Estava preocupada com você

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Bruna acordou e pegou imediatamente no celular, lembrara da mensagem que Taís havia mandado a noite. Logo que abriu, percebeu que todas as mensagens haviam sido apagadas. Ela se preocupou, sentiu um frio na barriga como um medo pelo que poderia estar acontecendo com a Taís. Respirou fundo e se preparou para ir trabalhar, afinal, lá ela encontraria a Taís.
Ao contrário do que imaginava, não, ela não encontrou a Taís, que inclusive foi substituída por outra apresentadora na hora da previsão do tempo. Bruna estava aflita por dentro, pois ela sabia que algo havia acontecido.
Ela foi então falar com o diretor:
- O que houve com a Taís? - Bruna franziu a testa confusa.
- Bom dia para você também...
- Perdão. - Bruna sorriu sem graça.
- Pelo que soube, hoje ela não amanheceu bem... É tudo que o departamento me passou, por isso substitui ela.
- Mas ela ligou para avisar isso? - Bruna insistiu.
- Não entendi?
- Perdão, obrigada. - Bruna sabia que não poderia explorar mais sobre o assunto por ali. Começou a juntar as coisas para ir embora, estava inquieta, pegava no celular. Ela não podia entender o que estava acontecendo com seus sentimentos, porque estava sentindo toda aquela preocupação com uma desconhecida.
Era dia de exercitar com a Flávia na praia e pensou que seria uma boa para espairecer. O dia estava lindo, então acelerou o passo para chegar na posto sete e encontrar a amiga. Ela ainda não havia chegado, Bruna resolveu alongar e respirar fundo. Pegou o celular mais uma vez e em um ato de coragem resolveu ligar para a Taís. O telefone tocou e ninguém atendeu, ela sentiu seu coração apertar, insistiu e depois de duas tentativas, o telefone foi atendido por um homem.
- Pois não?! - o homem áspero respondeu do outro lado da linha.
Flávia chegou e se posicionou ao lado da Bruna que engoliu a seco e tomou coragem para falar:
- Bom dia, estou ligando para saber a respeito da Taís, digo, da saúde dela.... - Bruna respirou e continou: - Quer dizer, ela está se sentindo melhor?
- Quem fala? - o homem ainda seco argumenta.
- É do trabalho... - Bruna deu uma pausa, coçou a testa e olhou para Flávia que estava confusa e continuou: - Estou ligando por parte da redação.
-Olha, todas as informações a respeito da Taís foram dadas por mim ao departamento de RH. Você é de lá?- o homem respondeu,
Bruna sem saber o que responder e em uma atitude desesperada, imatura, desligou o telefone na cara do homem. Ela não sabia mesmo o que falar. Seu coração estava acelerado, suas mãos suavam frio.
- O que houve amiga? Viu algum fantasma? Está parecendo uma adolescente ligando para o namoradinho. - Flávia debochou da amiga.
- Pior... Vamos caminhar, preciso movimentar minha mente. - Bruna falou dando alguns ansiosos passos, Flávia sem compreender acompanhou ela.
- Está tudo bem com você?
- Não sei... - Bruna franziu a testa confusa: - Eu acho que uma colega do trabalho está sofrendo algum tipo de violência doméstica.
- Como?! Não.... Isso é muito sério! - Flávia ficou perplexa.
- Pois é, mas ela não abre o jogo.... E o que é pior, acho que ela esta tentando me falar algo... me pedir ajuda. - Bruna falou preocupada.
- Já colocou ela contra a parede? Quer dizer pressionou ela a falar algo?
- Não dá... Acontece que ela é nova no trabalho, conheci tem uns três dias...Mas rolou alguma afinidade entre a gente e eu sinto que ela quer me pedir ajuda. - deu uma pausa e continuou: - Noutro dia eu vi seu braço roxo. Claro que ela tentou esconder.
- Isso é muito sério... Será que ela não tem amigas? Familiares?
- Acho que não, sabe como são esses relacionamentos abusivos... Eles afastam tudo e todos de você. Quer dizer, é muito sufocante. - Bruna parecia ter conhecimento de causa.
- O que você pensa em fazer?
- Por enquanto nada... Não posso invadir a vida dela assim de repente.
- Mas você sabe que se houver algum indício de algo mais palpável, vai ter que se envolver, ajudar com a denúncia.
- Ela é tão doce, meiga, inteligente, bonita... Ela é esclarecida... - Bruna falou suspirando e continuou: - Na minha cabeça é inadmissível que ela esteja sofrendo abuso!
- Hum... Tem algo a mais aí? Não sabia que você tinha queda por mulheres... - Flavia captou algo e deixou Bruna corada, porém na defensiva.
- Claro que não!
- Não para o que? - Flavia questionou.
- Sou casada, esqueceu? - Bruna afirmou.
- Então se não fosse... - Flávia usou alguma ousadia para falar. Bruna sorriu sem graça. - Amiga, você é uma caixa de surpresas! Quer dizer, tão certinha, metódica, familiar, evangélica e bissexual... Uau!
- Flávia! Vamos mudar de assunto? - Bruna esquivou. - Alguma novidade?
- Ok... Vou fingir que não captei nada aqui. Mas você sabe que te conheço, não é? - Flávia deu um sorriso safado e continou: - Mas enfim, na minha vida nenhuma novidade, tá é mesmo parada. Quer dizer...O de sempre. - deu uma pausa e continuou: - Pensando em fazer uma viagem, o que acha?
- Acho uma ótima idéia... - Bruna e Flávia continuaram a conversar. Flávia era uma pessoa quase sempre supérflua, ganhava boas pensões e vivia disso. Não exercia a profissão. Tinha uma vida muito confortável, estável e estava posicionada em alto padrão na sociedade. Um dos ex maridos era dono de uma franquia grande de fast food. Mesmo assim, com tantas diferenças, elas eram muito amigas, Flávia apesar de ser superficial, era uma pessoa companheira e que tinha bastante empatia pelo próximo desde que se conheceram na faculdade e isso que aproximava Bruna dela.

Mais tarde naquele dia, Bruna chegou em casa com compras de mercado e entregou para a Didi fazer o almoço.
- Hoje a Nandinha vem com a Van da escola, preciso fazer umas atualizações no meu projeto de pesquisa... - Bruna falou com a Didi.
- Pode deixar que vou fazer um super almoço. O que você quer comer?
- Não se preocupe Didi, faça o que puder... Se quiser eu mesma cozinho. - Bruna não gostava que Didi se cansasse, já fazia tudo dentro de casa.
- Não tem problema querida! Sabe que adoro cozinhar... Pode ser um peixe?
- Pode, mas não faz frito, tô de dieta.
- Sempre, né dona Bruna. - Didi era divertida e as vezes espalhafatosa para falar. Bruna riu e foi para o escritório trabalhar.
Além de se atualizar nas pautas dos próximos jornais, ela estava trabalhando em um projeto de pesquisa social, ela era convidada e precisava atualizar, fazer reuniões... Passou a tarde toda trabalhando e nem deu para dar atenção à Nandinha.
Já noite, ela ainda estava concentrada no computador, quando seu telefone tocou, era Ricardo.
- Amor, tudo bem aí em casa?
- Aham... Tudo. - Bruna respondeu ainda concentrada no computador.
- E-e-eu estou ligando para dizer que vou chegar tarde hoje, vamos fazer um aulao noturno. - Ricardo gaguejou e parecia tenso.
- Ok... - Bruna custou a entender, mas quando se deu conta, falou: - Ricardo, desde quando você liga para avisar que vai chegar tarde? - Bruna indagou.
- É é...
- Para de gaguejar... - Bruna falou irritada
- Bruna, você pede para a gente se comunicar, eu resolvo fazer isso e você me questiona? - Ricardo se irritou.
- Olha, tudo bem. Obrigada por me avisar. - Bruna se recompôs e concordou com a postura do marido. - Vou deixar sua janta no forno elétrico.
- Obrigada. - Ricardo desligou a ligação e Bruna ficou pensativa reclinada na cadeira. Seu telefone tocou de novo e ela atendeu prontamente já falando:
- Não sabia que tinha aula em cursinho depois das nove da noite...
- Oi? - a voz suave de uma mulher do outro lado da linha. Bruna arregalou os olhos, afastou o celular e notou que o número era o da Taís.
- Perdão, eu achei que fosse outra pessoa... - Bruna se desculpou, seu coração acelerou, mas continou: - Tudo bem com você ? Quer dizer, está melhor?
- Estou sim... - breve pausa: - Eu estou ligando para agradecer.
- Pelo que?
- Por ter ligado mais cedo. - Taís respondeu. Bruna sorriu do outro lado da linha. Um ligeiro incomodo silêncio se instalou, entretanto foi logo rompido pela Bruna:
- Você vai amanhã? Trabalhar?
- Sim, acho que sim... - Taís relutou.
- Fico feliz que tenha ligado, eu estava preocupada com você. - antes que Taís pudesse responder, Bruna ouviu uma voz masculina e opressora do outro lado da linha. Taís se apressou e falou:
- Preciso desligar! - ela desligou na velocidade da luz. Bruna sentiu seu coração palpitar, não sabia o que fazer, como agir. Aquela situação era muito conflitante, era séria. Seria prudente avisar a alguma autoridade? O que de fato estava acontecendo na casa da Taís? Porque eu sentia ela tão vulnerável? O que eu estava sentindo?
Essas eram perguntas que sondavam na cabeça da Bruna.

A Previsão do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora