Quando o despertador tocou no dia seguinte, eu acordei assustada. O ar estava frio demais, eu tinha esquecido a janela aberta e o vento do outono entrava no meu quarto quase como uma cobra se arrastando pela parede até o chão. Felizmente, mamãe tinha colocado carpete no piso recentemente, se não, seria quase insuportável pisar no chão depois de descer da cama quente.
Cocei os olhos e tirei algumas remelas que tinham se formado enquanto eu dormia e sonhava um sonho que eu não me lembrava mais. Eu sei que a gente supostamente não pode coçar os olhos porque faz mal ou algo assim, mas dane-se também.
Tomei um banho quente e me vesti no banheiro mesmo, colocando um perfume amadeirado nos pulsos. Achava que mamãe ainda não tinha aparecido, o horário de trabalho dela era meio livre, então às vezes ela não acordava na hora que a gente acordava pra ir pra aula. Às vezes acordava antes, mas ultimamente tinha acordado depois.
Quando eu estava preparando meu chá da manhã, que eu tinha decidido fazer porque estava muito frio e eu queria uma bebida quente, Jess apareceu na cozinha, com cara de sono mas já vestida com o uniforme bonitinho da escola dela.
— Oi, Jess, bom dia. Mamãe não acordou ainda ou já foi? — A chaleira chiou, soltando vapor de água denso e branco que saiu subindo em espirais pelo ar frio. Tirei ela do fogão e despejei água quente na caneca de Londres.
— Como eu vou saber? — Ela também coçou os olhos. — Tenho cara de vidente?
Peguei o sachê de Earl Grey e me aproximei de uma cadeira, que Jess puxou pra ela e sentou.
— "Pode dar meia volta, aqui é a primeira classe. Não é nada pessoal, meu caro, é só que a gente é melhor que tu."
— De qual parte vem isso? — Sentei em outra cadeira.
— É do Escape 2 Africa, quando o rei Julien tá assistindo filme com o Maurice e o Melman entra na cabine do avião. — Ela disse, pegando umas bolachas que estavam em cima da mesa e passando geléia.
— Eu não lembrava disso.
— "Parabéns para tu que no zoológico tem pinta de gorila e cheiro de macaco". — Jess falou com a boca cheia de bolacha. Dei um tapa na nuca dela. — Ai!
— Você que tem cheiro de macaco.
— Não sou eu que precisa passar desodorante pra não ficar fedendo. — Ela comeu mais umas bolachas. — Ei, não é hoje que você vai sair?
— Que dia é hoje? Sexta? Eita, é mesmo. — Tomei um pouco do chá. — Como eu faço pra mamãe não descobrir?
— "Às vezes, o melhor esconderijo é ficar à vista" — Ela disse, guardando o pote de bolacha de volta no lugar. Eu provavelmente deveria fazer um café da manhã decente pra ela. Eu não deveria ter que cuidar da minha irmã, isso é trabalho de mamãe.
— Que que isso quer dizer? Quer que eu frite um ovo com linguiça pra você?
— Quer dizer que você tem que chegar antes da mamãe. Meu Deus, Amanda, você precisa que as pessoas desenhem as coisas pra você. — Ela se levantou e tirou um copo do armário, derramando leite dentro logo em seguida. — E não precisa, já comi bolacha demais.
— Bolacha não é café da manhã.
— Chá também não. — Ela bebeu o leite e eu dei de ombros.
— Terminou? A gente precisa ir. — Eu disse, indo até o meu quarto pra pegar a mochila e a minha câmera, pra revelar as fotos depois da aula de fotografia.
— Espera, eu preciso fazer xixi. — Ouvi a cadeira ser arrastada, seguido de passinhos apressados até o banheiro.
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A Vida Absolutamente Ordinária de Amanda Pritchett ⚢
Ficção AdolescenteAmanda Pritchett tem 15 anos, pais recém-divorciados, uma irmã de 11 anos, um costume antigo de rabiscar e fazer colagens, uma imaginação tão fértil que talvez seja um pouco preocupante, uma luz noturna infantil e vontade de beijar garotas. Após o d...