Depois que eu falei aquilo, um silêncio se seguiu. Não um silêncio desconfortável, era mais como um momento de união, compreensão e apoio, algo que amontoado de palavras nenhum poderia fazer. Jamie tinha parado de chorar e agora olhava pra mim como se procurasse alguma coisa por trás dos meus olhos cor de céu sem nuvens.
Ela me abraçou e apoiou a cabeça no meu ombro, suspirando por alguns segundos enquanto eu acariciava gentilmente suas tranças. Ela pegou minha mão esquerda e começou a desenhar uma espiral no torso da minha mão. Seus dedos eram finos e macios, com unhas quase sem esmalte.
— Obrigada. Por me deixar ficar com você. — Peguei seus dedos e observei que o pouco esmalte que restava era rosa clarinho com brilhos furtacor.
Encostei minha cabeça sobre a dela, que continuava no meu ombro.
— Nada. Desculpa ter causado todo esse problema.
— Você? — Ela se afastou, olhando pra mim. — O que você fez? Nada disso é culpa sua. É culpa dele, dos amigos dele e das meninas.
— É sim. — Olhei pra ela de volta. — Se eu não tivesse ficado afim de você, nada disso teria acontecido.
Ela sorriu. Eu nunca tinha falado nada do tipo pra ninguém, mas agora que todos aqueles sentimentos tinham passado, eu conseguia falar sobre isso com ela. Ela continuou a falar, olhando pro lado, não pra mim.
— Teria sim, pro Aaron não importava se era verdade ou não. Pra ele só importa o que ele acha, o que ele pensa, o que ele sente. Ele se acha a pessoa mais importante do mundo, as opiniões dele são as únicas que importam. Não importava o quanto eu mentisse pra ele.
— Então você sabia? — Ela se virou, deixando as tranças dançarem no ar por alguns milésimos de segundos até ela parar a cabeça e olhar pra mim com aqueles olhos amendoados, cor de âmbar. Ela riu.
— É claro que sabia, você não parecia exatamente empenhada em esconder. — Ela disse, sorrindo. Mas o sorriso logo se dissipou. — Difícil foi convencer Jonathan do contrário.
— Foda-se ele, Jamie. A gente vai fazer ele pagar.
— A gente não é exatamente um páreo pra ele, Mandy. — Eu parei e pensei por alguns segundos antes de responder.
— Mas eu acho que sei quem é. — Sorri.
— Quem?
— Você vai ver. — Peguei os dedos dela na minha mão novamente. — Quer que eu pinte suas unhas? Vai fazer você se sentir melhor?
— E você sabe? Nunca te vi de unha pintada. — Ela se afastou, apoiando um dos braços na beirada da cama, levando todo o tronco para trás, naquela direção.
— Não. Mas eu posso tentar. — Ela estendeu a mão direita na minha coxa.
— Tá bem.
Obviamente as unhas de Jamie ficaram um fracasso roxo, mas ela fingiu que tinham ficado lindas. Nós escutamos as músicas preferidas dela enquanto isso, e no fim ela parecia já estar bem melhor.
Olhando pela janela de madeira, parcialmente coberta com uma cortina lilás, de um tecido meio transparente, repleta de pins de libélulas, eu percebi que, por entre as outras casas exteriormente iguais à de Jamie, o sol estava se pondo em tons de laranja, roxo, rosa e amarelo. Me levantei e fui até a janela, sendo seguida por Jamie.
— O céu tá lindo. Quer ir olhar lá de baixo? — Assenti.
Descemos as escadas e saímos da casa, sentando no gramado verde logo à frente, cheio de flores cor-de-rosa em pequenos arbustos nas frentes das janelas. Estiquei minhas pernas à frente do meu corpo e balancei meus pés pra um lado e pro outro. O ar estava tão puro e gelado que eu me sentia inalando a própria palavra outono, que reverberava sonoramente pelos meus pulmões, de um lado pro outro, como se se balançasse em um pneu debaixo de uma árvore laranja da cor do céu.
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A Vida Absolutamente Ordinária de Amanda Pritchett ⚢
Teen FictionAmanda Pritchett tem 15 anos, pais recém-divorciados, uma irmã de 11 anos, um costume antigo de rabiscar e fazer colagens, uma imaginação tão fértil que talvez seja um pouco preocupante, uma luz noturna infantil e vontade de beijar garotas. Após o d...