Minha mãe estava com cara de poucos amigos. Braços cruzados, cabelo desarrumado como sempre está quando ela está em casa. A casa estava com cheiro de louça na pia, estática de televisão velha, poeira de sofá velho, carpetes novos, acinzentados, e de Amanda prestes a ser trucidada.
— Que foi? — Parei, com a porta ainda a metade do caminho de ser fechada, a mochila no ombro esquerdo, a roupa de Brooke amassada embaixo da mochila. Rolei os olhos de um lado pro outro, com o corpo paralisado, realmente sem entender nada, sentindo tantas coisas que eu acabei sem sentir nada. A pergunta só pareceu deixar minha mãe com mais raiva.
Naquele momento, não dava mais pra esconder meu cabelo, os arranhões no rosto. Tudo que dava pra fazer era mentir.
E eu era péssima nisso. Ou seja, não havia nada que eu pudesse, realmente, fazer.
— Olha a hora, Amanda! E o que foi esse seu cabelo? Tá horroroso! — Minha mãe disse - bom, gritou - enquanto deu alguns passos na minha direção. Eu fiquei morrendo de medo de apanhar de novo em casa, o roxo na minha barriga ainda tinha doído um pouco o dia inteiro. Automaticamente me afastei, com medo dela ver meus machucados. — E o que aconteceu que você apareceu com a cara toda arranhada? Você tinha dito que só ia sair com suas amigas, que diabos aconteceu com você?
Vi a cabeça de Jessica aparecer no cantinho da porta do quarto dela, espionando, calada. Pilantrinha.
— Eu avisei que eu ia pro Festival!
— SIM, QUE VOCÊ IA PRO FESTIVAL, NÃO QUE IA PARTICIPAR DE UM TORNEIO DE LUTA LIVRE E SE JUNTAR A UMA BANDA DE PUNK-ROCK!
— Eu me arranhei porque eu caí enquanto eu e minhas amigas corríamos lá no parque, mãe, e... eu... quis cortar o cabelo lá também.
Eu falei, olhando ao redor e brincando com os fiapinhos da minha mochila. Minha mãe suspirou muito pesadamente e cobriu os olhos com o polegar e o indicador.
— E essas roupas, Amanda? De onde vieram? — Ela juntou as mãos na frente do rosto e respirou durante algum tempo.
— Foi... ahm... a gente... eu... — Lembrei que Maxine mora perto do parque onde está tendo o festival. — Eu... ahm... tenho uma amiga que mora... perto do festival, acabei sujando a minha roupa... meu uniforme... quando eu caí e me arranhei... né? E ela disse que eu podia trocar a roupa... lá.
Minha mãe me olhou de cima a baixo e suspirou de novo, revirando os olhos. Ela estava muito obviamente esgotada e sem energia pra discutir.
— Certo, agradeça a ela e me dê seu uniforme pra eu lavar.
— Ela vai lavar na casa dela e me entregar depois.
— Melhor ainda. — Ela começou a andar na direção do quarto dela, em passadas muito lentas e com pouca energia. — Tem umas batatas, carne e molho no fogão, tem chá na chaleira em cima da mesa. Tome chá, faz bem pra esses arranhões.
Eu suspirei aliviada que tudo tinha ido mais ou menos bem. Senti as pernas curtas das mentiras saírem correndo pela minha boca enquanto eu falava, com seus pequenos pezinhos gelados.
— Você não faça mais isso, Amanda. Você sabe sua hora de voltar pra casa, horários foram feitos para serem cumpridos. — Ela disse, já dentro do quarto dela, enquanto fechava a porta.
— O que aconteceu de verdade? — Jess saiu de seu quarto perguntando. — Você mentiu.
— Parece que temos uma Sheroque Holmes no recinto. — Joguei a mochila no meu quarto e fui até a cozinha. Um chá quente era, realmente, o que eu estava precisando. Pus o chá na xícara que tinha escrito "Londres" com uma foto do Big Ben e de cabines de telefone e ônibus, o tipo de coisa que turistas compram, junto com um pouco de leite. Mexi com o dedo.
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A Vida Absolutamente Ordinária de Amanda Pritchett ⚢
Teen FictionAmanda Pritchett tem 15 anos, pais recém-divorciados, uma irmã de 11 anos, um costume antigo de rabiscar e fazer colagens, uma imaginação tão fértil que talvez seja um pouco preocupante, uma luz noturna infantil e vontade de beijar garotas. Após o d...