O Amor impossível

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Chegou o dia, hoje Bruna e a família iriam para o resort que a emissora fechava todos os anos para confraternização de todos os funcionários. Iam todos, desde atores de novelas, até equipes de direção, equipes técnicas. E como era uma grande emissora de TV, ficava lotado, muito animado. O resort era elegante, chique e muito bonito, tinha muitas piscinas, aquecidas e não aquecidas. Era enorme. Os apartamentos eram muito bonitos, todos claros, com boa iluminação. Tinha uma área infantil de tamanho considerável e muitas atividades, recreadores, mini fazendinha, trilhas. Fernandinha se esbaldava. Tinham alguns anos que Bruna e Ricardo não participavam da confraternização pois geralmente elas caíam no mesmo período dos aulões. Mas nesse ano Ricardo havia se organizado para ministrar o aulão e o simulado de forma remota. Ele já havia reservado horários do plantão na plataforma online.
Aquela manhã Bruna acordou animada, Fernandinha nem se fala. Estava empolgada pelo passeio. Já o Ricardo estava um pouco aéreo. Eles foram com o carro pessoal mesmo. Mas muitos grupos se organizavam para ir de van que também eram pagas pela emissora. Então chegavam van atrás de van.
Eles chegaram no resort, Nanda estava faladeira e estonteante. Bruna feliz em ver a filha daquele jeito. Eles foram se registrar na recepção. Chegando lá, encontraram com o diretor geral do jornal. Bernardo era um senhor muito simpático e amigável. Logo se aproximou da Bruna para  cumprimenta-los.
- Bom dia Bruninha! - O senhor apertou a mão da jornalista. Ricardo estava concentrado no celular, estendeu também a mão para o senhor: - Que bom que vieram, Ricardo tinha um tempo que não o via...
- Aham? - Ricardo falou indelicadamente distraído no tablet, Bruna deu um toque no braço do marido que percebeu e logo elevou a cabeça: - Bom dia sr.
- Perdão Bernardo. Ele está organizando o aulão o vestibular está se aproximando... - Bruna se antecipou para justificar a atitude do marido.
- Pedrinho, meu neto, vai prestar vestibular esse ano. Vai tentar para adivinha? - o simpático senhor deu uma pausa e continuou: - Jornalismo!
- A família não escapa! - Bruna brincou, pois a filha do Bernardo era repórter. - Mas Pedrinho... Gente, eu lembrava dele pequeno... Vestibular, já? - Bruna falou surpresa.
- Passa rápido, filhos, netos... Daqui a pouco é essa mocinha. Aproveitem! - Bernardo falou olhando para menina que estava impaciente para brincar.
Nesse momento Taís apareceu no hall de entrada, ela estava acompanhada pelo grupo da redação, não viu a Bruna, pois conversava distraída. O coração da Bruna disparou e ela sentiu seu corpo inteiro gelar... Tentou recobrar a consciência e tornou a olhar para o Bernardo. A menina puxou o vestido da mãe e falou:
- Mamãe, quero ir brincar! - a menina suplicou. Bernardo e Bruna sorriram. Ricardo grosseiramente, não tirava os olhos do celular. Bruna sutilmente tentou dar "toques" nele, mas Ricardo estava tão compenetrado que nem notou.
- Bom, vamos subir para o quarto. Nos encontramos por aí?
- Claro, hoje a noite tem o jantar, vamos sentar próximos. - Bernardo mencionou um jantar celebrativo que tinha na noite de sábado.
- Sem dúvidas. - Bruna confirmou e se afastou do senhor para se registrar no hotel. Enquanto caminhavam, ela puxou a camisa do Ricardo e falou:
- Ele é meu chefe! Ao menos podia ter dado alguma atenção...- falou pelo canto da boca.
- Eu disse que estaria ocupado... - Ricardo falou distraído.
- Ao menos leve sua filha para o parque enquanto registro a gente e subo para o quarto.
- Ok. - Ricardo concordou e levou a menina para uma estação de parque infantil. Bruna se dirigiu para a recepção.
Chegando na recepção Bruna passou os dados e eles entregaram as chaves do quarto. Ela estava organizando as malas para subir e foi abordada pela Taís:
- Oiiii! - Taís a abordou por trás.
- Tais! Que susto... - Bruna colocou a mão no peito.
