Morando juntos

288 20 0
                                    

Bruna sentou ao volante, respirou fundo e rememorou tudo que aconteceu, sentia um misto de culpa com frio na barriga. Ela estava muito apaixonada pela Taís e por isso tinha tanto receio. Pela primeira vez sentia sua vida perdida, sem controle algum. Tudo saiu do que tinha planejado. Repirou fundo, se recompôs no volante e seu celular vibrou. Ela revirou os olhos irritada achando ser o Ricardo, estava sem paciência alguma para ele, mas era uma mensagem da Taís:
" Só queria checar se essa linha de comunicação estava aberta"
Bruna digitou, digitou e não conseguia responder. Sorriu e já sabia o que digitar:
"Essa é nossa linha especial e ela não irá se fechar..."
"Promete? Eu senti muito a sua falta..."
"Prometo."
Mandaram alguns emojis fofos e Bruna deu partida. Pensou que passaria a ter que esconder o celular do Ricardo. Não podia acreditar que tinha mergulhado nisso, "seria apenas uma aventura?" Se perguntou.
Chegou em casa cansada, fisicamente e emocionalmente. Assim que entrou na sala, avistou Ricardo sentado no sofá com a TV ligada, ele estava recostado, cochilando. Em seu colo, dormia a Nandinha. Bruna olhou para a cena e sentiu uma culpa enorme por estar enganando o marido. O que deveria fazer, pedir divórcio? E a Nandinha? Como as coisas ficariam? Não estava pronta para nada disso. Respirou fundo e tentou pegar a filha para levar ao quarto. Ricardo despertou e falou sonado:
- Quer que eu leve ela? - perguntou de olhos fechados.
- Não se preocupa, eu levo. - Bruna falou com a menina adormecida nos braços.
Assim que colocou a criança na cama, a cobriu e deu um beijo na testa. Em seguida foi tomar um banho e se preparar para dormir. Antes disso, foi comer algo na cozinha, estava esfomeada, afinal ela e Taís não haviam jantado.
Quando entrou no quarto, Ricardo a aguardava sentado na cama.
- Está tudo bem? - perguntou.
- Sim, porque?- Bruna perguntou enquanto secava o cabelo com a toalha.
- Nada... - Ricardo respondeu.
- Você quer me falar algo? - Bruna perguntou impaciente pegou o hidratante para passar nas pernas.
- Eu estou confuso Bruna, você me deixa assim. Tem horas que parece que nosso casamento está indo ladeira abaixo, fazemos terapias, viajamos, passamos finais de semana namorando e de repente você fica assim, fria, distante... Eu queria entender o que se passa.  Você por acaso está me traindo? - Ricardo perguntou e Bruna sentiu frio na barriga, se assustou.
- Claro que não! - Bruna respondeu com os olhos arregalados e continuou: - Como você pode me fazer uma pergunta dessas?
- Eu já não sei de mais nada... - Ricardo respirou fundo, coçou a testa e continuou: - Bom, talvez eu precise fazer uma viagem a trabalho.
- Viagem a trabalho? Mas desde quanto você viaja a trabalho?! - Bruna perguntou surpresa.
- Me convidaram para dar um aulão em um curso super renomado em Osasco.
- Osasco, São Paulo?! - indagou e continuou: - Mas isso é algo muito bom, não é? Quer dizer que seu trabalho está sendo notado.
- É, é... É sim. - Ricardo olhou para baixo confuso.
- Você está me escondendo alguma coisa Ricardo...
- Eu... na-na-não.
- Foi por isso que me ligou mais cedo? Para me contar da viagem? Quando vai ser?
- Sim, queria te dar a notícia de outra forma, mas você me tratou muito mal...
- Desculpa... - Bruna se aproximou do marido e o abraçou. - Olha, eu estou muito feliz por você. Sabe que me emociono com cada conquista sua... Pera aí... Osasco...É naquele curso que sempre me fala? Aquele que tem praticamente 100% de aprovação no vestibular e só filhos de deputados e empresários estudam?
- Sim, bom, eles estão abrindo alguns programas de bolsas integrais, expandindo... Estão com um monte de propostas interessantes.
- Legal, me conta mais... - Bruna se sentiu culpada por tudo, como vinha tratando o marido e por perceber que ele era um cara empenhado, trabalhador, envolvido. Às vezes só precisava dar um pouco de atenção. Sentou-se a cama do lado do marido e eles conversaram bastante. Acabou que com isso, Bruna dormiu mais tarde do que o de costume e por pouco não perdeu a hora para o trabalho.
Ela odiava quando isso acontecia, o dia não rendia, sentia seus olhos arderem como se tivessem pimentas. Sentia dor de cabeça, fazia tudo muito acelerada e acredite que para quem é metódica, isso pode ser uma catástrofe.
Assim que terminou de apresentar o jornal, foi para redação estudar às proximas pautas, fazia isso entre longos e intermináveis bocejos. Finalmente pela primeira vez desde que acordara, pôde pegar no celular. Tinha uma mensagem da Taís, ela mandou às três e meia da madrugada,  Bruna achou aquilo fofo, pois ela provavelmente acordara naquele horário para mandar bom dia. Na mensagem dizia:
"Bom dia... Te desejo um dia repleto de luz S2"
Bruna sorriu e ficou ali olhando para mensagem com um sorriso apaixonado. Foi quando Paulo a abordou por trás.
- Sorriso de quem está apaixonada... - Paulo
- Eu diria que está mais para cara de sono... Mas pera aí Paulo, você veio aqui esticar o olho no meu celular para...?- Bruna grosseira.
- Calma calma... Não é para tanto assim.
- Você não tem nenhuma matéria para cobrir na rua? - Bruna debochou, pois sabia que nem no jornalismo, nem na área técnica, as pessoas não curtiam cubrir matéria na rua.
- Ok, me retirando... Mas enfim, você está muito bem. - Paulo se referiu a aparência da Bruna.
- Obrigada... Paulo, você que conseguiu vaga nova para Taís?
- Na verdade foi mérito total dela, mas sim, mexi meus pauzinhos para ajudar... Sabe como é não é?
- Não sei... Me conta mais.
- Trabalho aqui há quase 12 anos, a gente vai conhecendo as pessoas certas.
-Vocês dois estão juntos?
- Achei que vocês fossem amigas...Ela não te contou? - Paulo indagou.
- O que? Me contou o que? - Bruna franziu a testa curiosa.
- Estamos morando juntos.
- Mo-mo-morando juntos? - Bruna gaguejou, arregalou os olhos e não podia acreditar.
- Achei que ela tinha te contado ontem, ela me falou que foi jantar... - Paulo parecia saber do jantar. Bruna não conseguia acreditar, Taís estava mentindo.
- Não, não falou... - respondeu chateada. - Mas enfim, preciso voltar a trabalhar... Nos falamos depois.- Bruna deu um sorriso frouxo,e então Paulo se despediu, seguiu para o outro estúdio. Bruna ficou pensativa, não poderia exigir exclusividade da Taís, aliás havia proposto uma  "amizade colorida". Ao mesmo tempo queria Taís só para ela, sentia ciúmes, sentia insegurança...
Seu celular vibrou, era mensagem da Taís.

A Previsão do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora