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Acordo animada, o que é uma surpresa levando em conta os dias escuros que passei, mas, desde o dia em que decidi me permitir voltar a ser eu novamente, ou pelo menos o que der para ser depois de tudo, fiquei mais disposta, mesmo quando amanheço com vontade de voltar para debaixo das cobertas, e me esconder por um mês, obrigo-me a levantar, vou arrastando os pés até o banheiro, jogo uma água no rosto, olho para o espelho, e falo para meu próprio reflexo que eu vou conseguir.

Não estou inteira, não me sinto nem perto de estar inteira, mas, cada vez que colo um caco no outro, sinto-me mais forte, sinto que consigo me levantar sem ajuda de ninguém, e talvez, quem sabe um dia, esse sentimento que insiste em me corroer por dentro, fique distante, tão distante a ponto de não passar de uma picada de formiga. Por que não tenho a ilusão de que isso vá passar para sempre, de jeito nenhum, mas uma pequena esperança começa a me fazer imaginar sentindo bem menos do que sinto agora.

Com todos esses pensamentos rondando a minha mente, faço a minha higiene pessoal e tomo meu banho, escolho uma calça jeans e uma blusa de manga longa, ainda não tenho coragem de usar algo diferente disso, porém, já consigo trocar os moletons por calças mais bonitas, comecei a ganhar alguns quilos nos últimos meses, por diversas vezes, quando me olho no espelho, sinto vontade de tirar a roupa e entrar dentro de um conjunto de moletom folgado, mas esse é um desafio que estou tentando vencer.

Saio do quarto e vou correndo do lado de fora, desejar bom dia para o meu companheiro mais fiel, Pitoco. O cachorro quando me vê já vem com suas patinhas para o alto, pulando em meu corpo e me enchendo de areia, solto uma risada e aliso sua cabeça, agacho-me no chão e lhe dou um beijo, depois me despeço dele, voltando novamente para a casa.

Dessa vez vou para a cozinha, onde o cheiro de café invade minhas narinas, sorrio para mamãe que quando me vê já corre com uma xícara na mão, indo me servir. Ela sempre se preocupou em me fazer comer, minha mãe fez e faz, tanto por mim que nem sei como agradecer.

Chego perto dela e lhe dou um abraço apertado, a pegando de surpresa. Ela rodeia seus braços pelo meu corpo e ficamos assim, uma desfrutando do aconchego da outra. Até que minha barriga começa a roncar, e mamãe me solta, fazendo com que eu me sente a mesa.

— Está animada para a sua consulta? — mamãe pergunta, após eu me sentar.

Hoje é dia de ir ver Hanna, e confesso que estou animada sim, aquela psicóloga ordinária se tornou minha melhor amiga, percebi que depois de um tempo passei a esperar anciosa pelas vezes que vou em BH me encontrar com ela, por mais que nossos encontros sejam para que eu despeje um monte de problemas para cima dela, e o meu pai, um monte de dinheiro em seu bolso, ainda sim, gosto muito dela e de nossos encontros.

— Estou sim! — Confirmo, levando um pedaço de queijo a boca.

— Aquela moça é muito legal. — mamãe diz, com um pequeno sorriso.

— Fico feliz que a senhora tenha continuado com a terapia.

— Eu mesma fico feliz por ter vencido o preconceito, imagina que antes eu pensava que apenas doido precisava de psicólogo, terapia e todas essas coisas.

— Quer dizer que a senhora me achava doida? — questiono, me divertindo.

— Claro que não, Catarina, que pergunta mais descabida é essa agora? — ela se levanta, ofendida.

Respiro fundo para manter a calma, esse assunto sempre foi bastante sensível para minha mãe, mesmo após eu apresentar alguma melhora, sempre vejo medo em seu olhar quando desrespeita a mim, confesso que não foi minha intenção chatear ela agora, mas acabei esquecendo o quanto ela é sentimental.

— Desculpe, mamãe, não foi minha intenção te chatear. — peço, com sinceridade.

Minha mãe me encara por alguns segundos, com os olhos cheios de lágrimas, depois, me abraça apertado, demostrando toda a sua preocupação em um gesto tão amoroso. Retribuo, rodeando meus braços pela sua cintura, sentindo o seu cheiro suave.

Um Toque Para O Amor Onde histórias criam vida. Descubra agora