansiedade, eu não gostaria da minha melhor amiga de um jeito lésbico, eu sorriria verdadeiramente todas as vezes.
— Prova uma. — Brooke colocou uma pipoca na minha boca. Fazia muito tempo que eu não comia pipoca. Muito mesmo.
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A Vida Absolutamente Ordinária de Amanda Pritchett ⚢
Teen FictionAmanda Pritchett tem 15 anos, pais recém-divorciados, uma irmã de 11 anos, um costume antigo de rabiscar e fazer colagens, uma imaginação tão fértil que talvez seja um pouco preocupante, uma luz noturna infantil e vontade de beijar garotas. Após o d...