Quando vimos a hora, já estava ficando um pouco tarde e eu tinha que voltar pra casa. Tinha prometido a Jess que veria a competição de culinária das 7 horas com ela. E eu simplesmente ADORAVA assistir com ela, ela sempre tinha os melhores comentários. Max insistiu que iria comigo até em casa.
Antes de sairmos, Max abriu um dos armários da cozinha e tirou um pacote branco e o abriu, pegando um biscoitinho branco recheado de dentro. Ela tinha colocado o boné pra trás na cabeça de novo. Eu gostava de vê-la com as toucas coloridas, tinha virado uma marca registrada dela. Mas ela com boné pra trás era outra coisa.
— Voxê quer? — Ela perguntou, com a bochecha estufada. Totalmente alheia ao fato de que eu devia estar olhando pra ela feito uma idiota.
— O que é isso? — Eu olhei dentro do pacote e peguei um.
— Hobak Monaca. — Ela engoliu. — A massa é de arroz e o recheio é de abóbora.
Eu provei um. Não era meu preferido. Na verdade, eu não gostava muito de abóbora, mas a massa era gostosa. Maxine gostava de doces, eu preferia salgados.
Nós vestimos nossos casacos, calçamos nossos tênis, Max pegou o skate dela e saímos. Já havia parado de chover, agora estava apenas ventando.
— Aquela ali é a casa de Thomas. — Ela apontou para uma casa ao lado da dela. — Dá pra ver o quarto dele da janela em cima da minha cama. Às vezes eu jogo coisas lá quando tô entediada. Ele sempre esquece a janela aberta.
Ela pegou mais um daqueles biscoitinhos.
Andamos até o parque Sorbier conversando e rindo. Parecia que era só o que sabíamos fazer. Em determinado momento, eu peguei a mão dela, primeiro pelos dedos. Pontinha com pontinha. Ela olhou pra mim com um sorriso e segurou a minha mão.
— Qual sua comida preferida? — Eu perguntei, pegando mais um biscoito daqueles do pacote. Ela respondeu imediatamente.
— Salgada ou doce?
— Salgada.
— Tteokbokki. Com certeza. Mas não muito apimentado, só um pouquinho. Eu geralmente não gosto de pimenta. — Ela olhou pro céu, mastigando mais um biscoito de arroz. — Eu gosto de coisas feitas com arroz. Não tem um gosto muito forte, eu posso comer por horas.
— E doce? — Ela riu.
— Quase tudo. — Eu ri. Ela parou pra pensar. — É, eu não consigo escolher um. E a sua?
— A minha o que? — Ela riu.
— Sua comida preferida, você já esqueceu o que tinha perguntado? — Ela jogou o saco vazio na lata de lixo perto de um poste, a única em alguns blocos de distância, e subimos no ônibus. Ela me ofereceu a mão pra me ajudar a subir.
— Tinha. — Eu pensei por algum tempo. — Acho que é Palak Paneer, com Naan no final. Faz tempo desde a última vez que eu comi.
Lembrei de papai. Ele sempre cozinhava pra mim. Ele sempre cozinhou muito bem. Dizia que a comida era uma forma de amor, que esquenta a gente por dentro e deixa o mundo mais quente por fora.
— Papai cozinhava pra mim quando eu era criança e ficava triste por qualquer motivo, quando eu tinha um dia ruim na escola. Acho que por isso coisas cremosas têm facilidade de amolecer meu coração, me deixar mais quente por dentro.
Acho que por isso eu criei aquele lanche do conforto com sorvete e coca cola. Não era, nem de longe, parecido, mas quando papai parou de cozinhar pra gente foi a única coisa que meu cérebro de criança conseguiu pensar pra substituir. Mas não era quente, era frio. Não era salgado, era doce. E não era mais papai que fazia pra mim.
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A Vida Absolutamente Ordinária de Amanda Pritchett ⚢
Novela JuvenilAmanda Pritchett tem 15 anos, pais recém-divorciados, uma irmã de 11 anos, um costume antigo de rabiscar e fazer colagens, uma imaginação tão fértil que talvez seja um pouco preocupante, uma luz noturna infantil e vontade de beijar garotas. Após o d...