dezoito.

1.1K 105 30
                                    

Marília POV

A festa estava animada, e todos se divertiam. Tínhamos contratado um DJ famoso para animar a noite e não havia hora para terminar.

Não sou muito extrovertida, e por isso não me envolvi em danças, embora não tenha sido por falta de tentativas de Luísa e Day, que dançavam euforicamente com todos ali. Eram, sem dúvida, um casal animado.

Conversei, informalmente, com César, apesar de mantermos uma relação profissional e formal, era um homem sério e em quem confiava. As ocasiões em que nos permitíamos conversar fora do contexto de trabalho, eram sempre agradáveis.

Luísa: eu não acredito que a chefe disto tudo não vai dançar - perguntou aparecendo por trás de mim

Marília: não vou não, mas vocês estão a representar-me bem - sorri

Luísa: já sentia falta de uma noite assim, sabias? - sorriu - só me falta uma coisa para estar feliz por completo - arqueei a sobrancelha em interrogação - falta a minha melhor amiga, a dançar comigo, pela noite dentro

Marília: os tempos mudaram, Lu - abracei-a - não danço ao teu lado, mas estou sempre aqui - sorri - além disso, tens uma morena do teu lado que faz bem o meu papel, ou ainda melhor

Luísa: não seja tola, doutora Mendonça - deu-me um tapa no braço - nunca ninguém vai ocupar o teu lugar - sentou-se ao meu lado, e Day sentou-se ao seu lado

Ficamos um pouco a conversar enquanto a festa continuava à nossa frente. Pude reparar numa morena, no meio da pista, que dançava entusiasmada, e dançava muito bem, por sinal.

- Só podes estar louca, Marília, ela é tua funcionária

Luísa: terra chama Marília, alô?

Marília: sim? - sai do transe dos meus pensamentos

Luísa: quando é que vais admitir que ela mexe contigo? - perguntou baixo para que só eu pudesse ouvir

Marília: ela quem?

Luísa: tu sabes bem quem - sorriu de canto - a pessoa para quem estavas a olhar perdida entre pensamentos, e sabe-se lá, quão impuros era esses pensamentos - deu uma gargalhada e eu lhe dei um tapa no braço - não sei de que foges, Marília, a decisão é tua, sempre será. Mas tens a certeza que não queres deixar de lado esse estatuto de dona da porra toda, e tentar ser feliz?

Marília: Luísa, estás a viajar. Eu não estava a olhar para ninguém diretamente. Não sei de quem estavas a fal...

Day: aí amor,  a Maraisa tem uma energia incrível - sorriu ao abraçar Luísa - era uma pessoa de quem seria facilmente amiga, sabes? E é super animada

Luísa: é, ela é muito simpática e boa energia - falou para a namorada e dando-me um olhar provocante por se falar na Maraisa

A conversa mudou de rumo, para meu alívio, era incrível o quanto Luísa me conhecia, mesmo sem eu falar nada.

Quando sai da cabine da casa de banho, Maraisa estava a lavar as mãos e olhou-me pelo espelho, sorridente

- meu Deus, daí-me força para resistir a esta tentação - pensei

Maraisa: boa noite, doutora - sorriu simpática

Marília: está a gostar da festa, Maraisa?

Maraisa: estou, está a ser muito divertida, já tinha saudades de dançar sem ser atrás do balcão - deu uma risada anasalada e depois ficou séria, lembrando-se com quem estava a falar - desculpa, doutora, eu não pensei no que disse

Marília: toda a gente precisa de se divertir, não pode só trabalhar não que os outros se divirtam - utilizando a torneira ao seu lado para lavar as mãos

Maraisa: é verdade, sim - sorriu de canto - vou voltar para a festa

Marília: claro, aproveite - sorri - vemo-nos lá

Maraisa: então, até já, doutora

Quando ela saiu pela porta, sentia-me a transpirar, com certeza, esta mulher mexia comigo, só tinha de entender qual o sentido disto tudo. Passei água pelo pescoço, para me refrescar, e voltei ao salão. Fui ter com Luísa, que estava numa das mesas.

Luísa: encontro quente?

Marília: como?

Luísa: eu vi a Maraisa sair da casa de banho, e a senhorita saiu logo atrás - sorriu safada

Marília: estás a viajar outra vez, encontramo-nos por acaso

Luísa: pena não teres aproveitado - riu - certamente que uma mulher daquelas tem vários homens e mulheres atrás dela - olhei-a séria - o que foi? É verdade, ela é linda, e tu sabes bem disso. A fila anda, Lila, a fila anda

Era incrível como Luísa conseguia plantar, sempre uma semente na minha mente. Por vezes, odiava o tanto que ela me conhecia.

A festa seguiu até altas horas, e como anfitriã fiquei até que a última pessoa fosse embora.

Quando me apercebi, restavam 4 pessoas na pista de dança, e na festa, Luísa, Day, Maiara e Maraisa, pareciam ter uma energia que não acabava.

Luísa: calma que a patroa vai dançar agora, já perdeu a vergonha porque não há mais gente aqui - riu ao ver-me aproximar

Marília: vinha só ver onde estava a tomada para vos desligar da ficha - brinquei

Luísa: ah, Lila, deixa de ser durona - sorriu e segurou-me os ombros - quando eras a rainha das pistas de dança não dizia nada disso. Anda lá - fez biquinho arrancando gargalhadas às 3 mulheres

Marília: já estou velha e cansada - brinquei - vou buscar uma bebida, querem?

Trouxe bebidas para todas e fiquei perto delas, enquanto elas dançava, fiquei encostada na parede. Aquelas 4 mulheres, de países, estratos sociais e com vidas totalmente diferentes, eram incrivelmente parecidas. Se as vidas fossem outras, certamente, todas nos poderíamos ter conhecido noutras alturas, e sido amigas.

Day: Lila, Lila - falou chamando-me a atenção- vamos?

Assenti e sai com elas do salão, dando a festa por terminada, já era dia. Luísa e Day iriam comigo, para minha casa.

Marília: vocês vão como, para casa?

Maiara: vamos chamar um Uber, doutora, ou então de transportes

Marília: não, eu levo-vos

Maiara: mas, doutora, a nossa casa fica do outro lado da cidade

Marília: fica no nosso caminho, eu levo-vos para casa, entrem - falei para as gémeas

Luísa sentou-se do meu lado, e olhou-me novamente com cara de sapeca. Eu sabia o que ela estava a pensar.

IntençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora