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Um grito escapa de meus lábios quando pulo da cama em um susto, estou ensopada de suor. Minha porta se abre com um baque e os meus tios passam por ela desesperados, as lágrimas banham o meu rosto e me encolho na cama.

— Calma meu bem, foi só um pesadelo. — tia Abgail diz com ternura.

Me odeio por tê-los acordado, olho para ela que alisa os meus cabelos.

— Está tudo bem, querida, está tudo bem! — fala com carinho, e volto a deitar na cama.

Puxo o lençol para me cobrir e fecho os olhos, me encolhendo no colchão, eles ficam um tempo me observando, mas depois desliga a luz, e ouço passos se afastando, abro meus olhos encarando a escuridão que me encara de volta com um sorriso cheio de garras, pronto para me rasgar inteira. Mas eu já estou rasgada, então não tenho medo.

***

Meus pais chegam no dia seguinte, ouço o som do carro entrando na garagem, e suas vozes do lado de fora, mesmo contra a minha vontade levanto da cama e sigo para o banheiro, a água cai como pedras de gelo no meu corpo ferido, não me importo em mudar a temperatura, a dor é bem-vinda.

Saio do banheiro tremendo de frio, o meu corpo não segue o mesmo roteiro de minha mente, procuro por outra calça moletom, e uma blusa, visto e não me importo em pentear os cabelos, abro a porta do quarto no momento em que minha mãe leva a mão para abri-la.

Nos encaramos por pouco tempo antes que ela me puxe para os seus braços, não imaginava o quanto eu estava precisando disso até esse momento. Choro contra o seu pescoço, e ela me aninha como pode, também chorando.

Não sei quanto tempo ficamos assim, abraçadas, eu desabando, ela me reerguendo, até que os soluços virassem apenas lágrimas silenciosas, até que eu pudesse ficar de pé sem necessitar de amparo. Levanto a vista e vejo Miguel me encarando com o rosto pálido, suas mãos estão do lado do corpo cerradas em punho, os nós dos dedos estão brancos pelo esforço que ele está fazendo, sei que meu irmão está sofrendo com toda a situação, sempre fomos muito próximos, ando a passos lentos até ele, paro a pouco centímetros de seu corpo, fungo na gola da camisa, limpo meus olhos, depois encaro os seus, vejo fúria no seu olhar, eu sinto tanto por isso, irmão. Forço um sorriso para ele, desejando que todo o sentimento ruim que está sentindo seja tirado de seu ser.

Miguel ergue a mão, na intenção de tocar o meu rosto, um arrepio corta a minha coluna, e dou um passo instintivo para trás, minha mãe exclama um "oh" claramente em choque, Miguel arregala os olhos, descrente. E abaixando a cabeça sigo para a sala, deixando os dois para trás.

Passo por tia Abgail e vou direto para a cozinha, tomo um copo de água tentando acalmar meu coração, meu desejo é de voltar para o quarto e me proteger debaixo das cobertas, onde ninguém pudesse me ver, e eu não pudesse os ferir mais do que já estão. Fecho os olhos e abro algumas vezes, depois deposito o copo na pia, estaciono no lugar quando percebo todos na cozinha, me encarando.

Sinto algo apertando na minha garganta, me sufocando, querendo me engolir. Encaro a todos, e sem aguentar o peso de seus olhares penalizados, puxo a cadeira e sento me apoiando na mesa. Meu pai se aproxima com cautela, como se tivesse medo de me quebrar. Eu já estou quebrada, pai. O observo se abaixar no chão, em minha frente, seus olhos estão brilhando, mas ele não deixa as lágrimas descerem, mostrando o quanto é um homem forte.

— Minha princesa! -—diz baixinho. — eu sinto tanto, meu amor. — uma lágrima solitária rola pelo meu olho. — se eu pudesse, nada disso teria acontecido, se eu pudesse voltar no tempo. — passa as mãos pelos cabelos. — eu amo tanto você, Catarina. — diz e leva as mãos ao meu cabelo, me retraio imediatamente afastando de seu toque, ele arregala os olhos. — filha, sou eu, papai. É o papai. — ele repete as palavras e volta a tentar me tocar, me encolho na cadeira, soluçando baixinho, meu pai também soluça, desesperado. Repete várias vezes que é o papai, mas eu não o vejo mais, só consigo enxergar um homem de cabelos na altura dos ombros, me olhando com malícia.

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