- Você acabou de chegar?
- Sim... Ricardo e Fernanda estão ali no parquinho. - Bruna apontou para a filha e o marido. Taís claramente ficou decepcionada em ver que o marido estava acompanhando.
- Ahh sei... - deu uma pausa e olhou nos olhos da Bruna. - Nós estamos virados. Quer dizer, emendamos uma coisa na outra e na outra...Tô caindo de sono. - Taís bocejou, estava um pouco alta e com os olhos vermelhos.
- Você já se registrou? Já tem um quarto? - Bruna perguntou.
- Sim... Mas não quero ficar dormindo... Esse lugar é incrivel! - Taís falou vislumbrada. Bruna sorriu e falou:
- Tira pelo menos um cochilo, você não vai dar conta... - Bruna estava rindo do comportamento meio desengonçado, alegre da Taís.
- Qual é o seu quarto? - Taís tentou olhar o número da chave da Bruna, mas ela escondeu atrás da cintura. Paulo apareceu e abraçou Taís na cintura, e a beijou na bochecha, provavelmente eles tinham ficado. Bruna sentiu aquele ciúmes intenso invadir sua alma. Seu rosto estava fervendo e ela não sabia o que fazer. Ela cerrou os olhos para o Paulo que já tinha percebido alguma coisa pairando entre as duas. Taís sorriu sem graça e tentou sair do abraço, mas Paulo segurava firme. Bruna só conseguiu falar:
- Bom preciso subir. Aproveitem! - Bruna falou em tom de deboche.Taís conseguiu perceber o ciúmes da Bruna, de certa forma mexia muito com ela.
- Você quer ajuda com as malas? - Taís conseguiu desvencilhar-se do Paulo.
- É podemos ajudar. - Paulo grudento falou.
- Não, obrigada pessoal. - Bruna deu um sorriso forçado e agradeceu e chamou o funcionário responsável pelas malas para ajuda-la. Taís a viu se afastar e suspirou pensativa, sabia que aquele era um amor impossível.
Bruna chegou no quarto sozinha e respirou fundo, ela estava realmente apaixonada pela Taís, não tinha como fugir daquele sentimento. Mas o que fazer, e o Rodrigo, ele estava intragável. E a Fernanda, seu casamento... Eram tantas dúvidas. Além de tudo, Taís parecia estar seguindo em frente, estava com o Paulo, não iria querer se arriscar com uma mulher casada, com filhos. "Nossa", pensou Bruna que seus pensamentos estavam tomando rumos imprevisíveis, fora do controle. Pensou em ligar para a Flávia, queria desabafar, mas no exato momento, Rodrigo entrou no quarto.
- Você não me esperou para subir? Tive que perguntar na recepção nosso quarto?! - Ricardo falou irritado.
- E a Nanda?! - Bruna estava impaciente.
- Deixei lá embaixo com as "tias" da recreação.
- Ricardo, eu não gostei da forma que você se comportou com meu chefe. Você não poderia ter dado um pouco de atenção???
- Estou trabalhando, sabia que eu tinha que fazer isso.
- Mas dois, três minutos! Não era muito mais que isso... Era só olhar para cima, nem precisava falar nada! Ficou com a cabeça abaixada mexendo no tablet... -Bruna estava vermelha de raiva.
- Desculpa. Ok?! - bipe no celular, Ricardo pegou no aparelho.
- Não é possível!!! Nem agora? Ricardo, olha para mim. - Bruna pediu, o marido levantou a cabeça. - Você quer voltar para casa?
- Não! Eu quero ficar... - Ricardo deixou o celular de lado e se aproximou da Bruna que virou o rosto. Estava muito indignada com o comportamento do marido.
- Promete para mim que vai estar presente enquanto ficar com a gente? Pelo menos esse final de semana. Preciso disso, você entende? - Bruna falou olhando para o marido precisava que ele estivesse próximo, presente senão ela iria cometer uma loucura.
- Já estou aqui por você. Eu quis que viesse esse ano para não ficar excluída no trabalho. - Ricardo falou.
- Porque todos falam isso?! Meu Deus, eu não estou excluída de nada... Eu vou descer para ver a Fernanda. - Bruna falou para se esquivar da discussão.
