A Previsão do Amor

Mulheres também

Bruna chegou apreensiva na redação naquela manhã. Não sabia explicar o motivo, mas toda aquela aproximação do Ricardo a estava deixando nervosa... Ela se sentia confusa em relação ao casamento ou por algum motivo ja estava acomodada ao marasmo e até mesmo o descaso. Havia tentado tantas vezes que seu íntimo já teria desistido e os sentimentos decantados.
Assim que chegou na redação, ela foi logo abordada pela Taís que a aguardava ansiosamente. Ela estava sorridente e aquilo deixava Bruna feliz, trazia até mesmo algum conforto, ela conseguia se perder no sorriso da Taís. Respirou fundo, sorriu e falou:
- Tem alguém que já está se adaptando com o horário da madrugada...
- Preciso falar com você. - Taís puxou Bruna pelo braço e elas foram até a varanda do estúdio que ficava na cobertura. Ainda era noite, na verdade era madrugada. Taís sentou-se em uma mini arquibancada de concreto que ficava na sacada da cobertura e bateu a mão no concreto para que Bruna sentasse ao seu lado.
- O que houve? Estou curiosa... - Bruna perguntou curiosa, sorrindo ela sempre tinha um sorriso no rosto quando estava na presença da Taís.
- Toma. - Taís entregou as chaves do apartamento da Bruna que franziu a testa confusa.
- Mas... Você pode ficar o quanto precisar...
- Não preciso mais. - Taís radiante continuou: - Ele está preso!
- Ele? O Arthur?! - Bruna sorriu animada. Taís confirmou com a cabeça. Bruna abraçou Taís imediatamente. Elas estavam sentadas um do lado da outra e o abraço foi um tanto quanto torto. Ficaram abraçadas por alguns segundos, em meio o abraço Taís involuntariamente virou o rosto em direção ao pescoço da Bruna que sentiu seu corpo inteiro arrepiar, mas não se moveu, mesmo sentindo o seu corpo tão próximo ao da Taís. Sentiu o calor emanando dali e ao mesmo tempo conforto, uma sensação familiar. Bruna foi saindo delicadamente do abraço, o rosto da Taís estava apoiado sob seu ombro, seus lábios ficaram muito próximos, tanto que podiam sentir suas respirações. Bruna ficou ali, estática, sem iniciativa. Um clima tenso surgiu com aquele abraço e elas queriam, seus corpos pediam, Taís tomou então a inciativa, pegou no pescoço da Bruna, acariciou seu cabelo e puxou seu rosto pedindo passagem para um beijo. Bruna não relutou. Seus lábios se tocaram e Bruna podia sentir faíscas só dos lábios suaves, macios e doces de Taís repousarem sob os seus. Taís pediu passagem para entrar com sua língua, mas Bruna não consentiu, se sentiu travada, assustada e acabou saindo bruscamente do beijo. Levantou e falou:
- Sinto muito... - franzindo a testa e perdida continuou: - Eu não posso...Desculpa. - Bruna entrou correndo para a redação. Tais por sua vez ficou sentada, sem se movimentar, tocou seus lábios e sorriu.
Em um lugar seguro, sem que Taís a visse, Bruna parou por um segundo, fechou os olhos, rememorou o beijo, sorriu e também com a mão tocou nos lábios. Ela estaria se apaixonando? Logo em seguida recobrou a consciência e foi dar início a sua rotina de trabalho.
Depois disso, o clima ficou estranho entre as duas, quer dizer, elas estavam agindo quase que normalmente, mas omitindo o acontecido. Só apresentavam um quadro juntas, que era o da previsão do tempo e nesse momento tudo transcorreu normalmente.
Ao final do programa, Taís foi no camarim se despedir da Bruna. Notou que ela estava sozinha e falou:
- Bruna... Eu queria te pedir desculpas pelo que aconteceu... Eu confundi as coisas. A verdade é que me levei pelo momento, pela emoção da notícia. - Taís não parecia sentir nenhum arrependimento, mas sentia que precisava fazer isso para que as coisas não ficassem mais estranhas entre as duas. Afinal elas haviam se tornado amigas.
- Tu-tu-do bem. - Bruna gaguejou.
- Amigas? - Tais estendeu a mão para Bruna que a correspondeu comprimentando. - Bom, preciso ir, pois tenho que retomar meu apartamento.
- Ele vai ficar preso?
- Não... Infelizmente não, vai pagar fiança,  apesar dele ter sumido do mapa depois do que fez, ele não oferece perigo nesse momento. De toda forma fui instruida pela assistente social, a instalar câmera interna de segurança e trocar fechaduras. Ele também já manifestou arrependimento e concordou com o acordo de distanciamento. Estou entrando com a papelada do divórcio. Estou pronta para virar essa página na minha vida. Iniciar um novo ciclo. - Taís falou aliviada.
- Fico muito feliz por você! Não sabe o quanto... - Bruna sorriu feliz, olhando diretamente nos olhos da Taís. No fundo queria fazer o mesmo com o seu casamento com Rodrigo.
- Te liguei ontem para dar a notícia, mas não consegui falar...- Taís deu uma pausa e continuou: - Enfim, serei eternamente grata a você por tudo isso.
- Não se preocupe. Estou muito feliz por você, de verdade... - Bruna falou e continuou: - Você vai na confraternização?
- A da emissora? - Taís indagou.
- Sim! Tem outra? - Bruna perguntou confusa.
- A galera da produção estava comentando de alguma coisa num pub essa semana.
- Sério ?! Não sei porque me excluem... - Bruna coçou a testa.
- Acho que eles tem medo de você, quer dizer, você é tão séria, certinha... Emponderada. "A Apresentadora do Jornal", a galera deve achar que você não topa beber no barzinho.
- Emponderada? Medo? Você está sendo irônica? - Bruna indagou surpresa pelo comportamentonda Taís.
- Não falei para te criticar, te admiro muito, além do mais amo esse seu jeito, super protetor, meio controlador, essa "proteção" que criou para encarar o ambiente de trabalho. A gente sabe que nesse meio, nós mulheres precisamos nos armar.
- Bom, eu não tinha consciência disso. Mas sim...  É seguro manter privacidade, distanciamento em alguns momentos. Para mim isso é fluído, natural. Não premeditado.
- Eu sei...
- Você não tem "medo" de mim? - Bruna perguntou curiosa.
- Eu não tive tempo para isso, você me acolheu imediatamente assim que cheguei aqui.
- Você tinha tristeza nos olhos... - Bruna respondeu e desconsertou Taís que respirou fundo e parecia não tão resolvida assim em relação ao que passou. Ela falou:
- Preciso mesmo ir... - Taís encerrou a conversa e saiu apressada do camarim. Bruna ficou sentada pensativa, talvez tivesse sido um tanto quanto insensível.

Chegou na praia no mesmo horário de sempre. Flávia estava sentada no quiosque próximo ao posto tomando água de cocô. Estava mexendo no celular. Bruna se aproximou e falou por trás:
- Vai dar "match"! - brincou com a amiga, pois kmaginava que ela estivesse procurando algo no aplicativo de namoro.
- Nada... Quem dera. É problema amiga, com o Rodolfo. - Flávia se referia ao filho mais velho.
- O que houve? - Bruna franziu a testa.
- Ele está teimando com um intercâmbio no Canadá. Mas o pai não concorda que seja agora.
- Mas porquê?
- Ele está fazendo vestibular, precisa se concentrar e vem com essa de tirar ano sabático... - Flávia colocou a mão na cabeça.
- Pode ser uma experiência interessante. - Bruna comentou.
- Experiência interessante seria ele trabalhar para bancar a faculdade. Bruna meus filhos estão mimados demais, acho que não soubemos ensinar a dar valor as coisas... - Flavia lamentou e continou: - Para falar a verdade eu mesma não sei dar valor, e eles acabam me espelhando... - Flávia falou preocupada.
- Às vezes acho que estou indo pelo mesmo caminho com a Fernanda... - Bruna sentou-se no quiosque com a amiga.
- Vamos beber? - Flávia propôs.
- A essa hora? - Bruna indagou e continuou: - Quer saber?! Vamos! - bateu a mão na mesa animada.
- É assim que se fala. - Flávia animou também.
- Deixa eu ligar para a Didi arrumar a Fernanda para a escola.
Elas saíram do quisque e foram para um barzinho beber.
Em meio às lamentações e murmúrios, continuaram a falar de filhos, casamento, divórcios...
- E a Taís? Ela não veio mais caminhar com a gente... Eu gosto dela.- Flávia falou, Bruna se engasgou com a taça de vinho. -Tudo bem? - Flávia perguntou.
- Flávia... Eu acho que eu traí o meu marido. - Bruna falou no supetão. Dessa vez Flávia se engasgou.
- Co-como assim? - Flávia arregalou os olhos surpresa.
- Eu não sei se foi uma traição. - Bruna falou pensativa, já tinha mandado duas taças para dentro e estava relativamente alta: - Ser beijada é trair?
- Depende... Qual foi sua reação a esse beijo? Como foi o beijo?
- Rápido.... - Bruna tocou os lábios apaixonada e continuou: - Definitivamente não retribuí.
- Nesse caso... Acho que não é uma traição. Pode me dizer quem te beijou? - Flávia indagou curiosa.
- A Taís... - Bruna não deu rodeios para revelar.
- "What"?!!! - Flávia ficou pasma. Bruna corou sem graça. - Amiga...? Você...? Hã....
- Sabia que iria reagir assim...
- Olha, eu não considero uma traição, mas é verdade que se isso aconteceu é porque algo existe...- Flávia sugeriu..
- Lá vem você com suas teorias amorosas. Nada existe! - Bruna negou, mas sem convencer.
- Então Taís está viajando na maionese. Confundindo as coisas entre vocês? - Flavia colocou a mão no queixo e continuou: - Se bem que na faculdade você despertava uns amores platônicos. Lembra do Gregório do nada se declarou para você? - Elas riram lembrando. Bruna falou:
- Não sei se são essas taças, mas eu tenho que confessar que a Taís não está viajando... Eu estou confusa amiga. - Bruna coçou a testa e olhou para o lado.
- São muitos conflitos para você, evidente que vai ficar confusa. Mas amiga, se tem algo florecendo dentro de você, não deixa passar. - Flavia deu uma pausa e continuou: - Mulheres Bruna? Eu simplesmente não sabia... - Flávia estava curiosa.
- Não sei o que você quer ouvir. Mas sim, mulheres também. - Bruna sorriu tímida.
- Você realmente é uma caixinha de surpresas... - Flávia ainda surpresa.
- E o que faço em relação ao Rodrigo? - Bruna indagou séria.
A pergunta ficou no ar, Flávia não queria influenciar Bruna e nem fazer com que ela tomasse alguma decisão pela qual se arrependesse posteriormente.