Remember -- TaeGi

Relembrar

YOONGI

A manhã foi mais agitada do que eu imaginava, Tae tinha feito as malas sozinho, estava tão ansioso que nem me deu chance de mexer nas coisas da viagem, ele quis cuidar de tudo e, mesmo que eu quisesse, não ia tirar esse prazer dele.

Hobi fez o café, ainda tinha coisas da noite de jogos espalhadas, e já tinha alguns dias que havia acontecido, mas nenhum de nós queria mesmo mexer naquela bagunça e, pela primeira vez, o apartamento estava com cara de casa de universitários, como se jovens morassem ali, e não alguém que tinha empregada, mesmo que não tivéssemos empregada.

Estava bonito até, as luzes diferentes, a desordem com os sofás, eu poderia me acostumar. Pensando bem, não, não poderia, não, já estava me dando nervoso só de imaginar. Tae gostou da nova decoração e Hobi também, eu era a minoria ali e, contanto que ninguém bagunçasse o meu quarto, dava para relevar.

Quando eu fui tomar café, Tae já tinha saído, ele foi me acordar para avisar que iria buscar o carro, na casa dos pais, e quando voltasse carregaríamos o porta-malas e partiríamos para nosso destino, seja lá qual fosse.

Jamais pensei que estaria ansioso por uma viagem sem destino certo, mas era assim com meu Tae, era assim no nosso amor, nunca tínhamos certeza de nada, apenas que, sempre estaríamos juntos, era um clichê, no final, nos encontrávamos, como no começo.

Isso me lembra a noite da festa, não chegamos juntos, não acordamos juntos, mas estávamos juntos e, agora, nos reencontramos, é como se o destino gostasse de relembrar um momento, uma música, um filme, um sabor, como quando sentimos um perfume e nossa memória viaja até aquele instante que foi gravado com cuidado em nós.

Relembrar. Não imaginei que o presente e o passado pudessem ser tão repetitivos, no fundo, era como girar sobre o próprio eixo e nunca sair do lugar, parece um pouco angustiante, mas o destino faz parecer que estamos fadados a repetir os mesmos hábitos, as mesmas escolhas, os mesmos erros...

Tentar sair desse paradoxo pode ser brutal, assim como cair de uma escada ou ignorar alguém, a vida continua, parecendo linear, mas na verdade é uma curva, que se fecha em um ciclo, e quando não se fecha, ele faz looping's infinitos e torturantes.

Eu ainda não me lembro da festa, e acho que nunca vou lembrar, não sei se isso é uma benção ou uma maldição. Para o Tae, foi uma benção, mas para a Soo... Nem todos têm a sorte do Nam, que dormiu, ou o azar de Hobi, que se lembrava totalmente e teve que lidar com isso depois. Nam recebia a benevolência dos deuses, enquanto, muitos de nós, angustiados com a falta das lembranças, tentando recordar ensandecidamente, na esperança que fosse algo bom.

E se não fosse bom, bem... Qualquer coisa parece melhor do que o abismo. Hobi assobiava enquanto lavava algumas louças, ele estava feliz, era muito bom vê-lo assim, finalmente estava com alguém que lhe dava o devido valor, e se não desse, bom, Seokjin teria muita dor de cabeça.

Era bom rir de algo tão simples. Simples, não, só Hoseok sabe o quanto esse relacionamento custou para os dois e ainda custa, seus pais parecem ser um obstáculo pequeno, mas que incomoda mais do que resto de pipoca entre os dentes.

Hobi parecia não perceber que eu ainda estava no apartamento, por mais que eu estivesse na sala, ao lado das malas e ele na cozinha, era como se já estivesse sozinho. O cheiro de café me lembrava a Soo, eu não tinha ideia do que ela faria nas férias, provavelmente algo com Hongjoong. Jo. Joong. Tanto faz, o boy dela. Ela não quis falar nada, mas estava chateada de não poder ir patinar esse ano. "É o meu quadril", ela disse, os olhos marejados e a voz quase embargando, era o grande amor secreto dela... Soo é forte, e agora ela tem o Jo, eles vão ficar bem, eu quero acreditar nisso.

Não sei se posso dizer o mesmo do amigo do Tae, o tal do Jimin, pelo que ele me falou, o amigo começou a beber, manda mensagens estranhas falando que ama todo mundo, diz que ama o um tal de Jungguk, ou Kook, eu nunca entendo aqueles áudios. Coitado, espero que encontre ajuda, mas até o Tae não aguenta mais as chorumelas dele.

Por isso eu acredito que essas férias vão ser boas para nós, ainda que amemos nossos amigos, precisamos de um tempo deles e curtir apenas eu e ele, sem jogadores que fingem ser héteros, mas tem medo de se assumir e machucam nosso amigo; sem gente empurrando amiga pela escada por, sabe se lá os deuses porque, e quase matando ela; sem bebedeira desenfreada; sem drogas; sem provas; nem projeto; apenas eu e o meu Tae.

Fui tirado da minha reflexão matinal esporádica quando ouvi alguém bater na porta, um "eu atendo" saiu de mim, por puro reflexo, não que Hobi deixaria a louça para receber alguém, a menos que fosse Seokjin, mas não era.

Quando abri a porta, ali estava, a geladeira eletrolux mais cobiçada pelos veganos solteiros, e os que namoravam, Kim Namjoon, eu não estava esperando por ele, mas era sempre bem-vindo.

- Nam!

- Oi, Yoon. Desculpa atrapalhar assim, eu acabei esquecendo meu agasalho aqui, na noite dos jogos. - Nam falava sorrindo mostrando as covinhas.

- Ah, entra! Eu não mexi em nada, estava me preparando para a viagem. - Dei passagem para ele entrar.

- É que o agasalho é do meu namorado, se eu perder, ele me mata! - Nam entrou, olhando para os lados.

- Não sei se acho isso fofo, ou assustador.

Hobi gritou um, "oi Nam", da cozinha, e também foi respondido por um grito amistoso, enquanto seguia em sua busca, que não se tardou, apesar de, para mim, estar uma bagunça, aparentemente tudo tinha um certa ordem. Estranho. Novo. Conceitual. A cara do Tae.

- Esse sorriso? - Nam me encarou. Há quanto tempo ele me olhava? - Aqui, achei o agasalho. Boiola!

- Eu não estou sorrindo! - Revirei os olhos. Sim, eu estava sorrindo.

- Eu já vou indo, eu espero que tenha uma boa viagem e aproveitem bem as férias.

- Pode deixar, Nam! É o que eu mais quero.

Nam parou perto da porta, segurando o agasalho amassado, me olhou sorrindo, às simpáticas covinhas pareciam sorrir junto.

- Sabe, eu estava pensando... Quando vocês voltarem, que tal a gente dar uma festa?