TAEHYUNG
Minha cabeça estava explodindo, doía atrás dos meus olhos e um pouco acima das minhas orelhas. Eu ia enlouquecer. Meu corpo doía inteiro, como se tivesse sido atropelado, eu podia sentir a força das minhas lembranças voltando, era físico, era intenso, me dava vontade de vomitar.
Decidi sair de perto do Guinho, eu precisava ficar sozinho, fui para o único lugar que ele não me acharia: embaixo da escada do prédio onde eu tinha aula. Minha cabeça girava, minhas memórias daquela noite voltaram como uma bomba e fizeram um estrago dentro de mim. Eu lembrava, eu lembrava da festa, eu lembrava de tudo, eu lembrava do Guinho... Caralho, o que foi que eu fiz?
Meus olhos estavam ardendo, eu sentia o ar preso em minha garganta e toda a enxurrada se sentimentos que vinha com ele. Eu não acredito, eu não acredito, eu não acredito!
A primeira lágrima caiu e, assim como minhas lembranças, só precisou de uma gota para que depois viessem as outras, desgovernadamente, como eu pude fazer isso? Como eu pude me deixar levar desse jeito? Eu queria não ter lembrado, podia ter ficado do jeito que estava, agora eu entendo quando dizem que ignorância é uma benção.
Já estava escurecendo, Hobi chegaria em casa, eu deixei o Guinho sozinho e fui grosso com ele, eu preciso voltar, mas como eu vou olhar para ele? Como vou agir normalmente? Preciso por a cabeça no lugar, tenho que pensar em um plano, um que justifique meu surto.
Será que devo contar para ele? Tive que fechar os olhos, a realidade estava me deixando atordoado. Eu deveria? Eu deveria colocar em risco minha amizade com ele? Eu devo contar onde deixei meus sapatos?
Soltei todo o ar e passei as mãos em meus cabelos, o chão do piso estava ficando quente embaixo do meu corpo, ficar sentado ali já deixava minha bunda dolorida, mas era só mais uma parte de mim que reclamava pelo desconforto. Interno e externo, nada ficou de fora, da agonia que meus poros expeliam.
Quem diria que lembranças poderiam ser, literalmente, dolorosas? Talvez se eu falasse com o Guinho, ou com Hobi. Não, Hobi não. Ele não tem nada a ver com isso, mas... Eu preciso falar ou vou acabar morrendo sufocado com minhas próprias recomendações.
Soomin... Soomin me entenderia, ela ia entender, eu quero acreditar nisso, eu tenho que acreditar que ela iria compreender o meu lado disso tudo, não foi de propósito!
Resolvi dar uma volta no campus, andar, pensar, abstrair e quem sabe arrancar uma orelha, como Gogh. Talvez não, mas respirar um ar puro iria me fazer bem e assim, me levantei e sai do prédio, a noite já estampava o céu, as nuvens acinzentadas bloqueando as estrelas, que tremenda injustiça.
Eu andei, andei e andei, o campus era grande, tinham muitos prédios, quadras, laboratórios, praças, dormitórios, irmandades e fraternidades, era uma área bonita, até mesmo de noite, lembrava um pouco aqueles lugares de filme de terror, que o protagonista fica sozinho e o vilão aparece. É, talvez seja melhor eu voltar.
Os músculos das minhas pernas estavam fadigados, eu era um artista e não um atleta, mas o caminho até o apartamento pareceu mais curto, deve ser porque minha cabeça não parava, meu corpo todo cansava, mas ali dentro, poderia passar a noite em claro e mesmo assim, não pararia.
Fiquei paralisado na porta do meu apartamento, pelo menos uns quinze minutos antes de entrar, a bateria do meu celular tinha acabado, eu me sentia um verdadeiro covarde, uma criança que foge da mãe quando sabe que fez algo que não deveria fazer.
Pra minha surpresa era bem mais tarde do que eu imaginava, o apartamento estava todo escuro e silencioso, o cheiro de molho de tomate e tinta preenchiam o ambiente, a cortina da janela estava aberta e a pouca luz da lua, que escorria entre as nuvens, iluminava a sala e a silhueta do Guinho, que permanecia deitado no sofá, com o braço largado do lado, caído, segurando o celular.
Fechei a porta com cuidado, eu era o culpado que se escondia de seu juiz, mas eu precisava encarar aquilo, precisava ser por mim... Eu não tinha coragem! Dei alguns passos, com muito cuidado até ele, parecia um gato adormecido, largado em seu lugar preferido no sofá. Extremamente fofo.
- Guinho?
Perguntei sussurrando, rezando a qualquer deus para que ele não ouvisse, mas como uma moeda de dois lados, eu também queria que estivesse acordado. Olhei em seu celular, já era quase meia-noite. Eu passei muito tempo perdido em mim mesmo.
- Yoongi?
Me sentei com as pernas cruzadas em sua frente, seu rosto amassado do sono profundo, a boca meia aberta e os cabelos bagunçados, ele ainda vestia a roupa que tinha trocado para a pintura e ainda dava para sentir o cheiro do perfume.
Coloquei a mão caída junto a seu corpo, logo ele a sentiria dormente e iria doer, eu sei bem como é isso. Ele suspirou. Eu gelei. O meu corpo parou, senti um frio subir pela minha espinha e meu maxilar enrijecer. Alarme falso, ele ainda dormia.
Consegui relaxar meus ombros, meu pescoço estava me matando de tensão, ele estava bem na minha frente eu não tinha culhão para o acordar, eu não conseguia.
- Yoongi? Yoongi, está acordado?
Que pergunta mais idiota! Eu estava mesmo desesperado. Precisava por aquilo para fora ou ia surtar. Ajeitei a coluna, parte de mim, desejava que ele estivesse só fingindo estar dormindo, mas tinha a outra parte, que gritava e berrava para eu só continuar fingindo demência e amnésia. Eu não ia aguentar.
- Eu queria te contar uma coisa... Mas não tenho coragem de dizer isso olhando em seus olhos... Eu não sei se você pode me ouvir, só desejo, do fundo do meu coração, que um dia você me perdoe...
Respirei profundamente. Guinho não merecia aquilo, não merecia uma confissão assim, mas era tudo que eu conseguia dar. Pelo menos por enquanto, pelo menos para a minha pesada consciência.
- Eu me lembro da festa. Guinho, eu me lembro do jogo, eu me lembro onde deixei meu sapato... Eu me lembro de nós...
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Remember -- TaeGi
أدب الهواةDepois de uma louca madrugada de festa, tudo que Yoongi queria era se lembrar o que havia acontecido e quem era a pessoa com que ele teve uma estranha e prazerosa noite, mas a vida não pode parar e ele tenta retomar sua rotina com seus colegas de ap...