O significado de uma rosa

265 20 0
                                    

A noite prosseguiu e enquanto a criança estava acordada, Ricardo não tocou no assunto. Ele iria viajar em algumas horas, iria de carro e sairia mais tarde. Ele aguardou Nandinha dormir para perguntar a respeito do que a menina "soltou". Bruna precisava dormir cedo para acordar de madrugada. Didi iria dormir no serviço para cuidar da Nandinha pela manhã, mas ela havia dado uma saída para ver o netinho que ela cuidava e chegaria depois das dez da noite.
Bruna estava muito receosa do que Ricardo iria perguntar. Ja havia arquitetado várias versões em sua cabeça. Enquanto secava o cabelo com a toalha, ele entrou no quarto. Chamou por ela que estava no banheiro da suíte.
- Bruna?! Você está aí dentro?
- Sim... Já vou sair... - Sentiu frio na barriga, ela estava tentando ganhar tempo. Ricardo sentou na cama para aguardar. Até que Bruna saiu de pijamas.
- Eu acho que mereço uma explicação, não acha?
- Nunca dou sorvete ou sobremesa para Nandinha antes de jantar...
- Não, não sobre isso... Que estória é essa da flor e colega de trabalho?
- Ah... Isso?! Não foi nada, só o Paulo, lembra do Paulo? - Bruna suando frio.
- Paulo da redação?
- Sim...
- O que tem ele? - Ricardo franziu a testa aguardando.
-  Fo-fo-foi ele... Quer dizer, lembra da Taís? - Bruna gaguejando, sentou na beira da cama se abanando.
-Que Taís?
- A-a-a que apresentava sobre o tempo no jornal... - ainda suava e se abanava.
- Bruna, você pode ser mais clara? Esta dando muitas voltas.
- Resumindo? Eu só estava dando uma de culpido.
- Para a tal Taís e o Paulo?
- É  é... - Bruna continuou suando, claramente nervosa.
- Porque eu tenho a impressão de que está escondendo alguma coisa de mim...?- Ricardo perguntou pacientemente.
- Amor... Eu não estou. É que estou cansada mesmo. A que horas vai viajar? - Bruna desconversou.
- Daqui a pouco. Quero ir mais de madrugada para chegar bem cedo lá.
-Não é ruim, você já vai emendar no aulão? Não vai estar com sono? Cansado?- Bruna indagou.
- Preciso checar às instalações, som, quadro, espaço... Eu aguento. - Ricardo se gabou.
- Eu sei disso... Bom, você vai ficar aonde?
- Um hotel perto do curso, eles estão bancando tudo.
- Estou muito feliz por você!  - Bruna sorriu e tocou na perna do marido que estava sentado ao seu lado. Ele ficou apreensivo e falou:
- Amor, eu preciso contar uma coisa para você... - Ricardo respirou fundo. Bruna enrugou a testa preocupada.
- O que? O que houve?
- É que na verdade, eu estou indo para São Paulo dar o aulão, mas também fazer um teste, como uma entrevista...
- Não entendi?!
- Eles tem uma proposta para mim, mas querem conversar e pode ser que eu seja convidado para entrar em uma sociedade.
- Ainda não entendi...
- Eles tem interesse em expandir o cursinho aqui para o Rio de Janeiro, e eu assumiria a unidade daqui.
- Mas isso é ótimo! - Bruna abraçou Ricardo animada.
- Entretanto, tem um porém...
- Qual?
- Eles querem que eu faça uma experiência em São Paulo, digo, eles vão abrir uma filial em Campinas, e eu iria participar de todo o projeto da abertura. E também teria um investimento ...
- Dinheiro Ricardo?
- Também, só escutou essa parte, não é??? - Ricardo bufou.
- Mas é que ainda estamos pagando o financiamento desse apartamento, dos carros... Sabe que por mais que ganhemos bem, nossos gastos são altos e as reservas que temos são para a Fernanda...
- Bruna, você sabe quanto podemos ganhar trazendo esse cursinho para cá? Ele é o melhor do Brasil... Uma oportunidade dessas nunca vai bater na nossa porta. Além do mais, eu tenho minhas economias...
- Que economias? Eu venho colocando tudo que ganho aqui em casa...  Você está escondendo algo?
- Olha, eu sabia que você iria se comportar assim... Nunca me apoia!
- Mas isso não tem nada haver com apoiar... Quer dizer, te apoio ir a São Paulo ou qualquer outro estado, cidade, país... O que me sinto insegura é em investir com o meu dinheiro em um curso pré vestibular.
- E porque não? É exatamente sobre isso que estou falando, investimento com retorno certo.
- Sabe que essas coisas tem riscos não é? Não podemos assumir riscos financeiros agora, ainda mais com a Nandinha.
- Deixa para lá... Vou recusar a proposta. - Ricardo cruzou os braços e falou chateado.
- Vamos fazer o seguinte... - Bruna respirou fundo e falou pacientemente: - Você vai, mas não se compromete. Quando você retornar, traga um plano de negócios, trás uma planilha de gastos. Eles estão vendendo o curso como franquia?
- Sim.
- Sendo assim eles já devem ter tudo pronto, tenta me encaminhar os orçamentos por e-mail que vou sentar com meu contador para avaliar a proposta... Ricardo eu te quero feliz, mas precisamos ter cuidado com essas tiradas financeiras.
-Obrigada amor... Não sabe o quanto isso é um sonho para mim. - Ricardo pegou no pescoço da Bruna e a beijou, Bruna recusou o beijo, se afastou do Ricardo que enrugou a testa confuso.
-Desculpa, é que estou cansada... - Bruna sorriu e se desculpou sem graça, mas a verdade é que ela não queria mais, não tinha interesse romântico no Ricardo que estranhou a atitude da esposa. Eles estavam em sintonias diferentes e isso era angustiante para ambos. Ricardo a respeitou e falou chateado pela rejeição:
- Vou deixar você dormir...
- Você vai sair mais tarde, se quiser pode deitar aqui do meu lado... - Bruna falou se ajeitando na cama.
- Não... Não quero te acordar quando eu sair. Fora que tenho medo de pegar no sono.
- Tudo bem... Boa viagem, tenha cuidado na estrada e me avisa assim que chegar. Vou estar acordada no trabalho.
- Pode deixar. Vai sentir minha falta? - Ricardo insistiu em se aproximar da esposa que agora estava recostada na cabeceira. Ela colocou a mão sob seu rosto e deu um selinho mais prolongado no Ricardo, não queria responder a pergunta dele.
Ele não queria soltar os lábios da Bruna, estava inseguro, pediu passagem com a língua, Bruna não deixou, tirou seus lábios bruscamente, Ricardo então perguntou:
- Que foi? Não me quer mais??? - ele franziu a testa preocupado.
- Estou cansada, só isso... Preciso dormir... - Bruna deu a desculpa que mais cabia.
- Ok, não vou insistir... Mas não entendo isso que está acontecendo com a gente... Enfim, vou lá para sala esperar a hora para sair.
- Abre a porta para a Didi, acho que ela esqueceu a chave... - Bruna pediu, Ricardo virou a cara, pegou a mala de mão e foi para a sala injuriado pela rejeição. Bruna respirou fundo e ficou ali deitada, sem conseguir dormir. Nervosa com as situações,  pensativa sobre seu casamento, Taís... Ela não contava em chegar a ponto de rejeitar o marido, aquilo era horrível, mas também involuntário, não premeditado... Aquilo a fazia se sentir mal, infiel não só com atitutes, mas também desleal com sentimentos. "Quando Ricardo voltar vou conversar com ele, preciso colocar às cartas na mesa", Bruna pensou.
Estava apenas com a luz do abajuor acessa. Pegou no celular antes de dormir e verificou que Taís havia mandado mensagem.

