Cidade Maravilhosa

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É na cidade do Rio de Janeiro que Bruna se encontrou profissionalmente, mas não foi fácil, depois de se formar em jornalismo, foram dezesseis anos de batalha para chegar a essa grande emissora de TV ao ponto de ser a apresentadora principal do Jornal da manhã. Antes disso ela tirou muita xerox, passou cafezinho, cobriu matérias na rua e algumas de alto risco.
Sua rotina era igual, todos os dias ela acordava as 3 da madrugada, para chegar na emissora e estudar a pauta, se arrumar, maquiar até que entrasse no ar. Quando saia de casa todos dormiam, ela dava um beijo na testa da Nandinha e saía acelerada recolhendo sua bolsa e casaco.
A essa hora sempre fazia frio, independente da estação do ano. O porteiro da madrugada, já aguardava ela na garagem. Sempre com aquele rosto sereno, olhos entre abertos de sono falava todos dias ao abrir o portão "Bom trabalho dona Bruna!".

Bruna sabia que seu dia começava com o "Bom dia" do seu Evandro. Quando ele tira as férias, o dia não é o mesmo.
Ela chegava todos os dias pontualmente as quatro na redação e tinha um ritual, adotado por ela para a melhor fluidez do trabalho. O seu papel é importante que era o de levar a notícia todas as manhãs para a casa de todos os cariocas. Assim que entrava no estúdio, já pegava a pauta para ler, começava a ler sentada na cadeira enquanto fazia o cabelo. Denise, cabelereira e maquiadora, trocava poucas palavras, Bruna estava sempre muito atenta a leitura e Denise não queria interferir.
Depois que terminava de arrumar o cabelo, a maquiadora preparava um maquiagem simples e no relógio já batiam cinco da manhã. O estômago dela sempre roncava nesse horário  que era quando ela descia até o refeitório que ficava no primeiro andar. A emissora fornecia lanches rápidos nesse horário e como Bruna era uma pessoa ritualistica, ela pedia um pão com mortadela e café. Era isso e mais nada. Sempre engolia o café, tão rápido que muitas vezes queimava o céu da boca. Ela gostava de imaginar que um dia ela poderia tomar esse café com um pouco mais de calma. "Um dia"... suspirava mas não reclamava. Levantava e voltava correndo ao estudio, fazia mais uma leitura dinâmica da pauta, vestia o figurino e corria para frente das câmeras. Hoje ela tinha recebido uma notificação de que o Carlos que falava do tempo havia sido afastado e que uma tal de Taís iria substitui-lo. Bruna não a conhecia, mas sentiu curiosidade, ela não gostava do Carlos, era um homem arrogante, então independente de quem viesse, ela já estava feliz pela substituição.
No intervalo antes da Taís entrar, ela e Bruna foram apresentadas pelo Bernardo, diretor.
- Bruna essa é a Taís, a nova "garota do tempo". - Taís era uma mulher tímida, alta, mais alta que a Bruna, magra, com cabelos castanhos escuros na altura do ombro, muito simpática, aparentemente inteligente mas com um semblante triste. Elas apertaram as mãos e Bruna falou sorridente:
- Seja muito bem vinda. E que você traga notícias de bom tempo. - Bruna sorriu e olhou diretamente para os olhos negros da Taís que sorriu de volta e respondeu:
- Sinto muito te decepcionar....
- Droga, achava que hoje ia poder dar minha caminhada na praia. - Bruna era uma pessoa tão metódica que era cansativa. Taís sorriu e falou:
- Se sua caminhada for até as duas da tarde, você está com sorte ...O tempo só muda mais precisamente do meio para o final da tarde. - as duas sorriram e se olharam nos olhos. Bruna sentiu uma sensação diferente invadir seu corpo  Taís tinha uma áurea interessante, era misteriosa, intrigante e atraente... Elas foram interrompidas pela chamada do ar. Tudo correu muito bem.

Quando o jornal terminava Bruna finalizava suas pendências e tratava de correr da redação. Ela precisava fazer muitas coisas até buscar Fernanda na escolinha, ela estava no jardim.
A primeira coisa da lista era passar na feira para comprar algumas coisas para casa, Bruna vivia fazendo dietas, ela tinha facilidade para engordar, então mergulhava em cuidados deveras exagerados para se manter na linha. Ela passava na feira pelo menos três vezes na semana. Apesar de tudo, Bruna era uma mulher muito confiante e bonita. Ela tinha a estatura mediana, cabelos lisos, ligeiramente compridos, um pouco abaixo dos ombros, e na cor mel, olhos castanhos esverdeados e pele levemente bronzeada. Tinha as unhas sempre muito bem cuidadas e sempre com esmaltes vibrantes escuros ou vermelhos.
Hoje era dia de feira e logo depois da caminhada com a  Flávia. "Vou mandar mensagem para ela, do jeito que é esquecida, vai me dar bolo". Bruna sorriu pensando na amiga que já era de anos, pelo menos quinze anos. Flavua era mais velha, mas elas se conheceram na faculdade e desde então nunca mais se desgrudaram...
Bruna correu em casa, Ricardo já tinha saído para dar aula e levou Nandinha para a escolinha também. Ela deixou então os legumes na geladeira e as frutas na fruteira. Dona Edileuza já tinha chegado. Ela era a secretária da casa, Bruna não vivia sem ela. Se conheciam ha bastante tempo também, na verdade desde que Bruna chegou na cidade, Edileuza trabalhava com ela.
- Esses tomates estão bonitos... - Didi, como ela era chamada, falou.
- Eu tive que brigar por eles, queriam pegar, você acredita? - Bruna falou rindo da situação.
- Você arruma tanta confusão nessa feira que ainda vai ser banida. - Didi falou rindo enquanto organizava os tomates. Enquanto conversavam Bruna tomava um copo de água.
- Didi, eu sou uma das maiores fomentadoras dessa feira, se me banirem, eles que saem perdendo. - Bruna falou convencida.
- A senhora é muito convencida, isso sim. - Didi debochou e continuou: - O que vamos ter para o almoço? - Ela sempre perguntava.
- Corta para mim os legumes e desce o frango, se quiser, pode temperar o frango, vou fazer frango com legumes e um molho especial. - Bruna falou encostada na bancada da pia.
- Senhor Ricardo vem almoçar?
- Não sei Didi... - Bruna respondeu pensativa e continuou: - Ele tem andado tão reservado... Mas enfim, separa a quantidade como se ele fosse comer também. - Didi olhou triste, ela percebia que o casamento não ia muito bem e tinha intimidade suficiente para se posicionar a respeito:
- Na minha época, a gente pegava marido pela boca. Senão pegava na cama. - Didi era uma senhora de uns sessenta anos, mas muito disposta.
- Se fosse tão fácil assim... - Bruna lamentou: - O que fazer se teu marido mudou completamente... Quer dizer, ele não conversa mais, está sempre introspectivo... Ja tentei de tudo. As vezes acho que ele está escondendo algo. - a pergunta foi retórica, apesar de toda intimidade, Didi não gostava de interferir muito além.
- Bom, chega de conversa, preciso correr, o tempo é curto. - Bruna apoiou o copo na pia e correu para colocar a roupa de ginástica.
Saiu acelerada de casa, pois Flávia já havia mandado mensagem, estava no posto 7 da praia. Normalmente Bruna ia a pé, mas a hora estava apertada, resolveu ir de carro.

A Previsão do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora