Você é o que quiser ser

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O dia começou e já estava a toda, Bruna chegou na redação tendo que cobrir um desabamento de dois prédios que até então havia deixado seis pessoas mortas e vinte feridos. Foi uma manhã intensa e exaustiva tanto fisicamente, quanto emocionalmente. Ela sofria muito com qualquer desastre deste porte.
Todos os jornalistas e repórteres foram acionados para cobrir a notícia e eles iam chegando aos poucos na redação. Inclusive Taís que logo que chegou foi para o estúdio que era gravado o jornal da Bruna. Lá estava ela, atenta a notícia e falando muito bem articulada em frente às câmeras. Seu semblante não era bom, assim como os dos demais. Paulo se aproximou da Taís e falou:
- Hoje está difícil, dois amigos foram lá no local do desabamento e disseram que foi construção irregular.
- Como assim?! - Taís indagou com os olhos arregalados.
- Não é confirmado, ainda estão avaliando, mas existem fontes muito fiéis que estão afirmando isso. Mandaram engenheiros civis para avaliar a tragédia. - Paulo continuou a falar e deu intervalo no jornal, Bruna que já tinha avistado a Taís nos bastidores, correu para falar com ela.
- Você também foi acionada? - perguntou.
- Todos fomos... A redação está um caos, lotada, vamos ter uma reunião no auditório daqui há alguns minutos.... Você está bem?
- Estou assustada...- Bruna abaixou a cabeça. - Pode ser que tenham mais mortos... Estão procurando nos escombros. - Bruna falou com lágrimas nos olhos. Taís a abraçou com carinho. Bruna desabou, sentia segurança nos braços da Taís. Paulo olhou desconfiado para as duas.
- Ei... Calma, você vai precisar voltar lá...- Taís falou tentando olhar nos da Bruna.
- Eu fico muito mal quando essas coisas acontecem, penso na mãe que estava assistindo tv com seu filho, ou a avó que estava rezando um terço, um pai voltando do trabalho... - Bruna inconsolável.
- Fica calma, as pessoas estão sendo cuidadas, você sabe muito bem que precisamos estar calmas para dar a notícia. - Taís foi dando carinho na Bruna que foi acalmando rapidamente, uma das maquiadoras se aproximou, e falou:
- Deixa eu jogar um pouco de água thermal e diminuir esse vermelho no rosto... - a mulher se aproximou, Bruna saiu dos braços de Taís para retocar a maquiagem.
- No ar em um minuto. - gravação para que Bruna se posicionasse de volta na bancada.
- Vou ficar aqui até a hora da reunião. - Taís sorriu e acariciou o rosto da Bruna que fechou os olhos e sorriu de volta.
- Bruna... - Paulo interferiu para que Bruna voltasse para a bancada. Ele tinha claramente ciúmes daquela situação. Ao mesmo passo que as pessoas da parte técnica e bastidores que ficavam ali no estúdio observaram a troca de carinho das duas intrigados.
Bruna retornou para o posto e continuou a noticiar a tragédia. Taís ficou mais algum tempo ouvindo atentamente e admirando Bruna, estava escorada ao fundo, de braços cruzados. Quando deu a hora da reunião se apressou para descer no auditório. Depois dali elas não se viram mais pela manhã.
O jornal acabou, e Bruna logo foi abordada pelo Bernardo, o diretor geral, que passou algumas novas atualizações extra oficiais à respeito do desabamento e também pediu que ela cobrisse o jornal da noite, horário nobre. Bruna prontamente concordou. Eles conversaram um pouco sobre a condução da reportagem e as investigações e então Bernardo foi convocado para outra micro reunião interna, da diretoria, pediu então licença para Bruna e se retirou.
Bruna por sua vez, ligou para Didi avisando que passaria o dia inteiro na emissora, pediu que ela assumisse todos cuidados/rotina da Nandinha. Didi já contava com esses imprevistos e todavia estava acompanhando às notícias pela tv também.
Depois disso tudo, Bruna foi atrás da Taís que provavelmente ainda estaria em reunião no pequeno auditório que ficava no andar de baixo.
Chegando no auditório que estava lotado, já da porta, Bruna notou cadeiras à frente, que Paulo estava sentado ao lado da Taís, abraçava ela por cima dos ombros. "Ele não perdeu tempo, mal acabou o jornal, e correu para ficar com a Taís..." pensou Bruna irada de ciúmes. Ela queria compreender qual era o tipo de relacionamento que eles tinham. Sentou discretamente nas últimas cadeiras do auditório, cruzou as pernas e ficou quieta observando. Paulo sussurava coisas no ouvido da Taís e ela retribuia os sussuros, ou sorrindo ou falando também algo em seu ouvido. Ele dava alguns beijos na sua bochecha, ela sorria. Era real, eles tinham algo. Bruna cruzou os braços e se sentiu muito mal em ver aquilo. Entretanto, por mais que estivesse chateada, também estava muito cansada, então descruzou as pernas, braços e tentou relaxar na cadeira, apresentar o jornal e ainda dando cobertura a algo tão grave mexia muito com seu corpo, sua energia.Respirou fundo e fechou brevemente os olhos, respirou mais algumas vezes e ficou ali sentada quase deitada com os olhos fechados. Poderia fazer isso no camarim, a reunião não era para ela, mas queria estar ali perto da Taís.
A reunião acabou, Taís havia sido escalada para cobrir a matéria na rua no período inteiro da tarde. Às vezes esses remanejamentos aconteciam para quem não era apresentador da bancada. Principalmente em matériais mais graves. Bruna percebendo que a reunião havia acabado, se ajeitou na cadeira, mas não se levantou, continuou observando Taís relativamente de longe, mexia no celular para disfarçar, Ricardo inclusive já havia dado notícias de que chegara bem e de que tinha visto a matéria. Bruna conversava com ele por mensagem , contudo com um dos olhos vigiava Taís que por sua vez, não tinha notado presença da Bruna no auditório. Quando de repente Taís  ainda sentada, enquanto ajeitava suas coisas para ir cobrir a matéria na rua, recebeu um inesperado beijo  seus lábios, do Paulo, algumas pessoas que passavam perto, brincaram inclusive com o casal.
Aquilo foi o ápice para Bruna que sentiu seu corpo ser invadido pelo ódio, pelo ciúme, uma sensação horrível. Era demais para ela. Levantou apressada para ir embora do auditório e assim que o fez Taís a avistou, se desviou do Paulo e correu para Bruna. Paulo por sua vez, ficou parado no auditório, de peito estufado, certo da sua conquista.
- Bruna! - Taís deu uma corrida no corredor para alcança-la. Bruna virou de braços cruzados, claramente chateada.
- Você não deveria ir se arrumar para cobrir a matéria?- Bruna que enrugava a testa, respondeu irritada.
- Ha quanto tempo estava lá no auditório? - Taís indagou preocupada.
- O suficiente... - Bruna permaneceu de braços cruzados, olhou para baixo.
- Eu não sei o que viu, mas não é o que parece. - Taís tocou nos braços da Bruna.
- Taís, eu... - Respirou fundo, olhou nos olhos da Taís e completou: - Eu admito que não curto nem um pouco ver você e o Paulo juntos... - uma pausa, descruzou os braços e continuou: - Mas você é livre.
- Eu sou livre Bruna? - Taís olhou em seus olhos e tocou agora no ombro direito dela. Bruna fechou os olhos cansada e respirou fundo e falou:
- Você é o que você quiser ser... - encolheu o ombro para tirar a mão da Taís e a deixou sozinha no corredor.

Se apressou para entrar na sala da redação, pois tinha coisa para fazer antes de entrar no ar novamente. Taís ficou um tempo parada, chateada, uma lágrima desceu dos seus olhos, todo aquele romance que vivia em uma montanha russa, que era avassalador, a deixava muito confusa. Ela queria entender o que Bruna quis dizer com aquilo. Respirou fundo e seguiu para ir cobrir a matéria na rua.

O dia passou e foi bem difícil, estava tarde, passava das nove da noite e Bruna ainda estava no estúdio. Havia acabado o jornal e ela acompanhava as notícias a respeito do desabamento na redação. Haviam encontrado mais duas pessoas dos escombros,  e no total tinham oito mortos e quarenta feridos. Foi uma tragédia e que possivelmente causada por construção irregular da prefeitura. Estava uma verdadeira confusão, muitas notas da prefeitura chegavam o tempo inteiro e agora a equipe da noite/madrugada assumiria.
Bruna guardou suas coisas, não havia mais falado com Taís, ela deveria ainda passar na emissora antes de ir para casa, mas Bruna evitou pensar ou falar com ela, nem mesmo por mensagem. Estava realmente chateada.
Pegou sua bolsa, juntou suas coisas, já ia saindo da redação, quando deu de cara com a Taís, foi um esbarrao e tanto. Elas se desconsertaram e seus rostos ficaram próximos. Taís sorriu e falou:
- Isso que eu chamo de contar com o destino... - Bruna podia sentir a respiração da Taís, um beijo era realmente tentador, mas não podia acontecer, apesar da sala praticamente vazia, elas estavam ali, no meio da redação.
Bruna não respondeu, elas apenas se olharam e isso ja era o suficiente para o desejo penetrar em suas almas. Bruna se afastou da Taís para desviar e ir embora.
-Ei... Aonde você pensa que vai... - Taís falou sorrindo, acompanhando a Bruna.
- Você está com cheiro de entulho...
- Esqueceu como é cobrir matéria na rua?
- Não Taís...Não falei do "entulho" dos escombros... - Bruna deixou no ar, mas se referia ao perfume do Paulo, continuou andando para ir embora.
- Achei que tínhamos um compromisso hoje à noite. - Taís se referia a se encontrarem no apartamento da Bruna.
-Desculpa hoje estou cansada... -Bruna falou e parou para chamar os elevadores. Taís pegou em sua mão e falou:
- Bruna... O que houve? Quer dizer... O que eu fiz...?
- Você já me perguntou e eu disse que não fez nada, você é livre! - Bruna falou em voz alta.
- Eu não quero ser... - Taís se aproximou da Bruna e passou uma das mãos pela sua cintura e a outra pegou no pescoço da Bruna que se assustou, arregalou os olhos, afastou a cabeça e falou preocupada:
- Aqui não... - segurou nos braços da Taís tentando desvencilhar-se.
- Onde então? - Taís suplicou com os olhos. Bruna não podia resistir àqueles olhos, no fundo ela queria mais do que podia imaginar.
- Ok, vamos para o meu apartamento. - Bruna sorriu, parecia esquecer de toda sua chateação num estalar de dedos. Elas entraram juntas no elevador, não desviavam o olhar, se desejavam. Taís tomou a inciativa, empurrou Bruna contra a parede do elevador e pediu passagem para um beijo, Bruna não pôde resistir, estavam sozinhas no elevador e retribuiu ao beijo, sem língua a princípio, até que sentiu a língua da Taís querendo entrar e explorar sua boca, Bruna concedeu e pegou nos cabelos da Taís, se entregou apaixonada àquele beijo. O elevador chegou na garagem e elas mal podiam perceber, estavam mergulhadas no beijo molhado, sedento. Até que foram notificadas por uma faxineira que puxou um "pigarro" para chamar atenção.
Bruna se assustou e logo soltou Taís. A faxineira olhou para baixo sem graça, Bruna falou:
- Desculpa, não é o que parece! - ela ficou claramente nervosa por ter sido pega.
- Vamos Bruna... Boa noite. - Taís sorriu nervosa para a faxineira e percebendo que Bruna estava falando demais, a puxou pelo braço e foram na direção do carro.
- Mas tem que explicar para ela que... - Bruna ainda tentou se justificar.
- Vamos logo Bruna! - Taís cerrou a boca para falar e apertou mais forte a mão da Bruna, sabia que quanto mais ela falasse, mais o problema poderia se agravar.
Já dentro do carro, Bruna que estava suando de nervoso falou:
- E se ela espalhar na redação?!
- Calma, pode ser que ela seja uma pessoa discreta... Olha, não temos muito o que fazer, vamos contar com a sorte. - Taís tentou acalmar a companheira.
- Contar com a sorte? Taís, você sabe o quanto eu tenho a perder?! Se o meu chefe descobre? Posso ser demitida... E o Ricardo?! Já pensou nisso? - Bruna se exaltou.
- Ok... - Taís se preparou para sair do carro com a dura da Bruna.
O clima tinha acabado.

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