Uma rosa vermelha

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Flávia entrou no carro e cumprimentou a amiga. Bruna estava com os olhos marejados.
- O que foi...? - Flávia franziu a testa preocupada.
- A senhora não pode ficar parada aqui. - era uma rua movimentada e um guarda já veio logo advertir.
- Ok, ok... Já estou saindo. - Bruna deu partida no carro e seguiu a caminho do shopping. Silêncio no carro, lágrimas insistentes desciam dos olhos da Bruna, parece que assim que Flávia entrou, Bruna se sentiu mais a vontade para chorar.
- Bruna... Por favor, você pode falar algo. Estou aflita em te ver assim.
- Eu estou perdida amiga. Acho que não estou enxergando as coisas com clareza.
- Tenta ficar calma... Na vida, tudo tem uma solução. Só não para morte.
- Ok... Mas tem algumas decisões que partem nossos corações em mil pedaços. Aí o que fazemos? Preferimos ficar em cima do muro. - Isso é normal, confortável por um tempo... Mas entenda que tudo isso é temporário. Acontece é que você é como eu, somos mulheres intensas.
- É esse shopping mesmo? Que você queria ir...- Bruna apontou o shopping a frente. 
- Pode ser qualquer um que eu possa comprar roupas dignas para o meu filho relaxado. - Flávia brincou. Bruna então entrou com o carro no estacionamento do shopping.
Elas desceram do carro e enquanto caminhavam para entrar no shopping, conversavam.
- Sabe o que acontece Bruna?
- O que?! - Bruna respirou fundo e suas lágrimas já haviam cessado. Assim que adentraram no shopping, uma pessoa aleatória/desconhecida abordou as duas:
- Bruna?! - a mulher alta e elegante falou. Bruna franziu a testa confusa.
- Oi..?!
- Eu te assisto todos os dias, adoro seu jornal. Pode tirar uma foto? - a mulher pediu.
- Claro. - Bruna mudou a fisionomia, se ajeitou, sorriu o máximo que pôde e se posicionou do lado da mulher que pediu que Flávia a fotografasse. Essas coisas aconteciam, não com muita frequência, mas era isso, Bruna era uma mulher pública, de um grande jornal matinal e precisava estar preparada para essas abordagens.
- Ficou boa? Se quiser podemos tirar outra. - Bruna perguntou para a mulher que olhou sorridente para a foto.
- Esta ótima! Admiro muito você, uma mulher a frente de um jornal nesse espaço que tem uma predominância significativa de homens. - a mulher falou em admiração. Aquilo levantou o ego da Bruna que antes estava triste, confusa. Ela sorriu e falou:
- Eu fico feliz que eu esteja sendo vista dessa maneira. É um dos meus objetivos na vida. Sou mãe de uma menina e quero muito que ela tenha espaços no mercado quando crescer.
- Ela terá e também será muito orgulhosa disso. - a mulher sorriu e continuou: - Bom vou deixar vocês a vontade, muito obrigada pela atenção. Me sinto honrada por ter te encontrado pessoalmente. - a mulher sorridente que era muito articulada, se despediu. Bruna sorriu e também agradeceu. Quando já estavam distantes da mulher, Flávia falou:
- Essa é uma das nossas...
- Como assim?
- Intensa... - Flávia sorriu e continuou: - Sabe... isso foi ótimo! Você precisava disso. Entender um pouco do seu sentido, se resignificar. Amiga, você é mais do que esse sofrimento todo...
- Você acha?
- Claro, você precisa enxergar que você não é só a Bruna infiel, ou a Bruna confusa, apaixonada... Você é uma mulher que representa muitas outras. - Flávia completou, Bruna sorriu animada.
- Você ia falar alguma coisa quando chegamos aqui...
- Eu ia? É que a tietagem me distraiu e eu esqueci.... Vamos entrar ali naquela loja? - Flávia pediu para que entrassem numa loja de departamentos. Enquanto iam procurando roupas para o Rodolfo, Bruna se apoiou em uma arara falou:
- Eu... estou completamente apaixonada.
- Bruna, eu fico curiosa com isso ainda... Nunca ia imaginar que você, sei lá, curtisse mulheres. Como é isso?
- O que?
- Ah, sei lá... Como funciona?
- Ué... Da mesma maneira.
- Mas quem toma a frente... Como é? - Flávia parou, estava realmente curiosa, olhou para a Bruna e deu um sorriso safado: - É você não é? Pode falar, você sempre foi assim, decidida.
- Decidida?! - Bruna corou envergonhada. - Amiga... Eu acho que quando é entre mulheres, as coisas fluem mais fácil. Não sei explicar, mas não tem muita mecanicidade, a gente sabe como tocar e onde tocar... - Bruna deu uma pausa e continuou: - Pera aí?! Vai dizer que você, uma mulher tão resolvida, nunca nem sequer experimentou???
- Nunca... - Flávia pensou segurando uma blusa na mão e continuou: - Teve uma vez, mas não rolou nada, eu me assustei, saí correndo, era uma adolescente, e uma coleguinha do retiro veio se declarar para mim. Acho que parti o coração dela...
- Tadinha... - Bruna sorriu. - Essa está linda. - Bruna apontou para a blusa que a Flavia estava segurando.
- Mas eu estou aberta sabe... Não tenho nada contra.Inclusive sou curiosa...
- Está me dizendo que ficaria com mulheres também?
- Não sei... Vamos dizer que tem uma curiosidade guardadinha aqui.
- Eu sempre me senti muito melhor com mulheres do que com homens... Rodrigo foi totalmente imprevisível, para falar a verdade, você sabe que venho de família evangélica, fui fraca, procurei o caminho mais fácil.
- Mas então você ficou com o Rodrigo por conta da sua família?
- Não, não ... Eu o amo. Mas o que estou sentindo por Taís pode se tornar mais forte do que o que me fez casar com o Ricardo.
- Uau! Isso é impressionante. Perdi até meu ar aqui. - Flávia se abanou com a mão. Bruna riu e segurou na mão da amiga.
- Pára de bobeira! - Bruna riu com a amiga, estar com ela a fazia bem.
Elas continuaram a passear pelo shopping, fizeram algumas compras rápidas, sentaram para comer algo. O telefone da Bruna tocou.
- Ricardo? - Bruna falou.
- Sabe onde está aquela mala de mão  que usamos para viagens curtas? Não estou encontrando...
- Boa tarde para você também.
- Desculpa, estou aqui enrolado.
- Você vai viajar hoje?
- Amanhã cedo... Bruna, cadê a mala???
- Calma Rodrigo! Esta no armário lá na dispensa.
- Porque colocou lá? Caramba, procurei na casa toda...
- Ja que você esta em casa, vai pegar Nandinha na escola? - Bruna ignorou a grosseria do marido e perguntou.
- Não, eu vim fazer a mala e volto para o cursinho. Chego tarde hoje, tenho que colocar as coisas em ordem no trabalho.
- Poxa Ricardo, achei que você iria se despedir pelo menos da sua filha...
- A noite eu falo com ela. Preciso desligar para arrumar as coisas aqui.
- Tuuudo bem. Se não nos vermos mais, faça uma ótima viagem! - Bruna grosseira e irônica.
- Amor... Já tinha te avisado da viagem.
- Olha, Ricardo, tudo bem. Eu só queria que você se comunicasse melhor. Deixa eu desligar, porque preciso correr aqui para buscar Nandinha. - Bruna desligou a ligação irritada. Olhou para o celular e viu uma mensagem da Taís.