Bruna passou o dia brincando com a filha, entrou um pouco na piscina, pegou sol, Ricardo o tempo inteiro trancado no quarto, em nenhum momento desceu para ficar com a família. Muito diferente do que tinha prometido a Bruna.
O local era grande, ela não conseguia mais encontrar a Taís, queria ve-la. Mas era impossível... Pensou várias coisas, inclusive o pior, que ela estivesse dormindo com o Paulo. Enquanto Fernanda estava na recreação, ela sentou-se em uma das espreguiçadeiras espalhadas pela piscina. Resolveu ligar para Flávia.
- Oiii... - Flávia atendeu animada.
- Olá! Tudo bem? - Bruna respondeu.
- Tudo a mil maravilhas amigaaaaa... Você não imagina como me dei bem ontem. - Flávia do outro da linha andava pelo seu quarto de frente para a praia e em sua cama tinha um homem forte, másculo, dormindo de bruços como um bebê. Flávia foi para outro ambiente do apartamento para não acordá-lo.
- Me conta... - Bruna curiosa.
- Dormi com um dos executivos daquela multinacional que meu ex faz negócio.
- Minha nossa! Isso é confusão certa... Seu ex é ciumento!
- Oras, eu não tenho problemas com isso amiga. Sabe que não sou propriedade alheia. Vou te falar... Que homem! Eu estou ainda sem ar, foram três rodadas. Em uma dessas infarto.
- Flávia... - Bruna riu com a amiga.
- Você já não está no resort? - Flávia sabia que Bruna estaria... - Amiga, você está me ligando porque? Em um lugar tão lindo assim com o Ricardo! Aproveita...
- É...
- Já sei. - Flávia deu uma pausa e continuou: - Tem rolo.
- Flávia... Eu acho que estou apaixonada. - Bruna abriu logo o jogo.
- Bruna... - Flavia respirou fundo preocupada do outro lado da linha.
- Não eu sei que não. Eu não deveria, mas não sei como isso foi acontecer.
Como deixei acontecer...
- Quantos "não"s... numa só frase. - Flávia deu uma breve pausa e continuou: - É pela garota da previsão do tempo?
- O nome dela é Taís...  - Bruna corrigiu.
- Uau... O lance é sério então! Não consigo imaginar isso....
- Está me ajudando muito.
- Mas porquê me ligou? - Flávia indagou.
- O que devo fazer... Digo, como faço isso parar? - Bruna questionou.
- Eu não acho que deva fazer algo tão genuíno parar... Bruna, a gente se conhece há quantos anos? Vinte? Bom... Nesse tempo todo, nunca ouvi você falar que estava apaixonada por alguém, nem mesmo pelo Rodrigo ouvi isso! - Flávia falou.
- Não devo Flávia...
- Não deve o que? Amar? Se descobrir com você mesma? O que você não deve? Respeitar seus sentimentos?
- Estou casada. Apesar Rodrigo estar se comportando como um bossal, ele ainda é meu marido, pai da minha filha.
- O que a Taís pensa disso? Ela está na sua?
- Tem isso também... - Bruna deu uma pausa e continuou: - Acho que ela está com outra pessoa.
- Então ela não gosta de você?
- Flávia, isso é uma coisa que eu não tenho ideia... As vezes acho que sim, mas sabe como é... Eu já não me envolvo com alguém há dezesseis anos. Não sei ler as pessoas.
- Pelo pouco que pude conhecer a Taís, naquela época que ela ia caminhar com a gente, eu notei uma coisa que agora faz muito sentido...
- O que? O que você notou? - Bruna indagou esperançosa.
- Que ela te olhava com admiração... Tinha um olhar diferente, e agora pensando, pode ser um olhar apaixonado? Não sei... Sinceramente amiga, acho que você vai ter que descobrir.
- E como faço isso? Sem trair o Ricardo?
- Sem trair, é impossível. Mas a única forma de saber é perguntando... Não estamos mais na faculdade que uma pedia a outra para sondar. Agora amiga, na nossa idade, é direto ao ponto.
- E se eu estiver enganada, estiver sozinha nisso. Se for coisa da minha imaginação.
- Olha, ela te beijou no outro dia. Certamente não é coisa apenas da sua imaginação.
- Acho que você tem razão... - Bruna desligou o telefone e ficou pensativa. Aliás era algo que ela fazia muito ultimamente, pensar.

A Previsão do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora