Você ainda gosta dela?

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Passaram algumas semanas, o tempo voou, estava corrido, Bruna vinha focando bastante no trabalho, nos estudos, nas plataformas que ela lecionava sobre oratória. Era praticamente isso o dia inteiro e Nandinha também, estava se dedicando ao máximo à filha. Ela e Ricardo estavam dormindo na mesma cama, entretanto, apesar de algumas tentativas frustradas por iniciativa da Bruna, eles ainda não haviam tido contato físico. Bruna respeitava ao máximo, e no fundo ela não tinha interesse, até  preferia essa distância. Eles buscavam conversar sempre. Bruna voltou a igreja e à terapia. Tudo que ela pudesse fazer para recuperar seu casamento, ela estava disposta, ou pelo menos tentava se convencer disso... Ainda pensava na Taís, sentia sua falta e doía em seu coração não poder mais sentir seu toque, seu beijo, seu abraço, foi tão breve, mas tão intenso. Terminou tão mal...Elas não haviam mais se cruzado, Taís a havia bloqueado no celular e Bruna respeitava isso também, afinal, não tinha como mudar nada.
Aquela manhã foi cansativa, notícias ruins no jornal e Bruna só queria ir para casa. Tinham dias assim.
Ela revisava a pauta do dia seguinte na redação e foi abordada pelo seu chefe. Estava tão concentrada no computador que não havia percebido que ele a chamava.
- Bruna?! - Bernardo repetiu, ela olhou assustada e falou:
- O-oi! Você estava há muito tempo aqui?
- Não... Você estava distraída...
- Senta, por favor. - Bruna indicou uma cadeira.
- Eu queria conversar com você...
- Claro. Pode falar, é sobre meu aumento??? - Bruna brincou.
- De fato... - Bernardo sorriu e continuou: - Tenho uma proposta para você que vai aumentar seu salário.
- Hummm...Não é que acertei pela primeira vez. - Bruna sorriu.
- Pois é, vou te dar alguns volantes da mega sena. Mas por hora vamos falar dessa proposta. - Bernardo sorriu e continou: - Preciso que você entre para passar notícias, um panorama da cidade no programa da tarde.
- Gosto muito da proposta, mas eu teria que ficar aqui o dia inteiro, fica um pouco difícil já que chego tão cedo...
- Seriam apenas duas vezes na semana e você poderia retornar para casa e voltar para redação, o panorama entra apenas depois das quatro da tarde.
- Hum, sendo assim fica mais viável....- Bruna pensativa. - Ok, quando posso começar? - sorriu estendendo a mão para o chefe. Não era de recusar ofertas, foi assim que chegou onde estava.
- Bom, antes o Rh vai entrar em contato com você para passar a proposta de acréscimo ao seu salário. Vocês entrando em acordo, já pode começar amanhã.
- Certo. E vou entrar no lugar de quem?
- Luana, ela ta saindo da emissora. Vou te passar o contato dela para vocês conversarem. É uma entrada muito simples, fica no meio do programa da tarde, coisa bem rápida. Você é uma pessoa muito querida por todos, e foi logo indicada.
- Ahh, obrigada. Fico feliz que eu esteja fazendo bem meu trabalho! Bom, sendo assim me passa o contato da Luana que hoje mesmo vou ligar para ela. - Bruna falou sorrindo.
Eles conversaram mais um pouco em seguida Bruna se despediu do chefe. Passou no rh para assinar o contrato e foi embora para casa. Estava tarde, naquele dia não iria caminhar com Flávia.
Assim que saiu do prédio já enquanto dirigia, ligou logo para a Luana.
- Oi Luana, boa tarde, aqui quem fala é Bruna, sou apresentadora do bom dia.
- Oi Bruna, que legal, gosto muito do seu trabalho. - Luana no viva voz.
- Muito obrigada. Estou ligando pois parece que vou assumir seu posto no programa da tarde.
- Me informaram, que legal!
- Espero que esteja tudo bem... Quer dizer, está tudo bem?
- Sim sim, estou saindo pois fui convidada por outra emissora para apresentar o jornal em horário nobre.
- Bacana! Sendo assim é um bom motivo. Parabéns!
- Muito obrigada! Bom, eu vou te passar todas as informações, a pauta é sempre um apanhado da manhã, o nome da pessoa que envia é Taís, super gente boa.
- Ta-tais???
- Sim, você a conhece?
- É...hã.... Talvez, sim. Conheço! Ja trabalhamos juntas...
- Ah que bom! Então você vai trabalhar diretamente com ela, pois é a responsável por todas as entradas da tarde. Tem dois auxiliares também, eles vão te ajudar se precisar entrar de outros ambientes como sua casa. É bem simples.... - Luana continuou a fala, mas Bruna estava em choque, não escutava mais nada, o destino havia pregado uma peça e estava em uma sinuca de bico. Como resolveria? Já havia assinado o contrato, se comprometido.
Estava aflita, precisava conversar, ligou para a Flavia. Ela estava em casa, Bruna resolveu ir na casa dela. Chegando lá, Flávia estava com roupas de casa, com o olhar cansado, com cara de dona de casa, era bem difícil ver Flávia daquele jeito, era sempre tão elegante, jovial...
- Oi amiga, pode ir entrando que estou terminando aqui a janta. - Flávia falou apressada correndo para a cozinha com um pano de prato pendurado no ombro. Elas foram para a cozinha. Chegando lá, um jovem rapaz chegou nervoso:
- Ô mãe! Você viu minha blusa do "rock in rio"???
- Rodolfo, filho, você não fala com a visita?
- Oi tia Bruna... tudo bem? - Rodolfo acenou para Bruna que sorriu e acenou de volta.
- Já procurou no armário do seu irmão? Eu posso ter trocado de armários... - Flávia deu uma pausa e continuou: - Vem cá?! Você vai sair?
- Vou na casa da Gigi.
- Ahh não filho... Olha, fico aqui que nem uma doida cozinhando para vocês saírem???
- Pow, é que eu já marquei com ela...
- Chama sua namoradinha aqui para casa.
- Não... Ela não é minha "namoradinha".
- Ainda, não é?! Bem que você quer...
- Ei mãe! - o menino corou constrangido: - Ok, vou chamar ela... O que tem aí para o almoço? - esticou os olhos para as panelas. Bruna apenas observava.
- O seu favorito, bife com batata frita.
- Tá beleza! Vou lá pro meu quarto então. - o menino se despediu e foi para o quarto. Bruna observava tudo com curiosidade, a amiga que parecia tão desgarrada de tarefas domésticas, sempre tão elegante, ali descabelada. Ela estava escorada na parede de braços cruzados.
-Você vai ficar aí rindo da minha cara?! Vem me ajudar aqui com o arroz...
- Não é que isso é tão diferente... Não  estou acostumada a ver você nesse "modo" mãe e dona de casa. - Bruna começou a mexer o arroz para a Flávia.
- A gente faz de tudo né? Minha secretária foi embora, assim, num estalar de dedos. Me deixou na mão aqui com as crianças...
- Crianças?! Teus filhos já tem barba, coloca eles para se virarem.
- Nunca deixam de ser, você vai ver quando a Fernanda crescer... - Flávia deu uma breve pausa reflexiva e continou: - Mas me diga, o que te trouxe aqui? Anda tão sumida...
- Amiga estou focando cem por cento no trabalho e na Nandinha...
-E no Ricardo??? - Flávia franziu a testa.
- Ri-ri quem? - Bruna franziu a testa em deboche.
- ha ha ha, seu marido.- risada debochada.
- Eu sei quem é o Ricardo... - Bruna riu. - A verdade é que eu acho que entre a gente não vai mudar nada. Sinceramente? Eu também não o vejo da mesma forma.
- Você chegou a utilizar aquelas ferramentas que te sugeri, são infalíveis para resgatar o relacionamento... As fantasias que te indiquei são vida.
- Sabe o que é, por mais que eu tente, que ele e eu tentemos... Sei lá, parece que cada vez mais aumenta a distância entre a gente. Estamos vivendo no modo automático. Já ouviu falar?
-Claro que sim, isso sempre foi o prenúncio dos meus divórcios...
- Isso me incomoda tanto, essa palavra divórcio... Eu nem sei o porque, praticamente estou divorciada.
- É simples, quando nos casamos é para sempre, nosso corpo veste essa proposta, vira uma pele, somos um casal. A pele de casal, e quando isso de rompe de alguma forma rasga e é doloroso, uma pele não sai fácil, principalmente aquela que está justa, acomodada em nosso "corpo"...
- Nossa! Profundo, me deixou sem palavras...
- Não fui eu quem inventou isso, minha terapeuta me disse no primeiro divórcio... - Flávia sorriu, limpou a mão no avental e continou:- Quer ficar para comer?
- Não posso demorar, vou buscar a Nandinha... Mas sim, aceito, ainda preciso te contar o pior...
- Humm, esse pior tá com uma cara boa...- Flavia sorriu começando  preparar a mesa.
- Ok... Não sei né?
- Conta amiga. - Flávia curiosa.
- Acontece que vou voltar a trabalhar com nada mais, nada menos que a Taís. - Bruna serrou os olhos.
- O que?! - Flavia deixou cair os talheres que estavam na sua mão. Bruna abaixou para pega-los.
- Fui convidada para entrar com notícia no pragrama da tarde. E quem é responsável pela pauta jornalística?
- A Taís?!
- Pois é, não só vou ter que trabalhar perto dela, mas também COM ela.
- Ja falou isso com o Ricardo?
- Acabei de descobrir...
- Você ja aceitou o emprego?
- Já assinei até o contrato, dois anos.  Não fazia idéia...
- Caramba Bruna, isso que chamo de entrar numa enrascada do destino... Bom, quer dizer. Você pode tentar levar isso numa boa, não é? Com profissionalismo.
- Acho difícil, depois do que eu fiz... Ela vai sair correndo quando me vir.
- Você ainda sente algo por ela?
- Sim... Na verdade, nunca deixei de gostar dela, nem por um segundo.
- Nesse caso, hum... - Flavia colocou a mão no queixo refletindo.
- Nã-não Flávia, nem pensar! Isso está terminado. Eu não sou a pessoa  certa para ela. Aliás seria uma loucura.
- Não falei nada... Só projetei uma possível reflexão. Mas olha, acho que você tem que ter calma, ir com calma. Foca nessa questão de trabalho, tenta obstruir ou bloquear por hora seus sentimentos, Taís é uma colega de trabalho, apenas.
- Queria que fosse fácil. - Bruna sentou a mesa e colocou a mão no queixo.

A Previsão do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora