Você gosta dela

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Já em casa, Bruna ligou para o Ricardo afim de comunicar sobre a noite.
- Alô?! - Bruna falou.
- Oi Bruna, tudo bem? - Ricardo atendeu distraído.
- Você pode falar rápido? - Bruna perguntou.
- Sim sim, estou terminando de corrigir umas provas.
- Ok, é que hoje Nandinha vai dormir na casa do Breno, amiguinho da escola.
- Mas a gente não tinha combinado dela ficar comigo de hoje para amanhã? Quem é Breno? - Ricardo questionou.
- Ela dorme com você de sábado para domingo... Ela quer muito. Breno é amigo da escola como falei...
- Ok... Hoje você não tem aula de dança? Quer que eu busque na escola e leve ela na casa desse Breno?
- Não precisa, vou jantar com às mães dele...
- Com as "mães"? - Ricardo indagou.
- Sim, as mães, o Breno tem duas mães.
- Ah Bruna... Não acho uma boa idéia... Essas coisas mexem com a cabeça da Nandinha.
- Você sempre sendo um preconceituoso, homofóbico... - Bruna irritada.
- Vai levar sua "namoradinha"? A Taís? Esse o nome dela, certo? - Ricardo usou tom de deboche.
- Ricardo, preciso desligar, só queria te comunicar sobre hoje. Tenha um ótimo dia! - Bruna desligou o telefone irritada, tinha raiva de como o ex marido conseguia tirar ela do sério. Fez então o que sua terapeuta sugeriu; Quando isso acontecesse, ela precisava respirar fundo e contar até dez. Melhorava, ela esquecia.