"Está acordada?"

"Estou..." - Bruna digitou.

"Queria ligar para você, ouvir sua voz..." - Taís pediu.

" Pode ser mensagem de áudio? Não posso ligar agora..." - Bruna sugeriu, não poderia ligar com o Ricardo na sala. Pensou como Taís tinha a audácia de propor aquilo, ela não raciocinava que poderia estar com o marido. As vezes Bruna sentia que Taís ignorava essa informação.

"Sabe a história por trás da rosa vermelha?" - mensagem de áudio da Taís.

"Acho que vem da mitologia grega... Mas não sei, me conta... " -  Bruna sussurou na mensagem de áudio.

"A rosa vermelha tem vários significados, os Romanos sempre afirmaram que ela é uma criação da Deusa da primavera, a Flora; Quando uma das suas ninfas morreu, Flora pediu ajuda para Apolo, Bacus e Pamona, um deu vida, o outro o nectar e por fim o último o fruto. Eles transformaram a ninfa em flor, uma belíssima rosa. As abelhas então se atraíram pela rosa e o Cupido para afastá-las atirava flechas, essas por sua vez, cravavam no caule da flor e viraram seus espinhos. Daí os romanos dizem que a rosa vermelha representa o ápice da paixão da Deusa Flora."

"Uau! Isso é muito intenso... A rosa surgiu da morte e da paixão." - sussuro da Bruna.

"Você acha que a paixão pode surgir da morte?"- Taís perguntou.

"Taís, eu estou me apaixonando..." -  Bruna sussurou no áudio.

"Acha que pode repetir isso olhando para mim?" - áudio emocionado.

"Preciso que uma ninfa morra antes..." - áudio embargado da Bruna.

" Como assim Bruna?" - Taís perguntou assustada.

"Foi uma metáfora!" - Bruna sussurou rindo.

"Boba! Mas mudando o assunto, estou aguardando o convite para ir ao seu apartamento..." - Taís respondeu rindo.

"Amanhã à noite. Preciso colocar a Nandinha para dormir e depois, bom, depois a gente se encontra lá" - Bruna falou determinada, um tom mais elevado de voz. Ricardo que passava para ir ao banheiro no corredor, escutou parte do áudio e ficou intrigado, entretanto não se envolveu.

"Ok, pode ser esse mesmo horário então?" - Taís digitou ao invés de gravar áudio.

" Sim, pode..." - Bruna digitou também.

"Boa noite flor..." - Taís digitou com alguns emojis.

"Boa noite..." - Bruna digitou retribuindo os emojis.

Ela respirou fundo e colocou o telefone no criado mudo. Ela tinha tanto medo do que estava fazendo, tanto medo que as vezes mal conseguia respirar, ao mesmo passo que sentia que tudo que estava vivendo era um caminho sem volta. Estava completamente entregue...

A Previsão do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora