prólogo

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Alerta de gatilho: descrição gráfica de violência física e psicológica...



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Aaron James

Ele enlouqueceu.

Era verdade que Dickson pirava com o crack e isso agia em seu cérebro muito mais rápido do que qualquer outra droga. Ele estava louco, e algo que eu sabia sobre os loucos, era que eles podiam ser imprevisíveis.

Ele era meu pai, porra, e nesse momento estava tocando minha irmãzinha de apenas 2 anos! Sua própria filha!

Filho da puta!

Ele nunca havia tentado antes, nem mesmo quando minha mãe ainda respirava, e agora estava fazendo isso bem diante dos meus olhos.

— Solta ela, porra! — resmunguei entredentes.

O lixo do meu pai estava com a mão sobre a boca de Maya. Ela chorava e verifiquei o estado em que estavam. Felizmente Dickson continuava vestido e Maya estava deitada sobre a cama enfiada em seu pijama fofo. Ele estava de pé, bem ao lado.

Fui burro o suficiente por ter me distraído. Maya nunca dormiu longe de mim desde que mamãe se foi. Eu evitava que algo como o que estava acontecendo nesse exato momento viesse a ser um problema.

Ele nunca ousou tocar nela perto de mim.

Mas eu apenas fui ao banheiro.

E esse merda apareceu justamente nesse intervalo de tempo.

Nunca desgrudei de Maya por mais de dez minutos. Nem na escola, onde implorei aos professores para que ela ficasse comigo, ou ao dormir. Não quando ele estava por perto. Ele nunca havia tentando antes, mas eu não confiava nele. De jeito nenhum.

— Dê o fora, seu merdinha! — ele sorriu e notei a malícia em seu gesto. Senti asco. — A pequena Maya quer brincar com o papai.

— Seu porco! — cerrei os punhos, então parti para cima dele.

Meus golpes eram cegos, porque eu não conseguia acertá-lo.

Ele era gordo e bem alto, o que tornava difícil minha tarefa.

Isso não devia estar acontecendo. Devíamos estar juntos como pai e filho normais. Eu não deveria ter que esperar ansiosamente pelo almoço na escola para poder comer alguma coisa, ou ter que vigiar minha irmã contra o meu próprio pai. Não, isso estava errado. Muito errado. Eu só tinha 14 anos e precisava de um pai de verdade; não de um viciado de merda.

No rosto.

O primeiro soco que recebi acertou a lateral do meu rosto. Dickson riu, chutando-me enquanto eu estava no chão. Gemi, sentindo gosto de sangue.

Maya chorava incessantemente e eu me preocupei, sentindo-me cansado. Muito cansado.

Meu pai conseguiu me suspender pelos cabelos, e gritando, fui arrastado até a cozinha suja, cheia de garrafas de bebida. Dickson me arremessou no piso úmido e continuei sentindo os chutes, até que não pude me mexer.

Assim que eu estava praticamente desmaiado, percebi que Maya nos seguiu. Minha irmãzinha continuava chorando e eu lamentei que ela tivesse visto isso.

— Ron. — soluçava.

— Fuja, moranguinho. Fuja agora! — consegui resmungar.

— Olha o que temos aqui. — o merda comentou, sorrindo em sua direção. — Venha cá, coisinha gostosa. Vamos brincar. — ele avançou, pegando-a em seus braços. Maya se debatia. — Seu irmão idiota vai assistir a tudo. Teremos um ótimo filme. — ele a colocou sobre a mesa da cozinha e resgatou o celular do bolso.

Eu assistia a tudo, sem reação. Estava machucado demais para reagir.

E assim fiz uma coisa bem desnecessária no momento:

Chorei.

Meu pai riu, livrando-se do cinto que prendia sua calça. Ele posicionou o celular em cima da ilha da cozinha e acionou a câmera.

Eu sabia o que iria acontecer, então desviei o olhar.

Em meio aos ruídos de roupas caindo no chão, meus olhos colidiram com o velho taco de basebol que eu costumava exibir para meus amigos da escola.

Eu era ótimo nessa porra de jogo e quando me dei conta, já estava sobre minhas mãos. Não sei de onde retirei forças, mas simplesmente aconteceu.

Ele não estava muito longe e arrastei-me como pude até o objeto.

Venha até mim, garoto. — ele me chamava.

Não pude resistir, então pus as mãos nele.

Com cuidado, consegui ficar de pé.

As mãos de meu pai já estavam puxando a calcinha de Maya para fora de seu corpo.

Ele estava distraído demais para notar o que eu estava prestes a fazer.

Minhas mãos reagiram de maneira automática.

Sincronizada.

Um golpe forte em suas omoplatas.

Dickson se virou com o semblante espantado.

— Seu merdinha! Você não passa de um lixo. Um lixo miserável como a vadia da sua mãe.

Outro golpe.

Calei sua boca com uma pancada certeira no maxilar.

Ele cambaleou, chocado.

Não sei de onde tirei tamanha força, mas continuei o acertando.

Meu pai estava bem alterado pelas drogas, então não resistiu a outro golpe.

Caiu como um saco de batatas no piso sujo.

E eu não parei.

Com as forças renovadas, acertei nas partes mais visíveis.

Eu ouvia o choro distante de Maya; alguma sirene idiota soava lá fora, e meu pai gritava como um porco prestes a ser abatido.

Pela primeira vez em anos, eu sorri.

E isso enquanto o taco de baseball acertava o idiota do meu pai.






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E aí? O que acharam?🔥

Para Sempre, JulietOnde histórias criam vida. Descubra agora