Olhando pro chão, sempre olhando pro chão, passo após passo. Assim eu não corria o risco de fazer contato visual. Mas aí você me pergunta: "Amanda, por que você não quer fazer contato visual?". Então.
Existem dois tipos de pessoas com quem eu costumo me encontrar nas filas de qualquer coisa: o primeiro tipo não olha na minha cara e costuma ficar bem longe de mim, o segundo tipo, composto por menos gente do que o primeiro, mas que, ainda assim, existe, é o seguinte:
Já se perguntou como algumas pessoas fazem amizades momentâneas que duram menos tempo do que um chá leva para esfriar? Elas se olham, se observam. Minha mãe, por exemplo, quando nos leva para o supermercado, é uma dessas tias que chama desconhecidos pra conversar e falar sobre como seu ex-marido só falava merda, como anda o processo de mudança e o que está achando do emprego. Minha mãe é esse tipo de tia em quem eu também odeio esbarrar.
Na verdade odeio esses dois grupos de pessoas.
Tia, acho incrível que sua cirurgia de retina tenha dado certo, mas eu só queria mexer no celular agora mesmo. Pelo amor de Deus, são 5 minutos nessa fila. Só 5 minutos que você tinha que ficar em silêncio, tia.
Desde que eu descobri o método de não olhar pra frente, minha vida tem se tornado mais fácil. Se você evita contato visual, a maioria das pessoas já saca que tu não tá muito afim de conversar e te deixa em paz, então eu só precisava lidar com a sensação desgastante de saber que tinha gente existindo perto de mim. Claro que tem umas avós que te cutucam como pica-paus e você precisa avisar que você não é um carvalho cheio de bichinhos.
Pelo menos eu acho que não.
Minha mãe já me avisou sobre como é rude não olhar pras pessoas, que às vezes elas só estão se sentindo sozinhas e precisam conversar, ela me avisa o tempo inteiro para levantar a cabeça. Mas eu não poderia estar menos preocupada sobre se eu pareço ser rude ou não. Eu não sou obrigada a ficar desconfortável em conversar com um desconhecido só pra não parecer mal-educada.
Eu sei que sou educada e sei seguir os padrões culturais de educação quando necessário. Só não acho que seja necessário fingir que me importo com os sentimentos de alguém que claramente não se importa se eu me sinto confortável em conversar ou não, principalmente se essa pessoa não me conhece e se eu não devo nada a ela. Se eu posso ficar quietinha no meu canto, eu vou. Lide com isso.
Ou é isso que eu gosto de pensar. Na maior parte das vezes, quando eu não penso muito sobre o que estou pensando, eu apenas sinto que qualquer coisa que eu faço vai fazer todo mundo me odiar e caçoar de mim até eu literalmente morrer de vergonha. Literalmente, sabe? Morrer mesmo, tipo derreter e escorrer pelo cantinho da rua onde alguns carros passam os pneus por cima e molham pessoas em paradas de ônibus no meio de uma chuva. Aquilo tem um nome (tudo tem um nome), mas eu não me lembraria agora.
Segui reto pelos corredores, levantando a cabeça ocasionalmente para procurar um banheiro e limpar o rosto antes de seguir para a sala da primeira aula: história, me perdendo algumas vezes por ter dobrado no lugar errado ou passado da esquina onde eu (supostamente) deveria dobrar.
Eu estava no bloco central, ou bloco A, ou, e eu prefiro, "Casa do Anticristo" (porque a planta baixa do prédio tinha o formato de uma cruz invertida), onde ficavam a direção, uma grande praça com árvores e um gramado bem grande, a cafeteria, o auditório, as salas de reuniões, salas de culinária, educação sexual, educação religiosa e essas outras matérias básicas de sociedade e trabalho e também a biblioteca central. Todas as outras disciplinas eram separadas em blocos específicos.
As salas e os laboratórios de ciências, física, química, escotismo, navegação, mineralogia e biologia, assim como a biblioteca de ciências, ficavam no bloco C (que eu apelidei de Museu de Assombrações porque tinha muitos laboratórios com esqueletos), ou Bloco das Ciências da Terra; as salas e laboratórios de matemática, finanças, computação e introdução às engenharias mecânica, elétrica e civil, com sua biblioteca, ficavam no bloco das ciências exatas, B (sem apelido porque, sinceramente, era apenas um bloco que não chamava atenção); as salas de debates, oratória, história, geografia, escrita, legislação e administração ficavam no bloco das ciências humanas, D (Caixa de Sapato, porque parecia uma caixa de sapato), assim como a biblioteca de ciências humanas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Vida Absolutamente Ordinária de Amanda Pritchett ⚢
Teen FictionAmanda Pritchett tem 15 anos, pais recém-divorciados, uma irmã de 11 anos, um costume antigo de rabiscar e fazer colagens, uma imaginação tão fértil que talvez seja um pouco preocupante, uma luz noturna infantil e vontade de beijar garotas. Após o d...