O dia seguiu tranquilo, Bruna pegou Nandinha na escola, deu banho, arrumou a menina e suas coisas para passar a noite fora. Ela sempre ficava nervosa com isso, se preocupava da Nandinha dormir bem e não fazer bagunça na casa dos coleguinhas.
Já na portaria do prédio da Carol e Ângela, Bruna falou com a filha:
- Nandinha, filha, eu preciso que você se comporte viu? Mamãe confia em você, seja educada e não faça bagunça com o Breno. Tem que seguir as regras das mães dele.
- Mãe? Porque o Breno tem duas mães? Ele não tem papai? - Nandinha perguntou, a espinha da Bruna gelou, era uma criança muito pequena e explicar determinadas coisas eram simples e difíceis ao mesmo tempo. Bruna chamou o elevador para subir, respirou fundo e abaixou para falar com a menina:
-  Filha, lembra que eu te falei que tinham muitas famílias e que cada uma tinha seu jeitinho. A do Breno é do jeitinho dele, ao invés de uma Mamãe e um papai, ele tem uma Mamãe e outra mamãe. Tem família que tem um papai e outro papai, ou até mesmo família que tem só uma Mamãe, um papai... Ou a vovó, titia...
- As mães dele então são lésbicas? - a menina perguntou de supetão, Bruna arregalou os olhos com a pergunta capciosa da menina. O mundo realmente tinha mudado... pensou. O elevador chegou, Bruna e Nandinha entraram:
- Quem te ensinou essa palavra? - Bruna perguntou a menina.
- O papai...
- Papai falou o que ela significa?
- Acho que não... Sei lá. É quando uma moça beija na boca de outra moça?
- Filha, você está muito espertinha heim. - Bruna sorriu para menina, não sabia bem como reagir. Chegaram na porta do apartamento, tocou a campanhia que foi prontamente atendida pela Carol que estava acompanhada pelo Breno. Os duas crianças logo que se viram, correram para o quarto do menino. Bruna cumprimentou Carol com dois beijos no rosto.
- Entra por favor... - Carol convidou Bruna a entrar e logo apareceu Ângela com um avental amarrado, foi cumprimentar também Bruna com dois beijos.
- Seja bem vinda. - Ângela sorriu, Bruna sorriu com timidez.
- Obrigada... - Bruna admirou o apartamento enorme com um varandão de frente para a praia. Elas eram definitivamente bem sucedidas, pensou.
- Deixa comigo. - Carol pegou a bolsa da Nandinha e da Bruna e a convidou para sentar no sofá.
- Meninas, preciso retornar lá para a cozinha. Carol, sirva aquele vinho para nossa convidada.
- Não quero ser indelicada, mas hoje prefiro não beber... - Bruna sorriu sem graça.
- Sem problemas, o que quer?
- Uma água... - Bruna corou ainda tímida.
- Não precisa ficar tímida, olha isso aqui é casa de criança, tem desde suco de uva até refrigerante... Só falar que nós temos. - Carol muito simpática tentou deixar Bruna a vontade.
- Pode ser um refrigerante então. - Bruna pediu.
Elas sentaram e conversaram por um tempo, principalmente sobre às crianças, Bruna abriu sobre o divórcio  e como estava sendo sua vida. Jantaram todos juntos e logo as crianças voltaram para o quarto. Já estava tarde e elas papeavam na mesa de jantar mesmo.
- Mas Bruna, sobre aquela noite... - Ângela ja tinha tomado umas taças de vinho.
- Fora o vexame que dei... O que tem? - Bruna perguntou corada.
- Bom... Tem muita coisa.
- Ângela, não deixa ela sem graça! - Carol pediu.
- Tudo bem. - Bruna sorriu e continuou: - A Taís, não é?
- Isso, a Taís! Conta sobre ela... Nós ficamos muito surpresas e intrigadas. - Ângela perguntou bem atirada.
- Ângela! - Carol reeprendeu.
- Eu falo... Bom, aquela noite foi o primeiro dia do fim do meu casamento. - Bruna deu uma pausa e continuou contando tudo que aconteceu, falou sobre como conheceu Taís e como as coisas foram acontecendo. As duas prestavam atenção concentradas.
- Pera, aquela noite ele pegou as duas nuas, completamente nuas no banheiro?! - Carol indagou surpresa.
- Nuas e eu bêbada, completamente bêbada... - Bruna respondeu sem graça.
- Uau! Isso da até novela. - Carol brincou.
- É isso, minha vida tem sido bem isso. Aquelas novelas bem clichês...- Bruna correspondeu à brincadeira.
- A vida é assim mesmo. Surpreende a gente, eu fui casada por seis anos antes de conhecer a Carol, já não contava em casar de novo, ter filho... As coisas são assim.- Ângela falou.
- E vocês estão juntas, não é? Porque não trouxe a Taís, achamos ela tão gentil e interessante. - Carol comentou.
- Não, não estamos juntas... Eu fui uma idiota. Afastei ela de uma forma muito cruel... - Bruna lamentou.
- Você gosta dela? - Carol perguntou.
- Hoje eu gosto de mim... Quer dizer, tenho dado mais espaço para mim, me autocentrei um pouco. - Bruna falou não muito confiante.
- Você gosta dela. - Ângela afirmou sorrindo.
- Como você pode afirmar isso? -  Bruna indagou curiosa.
- Está na sua voz, olhos, na forma que fala dela, como ressoa o nome dela. Você realmente gosta dela. - Ângela falou convencida.
- Ângela sabe das coisas... Tem "phd"  leitura comportamental. - Carol falou em tom de deboche.
- Fiquei até nervosa... - Bruna sorriu tímida.
- Seja corajosa e admita isso para a Taís... O tempo passa. - Ângela continuou.
- Ela vai casar... Inclusive me chamou para o casamento e para a despedida de solteira.
- Então o tempo é curto e ela quer ficar com você ,te deu duas chances para acabar com o casamento dela. Ou você faz isso na despedida de solteira, ou entra no meio da igreja e espera o padre falar se alguém tem algo contra o casamento. - Ângela estava muito confiante do que falava, parecia uma pessoa muito experiente.
-Prefiro a segunda, mais romântico. - Carol sorriu e deu um selinho na esposa.
- Eu também amor... - Ângela retribuiu o selinho.
- Não. Nenhuma das duas, eu não vou em nenhum dos dois eventos! - Bruna se posicionou contra.
Elas continuaram a conversar sobre a Taís, relacionamentos e Bruna percebeu o passar da hora. Se despediu da filha e das meninas. Desceu para pegar o carro e voltar para a casa. Estava dirigindo distraída, pensativa sobre o que conversou com as duas e quando se deu conta, estava na frente do prédio da Taís.

A Previsão do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora