CAP 07 - ESBARRE EM MIM SEM QUERER, MAS QUEIRA, POR FAVOR

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No outro dia, acordei às 7:00 com a esperança de um dia melhor. Afinal, a bateria do meu celular estava em 100%. Para mim, aquilo era o suficiente para me levar sem maiores problemas através dos intervalos, dava pra me esconder nos banheiros e jogar qualquer coisa no celular ou ver vídeos de gatinhos sendo bobos.

Naquela manhã, não vi minha mãe sair do quarto, ela deveria ter ido mais cedo. Então, eu levei Jess até sua escola, que ficava praticamente do lado da minha. Por sorte, morávamos perto da Academia, então seria mais tranquilo ir a pé.

Cheguei em um bom horário. Os estudantes se acumulavam em filas desengonçadas para entrar através dos portões sendo inspecionados bem por cima por 3 pessoas que trabalhavam na Academia, pra ver se todo mundo estava dentro dos códigos de moralidade, e eu me dirigi à Casa do Anticristo. Minha primeira aula seria de educação sexual. Logo depois, religião, arte e design, inglês, cidadania e sociedade e computação. Arrumei a mochila nas costas e parti olhando para o chão.

Chegando à sala, reconheci os rostos dos dias anteriores. Já que educação sexual era um componente curricular obrigatório aqui, agora, todo mundo tinha que se matricular. 

Raven estava sentada ao lado da amiga dela, que ela já tinha falado o nome mas eu esqueci, Jamie estava ao lado de Jonathan, rodeados por gente. Jonathan não parava de falar por um segundo, mas Jamie parecia meio desconfortável e ficava desviando o olhar entre os arredores e as próprias mãos, de vez em quando ria um pouco atrasada da maioria do grupo, como se tivesse percebido que todo mundo estava rindo e ela precisava rir também.

O Bolo de Aniversário da Bela Adormecida também estava lá, sentado em uma cadeira na frente, um lugar bastante interessante para ficar durante uma aula de educação sexual. Ele parecia mais novo do que todo mundo, tinha cabelos cacheados castanhos cor de pão assado passando da orelha, bochechas gordinhas, olhos castanhos-claros muito inocentes e pele branca, levemente rosada, um pouco queimada pelo sol. 

Eu me perguntava se ele se sentiria ofendido se conseguisse ler meus pensamentos e descobrisse que eu o chamo desse jeito.

O professor entrou na sala, fez a chamada e começou a falar algumas coisas que eu, sinceramente, não prestei atenção. Meus olhos flutuavam em direção aos de Jamie, que me olhou de volta com olhos assustados, e eu desviei o olhar, envergonhada. Jonathan passou um bilhete para Jamie, que leu e sorriu para ele de uma forma meio nervosa.

Eu não consegui entender o motivo de, sempre que estávamos no mesmo ambiente, a primeira pessoa que eu olhava ao redor pra procurar (logo eu, que sempre olhei pro chão) fosse sempre ela, mesmo que as únicas palavras que ela tivesse me direcionado fossem "opa" e "desculpa", o que não dava pra considerar nem uma interação, propriamente dita. 

Eu só sentia uma espécie de conforto desconfortável tão inexplicavelmente grande quando os professores chamavam o nome dela e ela respondia com aquela voz macia, quase aveludada, que estava presente. Se a voz dela tivesse uma textura, seria daquele edredom que, de tanto usar, já parece fazer parte da sua própria pele.

Sim, ela estava presente, ela existia. Aquele momento existia e eu existia na mesma existência dela.

Eu fiquei observando como ela ficava desconfortável com o assunto da aula e ficava sem saber o que fazer com as próprias mãos, como se, de repente, elas lhe parecessem alienígenas ao próprio corpo. Ela cerrava um pouco as sobrancelhas, como se estivesse confusa, segundos antes de espirrar. 

E pelo resto da aula ela olhava pra mim de vez em quando, mas ambas desviávamos os olhares no exato segundo em que os brilhos de nossos olhos se travavam como espadas em batalha. Ela anotava coisas no caderno com a mão direita. Ela era destro. E ela gostava de apoiar a cabeça meio de lado na mão esquerda enquanto escrevia, fazendo a bochecha esmagar os olhos dela. E ela inspirava profundamente meio do nada.

A Vida Absolutamente Ordinária de Amanda Pritchett ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora