Maraisa POV
Depois da festa, Marília e Luísa insistiram para nos irem levar a casa. A festa tinha sido muito divertida, dançamos toda a noite, Luísa e Day, a namorada dela, estiveram perto de mim e da Mai, se não fosse a nossa diferença de vida e estatuto, poderíamos facilmente ser amigas. Isso, claramente, não era possível, tínhamos vidas completamente diferentes.
Sentei-me no banco de trás, com Maiara no meio e Day à nossa esquerda, atrás de Marília, que conduzia o carro, e Luísa ia ao seu lado. A festa tinha acontecido longe da nossa casa, pelo que a viagem ainda demoraria algum tempo, apesar do pouco trânsito, porque apesar de já ser dia, era cedo.
De onde estava, conseguia admirar Marília, a minha chefe, que conduzia tranquilamente, batendo os dedos no volante, com o ritmo de uma música que tocava baixo no rádio. Certamente que, em tempos passados, que Luísa falou, Marília teria gostado muito de festas e de dançar, via isso pela forma como ela trauteava as músicas e os dedos no volante. O que a teria feito ser assim tão dura? O que a teria feito deixar de se soltar? Eu sei que ela era a diretora da empresa, mas mesmo assim, ela era uma mulher enigmática, que parecia esconder tanto dentro dela.
Além de tudo isso, era bonita, muito bonita. Séria, na sua pose habitual de diretora, com a roupa formal, ou com roupa mais descontraída, como a vi no bar algumas vezes. Quando ela estava com Luísa estava solta, claramente era uma pessoa com quem tinha grande à vontade, ria e dava gargalhadas.
Marília: se quiser também pode dormir, Maraisa - fui acordada dos meus pensamentos pela minha chefe - ainda vamos demorar um pouco a chegar
Maraisa: ah, não, não tenho sono na verdade - sorri ao vê-la fintar-me pelo espelho
Marília: não podemos dizer o mesmo destas três meninas - sorriu de canto - não sei como não está cansada, dançou a noite toda
Maraisa: ah, sim, mas faz bem à alma - disse sem jeito, ela tinha reparado em mim?
Marília: sim, é verdade - sorriu de canto - faz mesmo
Ficou um silêncio entre nós, e ela susteve o nosso olhar o tempo suficiente para me deixar com a respiração suspensa, e voltar a olhar para a estrada.
Marília: não é muito cansativo? - falou sem me olhar agora - ter os dois trabalhos, digo
Maraisa: um pouco, mas não me queixo doutora - falei olhando para a paisagem
Marília: trabalhar todo o dia no escritório, e de noite no bar, deixa-a ter tempo para descansar?
Maraisa: não tenho muito tempo, mas tento aproveitar o tempo de descanso - sorri - e como disse, não me posso queixar, prezo muito os dois trabalhos que tenho
Marília: compreendo - olhou-me fixamente pelo espelho enquanto parava num sinal vermelho - é uma mulher lutadora, Maraisa, admiro muito pessoas lutadoras
Maraisa: faço o que é preciso, doutora - sustentei o nosso olhar, intenso e que me estava a desconcertar
Marília: bem, parece que chegamos - sorriu e olhou para mim, desta vez diretamente, virando-se para trás
Maraisa: s-sim - o olhar dela era intenso, e remexia tudo o que havia dentro de mim, estava a sentir-me a sufocar, de uma forma boa, se isso era possível
Marilia: eu ajudo-a, com a Maiara - saiu do carro e ficou parada ao meu lado, enquanto tentávamos acordar a Maiara
Maraisa: Mai, Mai, acorda - sussurrar no seu ouvido
Maiara: deixa-me dormir, chata - respondeu de olhos fechados e a praticamente a dormir - não quero ir correr contigo, não, chata - não consegui evitar rir do que ela dizia e ouvi Marília dar uma risada anasalada ao meu lado
Maraisa: Mai, acorda, precisamos de ir para casa - falei um pouco mais alta
Maiara: eu já estou em casa Maraisa, não viaja - ainda a dormir
Marília: a senhorita pode ficar no meu carro, mas não creio que seja o sítio mais confortável para dormir - falou a sorrir, e que sorriso
Maiara: meu Deus, doutora - abriu os olhos de repente - peço imensa desculpa, que vergonha
Marília: tenha calma, está tudo bem - sorriu
Maiara: eu peço imensa desculpa - estava claramente envergonhada
Marília: está tudo bem, vá descansar Maiara - sorriu e tocou no ombro da minha irmã que se despediu e entrou no prédio
Marília olhou-me fixamente durante alguns minutos, e eu sustentei o seu olhar, e ela deu um sorriso de canto.
Maraisa: acho melhor ir, ainda corro o risco de ela adormecer no elevador - sorri
Marília: é melhor, sim - deu uma risada e mordeu o lábio inferior disfarçadamente
Maraisa: bom descanso doutora - despedi-me dando um sorriso
Marília: bom descanso, Maraisa - sorriu e piscou o olho
Ao afastar-me podia sentir os seus olhos sobre mim, quando entrei no prédio e me virei para fechar a porta, vi-a encostada ao carro, a olhar fixamente para mim, com um sorriso nos lábios. Eu só poderia estar a sonhar.
Marília POV
O que tinha eu na cabeça para sustentar o olhar da Maraisa assim? O que tinha ela que mexia tanto comigo? Eu não sabia. Mas a verdade é que o facto de as deixar em casa me desviou mais de 1 hora do caminho que devia seguir.
Depois de ver Maraisa entrar no prédio, entrei no carro e dei partida.
Luísa: a conversa estava boa?
Marília: porra Luísa, que susto - falei com os olhos abertos - queres morrer?
Luísa: não sejas dramática Mendonça - deu uma risada - mas diz lá, a conversa estava boa?
Marília: que conversa?
Luísa: com a Maraisa - sorriu novamente - eu vi que estavas lá fora com ela
Marília: fui ajudá-la com a Maiara, nada de mais, a moça adormeceu e não havia forma da acordar - dei um sorriso ao lembrar-me da situação
Luísa: a mim não me enganas Marília Mendonça, além de te conhecer, eu vi - falou séria - eu vi que a observaste a festa toda, principalmente quando ela dançava, vi que te desviaste mais de 1 hora do caminho para a vires deixar a casa...
Marília: deixei a Maraisa e a Maiara, além disso, há poucos transportes a esta hora, foi mais seguro assim - falei séria com os olhos na estrada
Luísa: amiga - falou baixo quando Day se remexeu no banco de trás - eu não sei do que tens medo, o que te impede de tentar o que quer que seja, mas talvez devesses abrir um pouco esse coração - não respondi - tudo bem, tu sabes que eu tenho razão - sorriu safada - quando quiseres falar sobre isso, estou aqui amiga - beijou-me o rosto e voltou a dormir.
Ao chegarmos a casa, acordei as duas, levei-as até ao quarto onde iam ficar, tomei um banho e adormeci. Na minha cabeça passavam imagens da Maraisa em loop, e quando fechava os olhos, só via os olhos dele, castanhos escuros, um olhar tão profundo e lindo.
O que estás a fazer comigo, Maraisa?
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Intenção
FanfictionA poderosa Mendonça é arrancada do seu mundo de negócios, sem aviso, pela pessoa que vai virar a sua vida ao contrário, devolvendo-lhe o desejo de viver além da sua secretária. Uma história em português de Portugal.