Se você pudesse me ouvir agora

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Magnus

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Magnus

'Você ainda pode mudar isso. Eu não.'

Aquilo me atingiu como granadas em cenário de guerra.

Eu ainda poderia mudar isso. Ela não.

Ragnor estava morto. Catarina estava sozinha. Ela nunca mais poderia beijá-lo. Tocá-lo. Senti-lo. Ele se foi. tinha deixado esse mundo para sempre.

Ela não poderia mudar isso. Nunca. Era até ao final da vida.

Ela não podia escolher. Ragnor tinha sido arrancado dos braços dela... para nunca mais voltar.

Eu tive escolha.

Oito anos atrás, eu tive a escolha de perdoar Alexander. E eu não perdoei.

Sete anos atrás, eu tive a escolha de pedir a Alexander para que ele ficasse. E eu não pedi.

Seis anos atrás, eu tive a escolha de dizer que o amava. E eu não disse.

Cinco anos atrás, eu tive a escolha de ficar. E... bem, vocês sabem o que eu escolhi.

Eu estava sempre fugindo. Eu estava sempre escolhendo a opção mais longe de Alexander. Era como se o universo estivesse constantemente tentando nos unir, e eu, constantemente tentando nos afastar.

Alexander também teve a possibilidade de escolher. Oito anos atrás, ele teve a possibilidade de me escolher. Ele não escolheu.

Desde aquela noite... Eu tentava e tentava esquecer ou perdoar. Mas eu não conseguia. Eu estava destruído.

Desde então, com medo de términos... passei a evitar começos.

Passei meses e meses viajando pelo mundo. Em alguns dias fui feliz, em outros aprendi a ser. Mas a falta de Alexander me acompanhou em todos eles.

A saudade tentava me matar, mas eu não corria o risco de morrer, porque só quem ama corre o risco de morrer. Os outros... correm apenas o risco de continuarem mortos.

E – por dentro – eu estava morto.

Todos esses anos, uma questão ocupava meus pensamentos. 'Será que ainda era amor?' Eu não sabia se era amor. Era qualquer coisa que ficará para sempre.

Alexander me amava. Eu sabia disso. E ele implorava para que eu o amasse de volta. Para que meu amor fosse suficiente para eu ficar.

Para ele, se duas pessoas se amassem, elas ficariam juntas. Apesar de tudo, fariam os impossíveis para ficarem juntos. E essa mania de simplificar fazia com que ele parecesse complicado aos olhos dos que tinham medo de amar.

Mas isso era até cinco anos atrás. Hoje... Eu não o conheço mais. Ele cresceu. Já não é mais aquele garoto assustado e perdido implorando pelo meu perdão. Hoje, Alexander é um homem. Eu percebi isso no momento em que pus meus olhos nele, naquela clínica.

E havia Max. Quem quer que ele fosse, Max amava Alexander. E, pelo seu olhar, Alexander o amava também.

'Droga!'

Ele seguiu em frente. 'Pois é Magnus, ele esteve ali – o tempo todo – esperando você desistir da ideia de fazê-lo desistir de você.'

Agora foi ele quem desistiu.

E tudo o que eu consigo pensar é em voltar atrás. Voltar àquela cama – de cinco anos atrás – e ficar. Abraçar Alexander. Beijá-lo. Sussurrar em seu ouvido que vai ficar tudo bem. Que a gente vai ficar bem. E que – só por uma vez – ficasse.

Ah... Alexander, se você pudesse me ouvir agora, eu te diria tantas coisas.

Nem saberia por onde começar de tantas que são.

Penso que começaria por dizer o quanto você me fez falta, por entre esses anos que tive de dividir por um.

Que não houve um único pôr-do-sol que não me fizesse lembrar você por um breve momento. Nem uma noite que eu não adormecesse com a típica questão me zumbindo ao ouvido: "Onde você está agora?"

Se você pudesse me ouvir agora, eu perguntaria como você está, se você também pensa em mim...

É tão doloroso quando alguém que já foi tamanha parte de nós, vira simplesmente um estranho. E como posso eu te chamar isso, quando sei tanto sobre você? Suas manias, seus sonhos e todos os seus traços? Ainda os sei de cor, apesar de eu ter partido há tanto tempo...

Se você pudesse me ouvir agora, eu te diria que deixamos marcas por todas as vidas que passamos – por mais brevemente que seja. E que – ao partirmos – as condenamos a nunca mais voltarem a ser as mesmas.

Se você pudesse me ouvir agora, eu te diria o quanto gostava que tudo tivesse sido diferente, que você nunca tivesse virado um estranho, que eu nunca tivesse ido embora para nunca mais voltar.

Mas isso não seria justo de qualquer maneira.

Eu só quero que você seja feliz. E se consegue sê-lo sem mim, e eu sem você, então é porque talvez – só talvez – tenha sido para isso que fomos feitos.

Para vivermos vidas separadas, como dois estranhos que, um dia, acreditaram que jamais seria assim. Dois estranhos que foram história, que foram músicas, que foram passeios.

Dois estranhos, que num passado distante, se conheceram e se amaram como ninguém.

Se você pudesse me ouvir agora...

Não haveria nada que pudesse dizer na verdade. E não é essa a maior dor de todas? Quando simplesmente nenhuma palavra jamais será suficiente? Quando já não há realmente nada a dizer?

"Você pode mudar isso. Eu não"

Mas eu posso mudar isso.

Eu posso perdoar.

Porque quando você sabe, você sabe. E essa conexão acontece uma, talvez duas vezes numa vida inteira.

'Eu te amo, Alexander. E eu te perdoo. Será que você me perdoaria de volta?" 

Corações Vazios (Malec)Onde histórias criam vida. Descubra agora