Cap. 10

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Anna

Voltando ao laboratório, Anna já ouvia conversas aqui e ali sobre a sexualidade de Ruby, o fato dela ser durona não permitiria que falassem na cara dela o que pensavam realmente. Por mais que vivessem em um mundo onde o público LGBTQI+ tivessem direitos e mereciam respeito, ainda assim o julgamento se fazia presente, e era disso que Anna fugia mas admirava a coragem de Ruby.
Mergulhando no trabalho para esquecer suas preocupações, se lembra que seu aniversário de casamento está próximo, John com certeza iria querer fazer uma reunião em casa ao passo que preferia algo mais íntimo como um jantar. E como sempre sua mãe se meteria no meio, todo ano era o mesmo estresse, e todo ano tinha que disfarçar o quanto estava feliz e tinha um casamento bem sucedido.
Anna não sentia nojo ou repulsa de John, mas ficava aliviada quando ele não a procurava, namorou com três homens incluindo John antes de finalmente casar, mas nenhum deles despertou vontade nela, no fundo achava que podia ser curada mas seu tormento só piorava. Por muitas vezes chorou depois de ter relações sexuais com os namorados, em seu íntimo sabia que essa angústia só teria fim quando finalmente se aceitasse e assumisse para o mundo do que realmente gostava.
John lhe manda uma mensagem de texto dizendo que ficaria até mais tarde no trabalho, teria que ir de Uber para casa ou pegar uma carona. Era o preço que tinha que pagar, se não tivesse optado por colocar silicone há um ano e meio, agora teria seu próprio carro, e o casal não podia financiar mais nada, já tinham o apto e o carro.
Com um suspiro volta sua atenção para o trabalho, gostava dos seus novos seios e não tinha arrependimentos.

Ruby

A viatura que Ruby e Castilho estavam chega na casa de um suspeito acusado de vender drogas a menores.
Ruby já estava mais calma, mas Castilho se mantém em silêncio o que deixa a detetive curiosa.

- Que foi Cas, perdeu a língua? Você fala pelos cotovelos.

Castilho fica em silêncio, não tinha nada contra gays, mas era a primeira vez que trabalhava tão perto de um e não sabia lidar com a situação.

- Ah! Eu estou de boa, não é nada.

Castilho abre a porta pra sair mas Ruby coloca a mão em seu braço e lhe diz:

- Sabe Castilho se você tem algo contra o fato de eu ser lésbica, tudo bem eu vou entender, você não tem obrigação de aceitar, a única coisa que eu quero é respeito ok? Assim como eu te respeito.

Castilho fica triste de repente, não tinha nada contra ela gostava muito da detetive era como uma irmã. Mas sabia que não devia ser fácil, mesmo ela sendo tão decidida com certeza as vezes se cansava de ter que lidar com uma sociedade tão preconceituosa. Sem saber como ela reagiria só fez o que seu coração mandou; abraçou com muito carinho para surpresa de Ruby que retribuiu o gesto.
Visivelmente emocionado Cas lhe fala:

- Eu nunca viraria as costas pra você Ruby, quando o chefe me designou para ser seu parceiro achei que dali uns dias você pediria por outra pessoa, mas você foi a única que me deu um voto de confiança, você é minha amiga e eu sou grato por isso.

Ruby se emociona, Castilho era atrapalhado mas era muito observador, de início achava muito engraçado o jeito dele, mas percebeu que ele tinha dificuldades de concentração quando era pressionado e aprendeu como lidar com ele. Até Bill percebera a mudança no jovem policial, e o tirou do trabalho burocrático colocando-o nas ruas junto aos detetives, no caso Ruby que foi a única que se deu bem com ele.
Embora tivesse uma personalidade difícil e mandona ambos se deram bem e trabalhavam melhor ainda juntos.
Os amigos se olham e dão risada, visivelmente aliviados por tirarem aquele elefante branco do espaço entre eles.
Ruby seca um dos olhos com a palma das mãos e arruma sua arma no coldre e fala:

- Se você falar pra alguém que me viu chorando, te empurro da escada viu ? Hahaha.
- Você aí toda linda e durona, mas quem diria que tem um coração mole.

Ruby dá um soquinho de leve no braço dele, que finge que foi muito forte.

- Eu não sou mole viu.

Rindo ambos saem da viatura e atravessam a rua para a casa do suspeito.
Castilho bate na porta e Ruby fica escorada na mureta da varanda da casa.

- Sr. Duran abra a porta, Departamento de Polícia de Los Angeles.

O suspeito responde por trás da porta.

- Querem o que aqui?
- Lhe fazer perguntas, abra vamos.
- Tem mandado?

Ruby fica sem paciência e chuta a porta.

- Mandado é para busca e apreensão, e você vai vir conosco, tem direito a um advogado, se não puder pagar por um o estado arcará, e tudo que você falar pode e será usado contra você.

Ruby lê uma parte dos direitos do homem que estava incrédulo com a porta arrombada.

- Você não pode fazer isso, eu tenho direitos.
- Tem, mas agora virá comigo se não quiser mais problemas com a justiça.

Sem opção o homem coloca uma camisa e sai algemado. Castilho o coloca na parte de trás e seguem para o departamento.

- Meu advogado vai saber disso viu?
- Ótimo, estou ansiosa para conhecê-lo.

Ruby não dá bola, estava fazendo seu trabalho e depois arrumaria tudo se precisasse.

****

No departamento, Castilho leva o suspeito para a sala de depoimento, e Ruby vai atrás de café, o clima estava tranquilo e a detetive não notou olhares estranhos e se tivesse algo por ali, continuaria vivendo sua vida, não pagavam suas contas, e não devia satisfação a ninguém.
Thomas estava na copa, esquentando macarrão instantâneo e Victor comia um donuts, virou a cara para a colega assim que ela entrou e Thom a observou com nova curiosidade. Ruby não gosta e fica irritada.

- Perdeu alguma coisa aqui?
- Não perdi e nem achei, nossa como você é azeda, viu Victor do que você se livrou?

Victor não responde e continua ignorando Ruby que não liga. Mas faz um comentário voltado a Thomas.

- A concorrência já é grande, agora temos que lidar com mais uma por aqui.

Ruby mexe seu café de costas para os dois, e não cai na pilha, com um ligeiro sorriso pensa em como os homens são inseguros e se acham os donos do mundo porque tem um pinto no meio das pernas.

- O problema de vocês é que acham que só dão prazer a uma mulher com essa merda pendurada entre as pernas. E acham que lésbicas tem inveja disso, aprendam rapazes quando duas pessoas têm o mesmo brinquedo elas sabem como ter e se dar prazer.

Thomas e Victor não entendem o que ela quis dizer, e ficam em silêncio, mas Thom em seguida diz:

- Se tornou lésbica porque com certeza algum idiota a magoou.

Ruby dá uma gargalhada, não fica surpresa com o pensamento dele, 90% das pessoas achavam isso, Ruby ri tanto que seus olhos lacrimejam.

- Se formos seguir sua lógica meu bem, todas as mulheres deviam ser lésbicas, hahaha. 

Thomas fica um pouco constrangido mas se mantém firme e Victor continua ouvindo.

- Eu poderia te dar uma aula Thom, mas tenho muito o que fazer ainda hoje, eu não escolhi ser assim, eu nasci assim e me aceito, muda alguma coisa na sua vida eu ser lésbica?

Thom não responde, mas realmente sua vida não mudaria em nada se ela ou outras pessoas eram gays. Nunca tinha conversado muito com ela, sempre a achou metida e arrogante, ainda achava, mas percebeu que ela criara uma casca para se defender das pedradas que levava. Mas curiosamente uma voz lhe dizia que alguém a magoou sim, só não tinha sido um homem, e Thom concluí que seu argumento caiu por terra. Ruby tinha razão, até mesmo os homens que de alguma forma foram magoados por mulheres, se seguissem essa lógica se tornariam gays, ele próprio já sofrera por amor e não foi atrás de homens para curar seu coração ferido. No fim ficou puto por concluir que a colega era muito mais inteligente do que ele supunha, usava muito bem a lógica e a razão e sabia colocar seu ponto de vista.

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