"Eu estou aqui pensando em como sinto falta do seu beijo..."

Bruna que antes enrugava a testa irritada, transfigurou e sorriu para a mensagem, sentia aquele mesmo frio constante na barriga, não sabia muito bem como se comportar. Respirou fundo e mostrou a mensagem para a amiga.
- Uau, uau... Amiga, caramba... Você vai responder, não é?
- Como respondo? Preciso buscar Nandinha, não posso resolver isso. E pela hora ela ainda deve estar na redação.
- Eu tenho uma idéia... - Flávia confabulando.
- Qual?
- Vamos buscar Nandinha, e a gente da uma passadinha lá no prédio da redação.
- Como assim? Você está doida Flávia?!
- Só faz o que estou falando... Vamos! - Flávia puxou a amiga pelo braço.
- Isso é loucura... - Bruna balançou a cabeça.
- Vem aqui... - Flávia continuou a puxar a amiga pela mão, a conduziu até um quiosque de flores dentro do shopping. Já no quiosque escolheu uma rosa vermelha, uma única rosa. Dali, elas foram apressadas para buscar Nandinha. A caminho da escola, dentro carro, Flávia perguntou para Bruna que estava ao volante.
- Ricardo vai viajar?
- Um curso que ele super admira o chamou para dar alguns aulões em São Paulo como professor convidado.
- Que chique... Ele sempre foi bom no que faz.
- Sim... Ele batalha bastante, muitas noites que nem o vejo... Chega tão tarde.
- Hum...
- O que foi? - Bruna franziu a testa.
- Homens quando trabalham até tarde... - Flávia arqueou as sombrancelhas.
- Sinceramente, já até achei que tinha algo, mas hoje acho que é só trabalho mesmo. O cara é um workholic...
- Bruna, Bruna... - Flávia sorriu.
- Quero entender ainda o que você quer que eu faça... Como vou resolver a Nandinha nisso tudo.  - Bruna apontou para a rosa na mão da Flávia.
- Deixa Nandinha comigo. - Flávia respondeu segura.

A Previsão do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora