capítulo 19: sobre prazo e desconfiança

3.9K 312 57
                                    

Durante a noite, eu estava em meu quarto quando papai o invadiu com aborrecimento.

Assustada, eu me ergui da cama enquanto o mais velho estava prestes a me trucidar com os olhares raivosos.

— Papai...

— Cale-se, menina atrevida. — reprendeu de punhos cerrados. Estremeci. — Nem pude me concentrar no trabalho depois da ligação reveladora do Dustin.

Fiquei nervosa na hora.

— O que... o que ele disse?

— Que você assumiu um relacionamento com um bolsista da escola. — disse furioso. Congelei. Como Dustin foi capaz de fazer isso? Eu errei em confiar nele. Errei muito. — Então foi por isso que terminou tudo com Dustin? Para ficar de casinho com um vagabundo morto de fome?!

— Não fale assim do Aaron. — murmurei, ganhando coragem.

— Aaron. — disse o nome como se tivesse um gosto ruim. — Então esse é o nome do fulano? Isso demonstra que Dustin estava mesmo certo.

— Dustin é um idiota fofoqueiro. — resmunguei, ficando tensa quando papai se acercou perigosamente. Senti calafrios com o olhar que tomou conta do seu rosto.

— Eu vou te dar um prazo de dois dias para terminar seu casinho com o garoto. Nada mais do que isso, ouviu bem? — sussurrou entredentes. — Aproveite que estou sendo... flexível.

Eu não disse nada, muito abalada com a situação.

Papai estava me dando um pequeno prazo para terminar tudo com Aaron. Ele achava que estava sendo dócil, mas isso passava longe de ser verdade. Eu tinha uma ideia do que Eric Connelly era capaz de fazer caso eu o contrariasse.

Eu nunca me esqueci da surra de cinto que levei aos onze anos de idade quando tomei banho de chuva no quintal e fiquei resfriada. Foi assustador. Doloroso. E mamãe teve que intervir. Papai odiava ser desobedecido. E mesmo que ele não tenha voltado a me bater depois daquele dia, eu ainda o temia. Muito.

Diante do meu silêncio, ele continuou:

— Agradeça por eu ter dado esse prazo. — seguiu até a porta e completou de costas para mim: — A desobediência gera consequências aterradoras, Juliet. E você sabe o quanto eu odeio ser contrariado. — saiu, batendo a porta atrás de si.


###


Durante a quinta feira, Aaron e eu nos encontramos antes das aulas, em nosso lugar habitual - no jardim. Ele me beijou algumas vezes e eu apreciei nosso momento.

Minutos depois, fiquei sem fôlego e interrompi o beijo.

— Eu preciso te falar uma coisa. — eu disse acanhada.

Por onde eu deveria começar?

Aaron franziu o cenho.

— O que houve?

— Meu pai descobriu sobre nós.

Se ele ficou surpreso, não demonstrou.

— E isso depois do nosso beijo no refeitório?

— Sim, graças a uma pessoa que decidiu ligar para meu pai e fazer fofoca. — encolhi os ombros.

Fechou a cara.

— Quem?

— Dustin.

O seu semblante irritado se acentuou.

— Aquele merdinha teve a ousadia de abrir a boca para o seu pai? — questionou entredentes.

— Sim, com certeza ele se doeu ao nos ver juntos e decidiu se vingar.

— Também estou afim de me vingar agora. — sorriu sem humor. — Que tal se eu começar partindo a cara daquele infeliz?

Alarmada, espalmei seu braço.

— Não, Aaron. Ele é filho do governador. Você pode se prejudicar. Deixe o idiota do Dustin no esquecimento.

Ele suspirou.

— Ok. — disse com relutância. — Mas não sei se poderei me segurar caso ele tente mais alguma besteira.

— Entendo. — suspirei. — Mas papai descobriria nosso segredo de toda forma. Agora que sabe, ele disse que tenho que ficar longe de você. Deu-me até um prazo para terminarmos.

— Quanto tempo?

— Dois dias.

— E você vai obedecê-lo? — questionou curioso.

— Estou com medo do que ele pode fazer se eu contrariá-lo. Papai não é um homem fácil. Mas também não quero me desfazer de você e do que nós temos, mesmo que não...

Calei-me, sem jeito.

Ele me encarou com a sobrancelha erguida.

— Que não...?

— Mesmo que não seja algo sério.

Senti certa decepção quando Aaron não negou.

— Eu vou pensar em um jeito. — ele me puxou para si outra vez e aproximou nossos rostos. — Mas não posso ficar longe de você, Juliet.

— Também não posso ficar longe de você. — sussurrei e Aaron não perdeu tempo antes de me beijar.


###


Desde que nos cruzamos, Madison estava estranha.

Ao contrário das outras meninas que ainda me bombardeavam com perguntas sobre Aaron, ela apenas parecia distraída e eu diria chateada.

A teoria de que ela sentia algo por Aaron se acentuou.

— Ei, Madi. Suas unhas estão bonitas. — tentei puxar assunto.

— Eu as fiz ontem. — disse e pelo menos foi alguma coisa.

Depois disso, engatou em uma conversa com Donna e me ignorou pelo resto do dia. Nem mesmo se despediu quando seguiu para sua casa.

O mais incômodo foi que isso se prolongou durante dias, até que decidi confrontá-la na segunda feira.

— Você gosta do Aaron?

Seu rosto ficou vermelho, o que me surpreendeu, já que Madison passava longe de ser tímida.

— Eu...

— Pode dizer, se for verdade. Somos amigas. Eu não vou ficar com raiva. Não tenho motivos para isso.

Mas seria bem estranho...

— Eu? — ela riu sem humor. — Não vou negar que já tive atração pelo James, mas foi só isso. Ele é gostoso, mas continua sendo um bolsista. Eu nunca poderia gostar de alguém nessas condições. — desdenhou em frente à escola.

Aaron e seus colegas estavam ali perto e ele me lançava alguns olhares. As aulas já haviam terminado e eu estava esperando o motorista.

— Ah. — eu disse apenas. — Então esqueça minha pergunta.

Ela deu de ombros e não disse mais nada.

Típico de Madison.

Mesmo assim, ainda fiquei com a pulga atrás da orelha.

Ela não mentiria para mim, certo? Sobre gostar de Aaron?

Ou mentiria?

🦋

MARATONA 3-4

Próximo capítulo com a visão do Aaron.

Para Sempre, JulietOnde histórias criam vida. Descubra agora