HONGJOONG
Terminei minhas coisas antes do esperado, já tinha enviado todos os projetos, feito as provas, agora era só esperar pela boa vontade dos professores para postarem as notas finais, que basicamente, determinava, nosso destino. Um pouco dramático, eu confesso, mas proporcional a pressão que eles colocam em nós.
Estava a caminho da irmandade de Soomin, ela não tinha me mandado emojis, ou combinado algo, eu só queria vê-la, pensaria em alguma desculpa, se fosse necessário, mas a visita surpresa bastava por si só. Ela entenderia.
Chegando lá, uma garota sorridente me recebeu, um sorriso que, ocasionalmente, me questiono se é mesmo natural, já a vi algumas vezes, mas sempre esqueço seu nome, ela também não sabe o meu, aqui sou apenas "o boy da Soo", título que ganhei pelas tantas visitas e não acho nem um pouco ofensivo ou redutivo, ser "só" isso.
Eu já conheço a casa, por isso, a garota sorridente não faz questão nenhuma de me acompanhar ou me anunciar, melhor assim, digo a mim mesmo, em pensamento, era para ser uma "surpresa" e, isso implicava em Soo não saber que eu estava ali.
Paro na porta de seu quarto e bato com calma, parte de mim, deseja não estar incomodando, mas a outra parte, não está preocupado com isso. Em verdade, gosto da companhia dela, e já tem uns dias que não nos vemos pessoalmente, a rotina pode ser cruel.
Soomin respondeu as batidas com um, não tão alto, "está aberta". Respondi, mentalmente: "não, está fechada, por isso bati", acabei rindo comigo mesmo, essa agitação só acusava o quanto estava animado de vê-la.
Abri a porta, ainda rindo de minhas bobeiras mentais, o movimento trouxe o cheiro do quarto, uma mistura adocicada e cítrica com um toque de café, era fraco, mas percebido por quem acabava de chegar. Soomin estava sentada na cama, pernas cruzadas com o notebook no colo, os cabelos presos em um coque desajeitado, as roupas largas, que mais pareciam um pijama, a mesinha dobrável ao seu lado com um prato pequeno, vazio, e a caneca térmica de café.
Seus olhos se ergueram da tela do notebook e me encontraram, ela tombou a cabeça para o lado, dava para ver a confusão no centro de suas sobrancelhas franzidas e o sorriso fraco, de lado.
- O que você está fazendo aqui? - Delicada como sempre.
- Oi pra você também. Eu vim te ver! Olha, que novidade. - Disse, tentando parecer irônico, mas o sorriso em meus lábios me denunciava.
- Eu não recebi nenhuma mensagem sua. - Ela me olhava confusa, tudo em sua expressão gritava o que se passava em sua mente.
- Mas eu não mandei, como ia fazer uma visita surpresa se você já estivesse ciente?
Me aproximei dela, seus olhos me seguiam, ainda que parecesse não entender meus movimentos, quando cheguei perto de sua cama, ela fechou o notebook de modo tão rápido, que me chamou atenção. Me sentei de lado, uma de minhas pernas se apoiava na cama e a outra ficava para fora, tocando o chão. Tentei sorrir como se não tivesse me incomodado com aquele gesto.
- Está ocupada? - Por desencargo de consciência, eu tinha que perguntar.
- Sim.
Ela disse desfazendo o confuso sorriso, sua expressão se brandou e relaxou os ombros, um gesto que indicava que ela não estava mais vestindo sua máscara social. Os lábios que davam lugar para uma curva posada, os olhos alheios, tudo foi substituído por uma postura mais firme.
- Me desculpa, eu só queria te ver. - Falei, esperando que aquilo bastasse.
- Não peça desculpas. Não há nada de errado, eu só... - Ela respirou fundo, estava escolhendo as palavras em sua biblioteca mental - Eu só estava terminando uma coisa.
"Uma coisa". Simples e direta. Sem detalhes. Essa não era uma resposta típica, mas também, não incomum, Soo tinha suas formas de driblar os assuntos que a incomodavam, de algum modo, ou aquele que queria deixar para depois. Ela tinha um tempo diferente, um jeito de organizar a linha dos acontecimentos, internos e externos, e muitas vezes, não era compatível com o meu.
Certa vez discutimos por que ela não queria falar de Jungkook, eu, no ápice da discussão, acreditei que ela não queria me contar algo, ficamos poucos dias sem conversar normalmente. Foi só depois que a semana passou e os nervos se acalmaram, que ela tocou no assunto, não estava pronta naquele momento para falar de partes de seu passado.
Mas essa não foi a única, quem dera tivesse sido, orbitamos em rotações diferentes e por vezes, colidimos com força, mas diferente dela, eu tenho o habito de me afastar, Soo continua ali, respondendo educadamente, como se tudo não passasse de um "acidente", como pisar no pé de alguém, sem querer. Ela tinha essa mania, pegava a culpa para si e colocava minhas atitudes como acidentes do destino.
Esgueirei meus dedos até os seus, entrelaçando-os devagar, com sutileza, eu não entendia metade das coisas que se passavam na cabeça dela, mas sabia que tinha sido machucada no passado, as marcas ainda a acompanhavam e o medo fazia com que erguesse uma muralha, a vida tinha lhe ferido, porém, ela continua ali, eu não tinha essas experiencias e rezava aos deuses para não ter, o que me restava, era ter um pouco mais de paciência.
Ela sorriu, como se soubesse o que se passasse em minha mente, apertou meus dedos com força, sempre que me contia daquela forma, me trazia a memória uma ocasião, Soo me abraçou com intensidade, sussurrou em meu ouvido uma clemência sofrida: "não me abandone, não desista de mim". Eu jamais desistiria dela, eu jamais me afastaria, falaria isso todas as horas, se necessário, para ela se livrar dessa insegurança.
- Você me dá quinze minutos? - Ela disse por fim, os olhos repousando nos meus, a voz meio rouca de quem ficou muito tempo calada, os fios mal presos na orelha para não atrapalhar, Soo era linda, do jeito dela. Linda.
- Dou até trinta, se puder ficar aqui.
- Pode, eu vou ser rápida, já estou acabando mesmo.
- É para nota?
A pergunta parecia obvia, a meu ver, mas quando ela engoliu seco, entendi que não se tratava de projetos, seminários ou algum conteúdo que fosse ser apresentado para receber uma avaliação, aquilo era pessoal, e parte de mim a reprovou, ela percebeu no meu olhar, o que vez ela voltar a atenção ao notebook, agora, aberto.
Soo podia passar o ar de graciosidade, talvez fosse por não ser tão alta, ou a aparência que não acusasse sua real idade, mas era só uma impressão erronia, uma interpretação precária daqueles que não mergulhavam em seu oceano.
Quando dizem que o Yin-Yang é o equilibro, parecem se esquecer que no bem, também existe o mal, e no mal, também existe o bem. Nada é um completo de si mesmo, sempre vai existir um pouco do outro. E naquele momento, eu sabia que Soo não estava ligando com o que a preenchia em sua maioria, se focou na recessão e mergulhou de cabeça em sua própria existência.
Suspirei, com os dedos entrelaçados no dela, meus olhos foram até a escrivaninha, sua agenda estava sob ela, fechada e bem posicionada, pensei, perdido em meus devaneios, se poderia marcar uma hora para tocar naquele assunto novamente.
- Você vai me dizer o que está fazendo, depois? - Questionei, quase já dando meus horários.
- Depois... - Ela disse concentrada.
A resposta bastou para a minha pergunta, mas não para a curiosidade que começava a bagunçar meus pensamentos, eu só pedia, a qualquer um dos deuses, para que ela não fizesse algo que se arrependesse.

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Remember -- TaeGi
FanfictionDepois de uma louca madrugada de festa, tudo que Yoongi queria era se lembrar o que havia acontecido e quem era a pessoa com que ele teve uma estranha e prazerosa noite, mas a vida não pode parar e ele tenta retomar sua rotina com seus colegas de ap...