Chego aos tropeços, Pitoco arfa e vai direto para o cocho beber água, levo as mãos ao coração, tentando acalmar minha respiração depois da corrida, mamãe aparece na porta, me encara assustada e vem na minha direção, me examinado com o olhar.
— Filha, ai meu Deus, o que aconteceu? — pergunta vindo até mim.
Olho para a estrada, na direção em que eu estava, não vejo ninguém, procuro um pouco mais, eu estava longe, claro que não o veria daqui. Fico imaginando o que ele está pensando de mim agora, uma garota estranha, vestida de calça e blusa moletom de tamanho maior, aterrorizada de medo no meio do mato, com certeza está achando que sou maluca da cabeça. Sorrio com o pensamento, eu sou maluca da cabeça. Ele só não tem certeza disso, eu acho.
— Catarina, filha, você deve estar com dores. — mamãe exclama, chamando a minha atenção. Franzo a testa para ela, me perguntando do que está falando, depois olho para o meu braço e entendo, com a situação entre eu e o suposto novo vaqueiro, acabei me esquecendo dos arranhões do gato.
— Como você se feriu? — pergunta, me arrastando para dentro de casa. Olho novamente para a estrada. — o que você tanto procura? — Mamãe pergunta, a encaro e depois dou de ombros, entrando na casa, agora que ela me lembrou, meu braço realmente está doendo.
Tiro a blusa para lavar o ferimento, e aproveito para tomar um banho, já que estou toda suja de terra por ter estado no chão. O contato da água contra a pele ferida arde, mamãe pega uma caixa com kit de primeiros socorros e começa a limpar o local. As garras finas do gato deixaram alguns arranhões mais profundos, outros nem tanto, fico pensando em como fui descuidada ao entrar na frente dele e de Pitoco, era óbvio que o bichano iria atacar, ele estava encurralado e na defensiva, mas eu não conseguiria simplesmente vê-lo sendo derrotado sem fazer nada para impedir.
Mamãe termina seus cuidados e me entrega outra blusa de manga curta junto a uma calça, nego com a cabeça e vou ao guarda roupa.
— Filha, se você colocar uma de manga longa vai machucar seu braço.
Ignoro seu protesto e procuro por uma de tamanho maior, visto a peça sob o olhar de minha mãe, depois vou para a cama. Ela me encara por algum tempo, e depois sai do quarto, levando a caixa consigo.
Um tempo depois mamãe entra novamente no quarto, me forçando a dar algumas colheradas na comida, como um pouco, para satisfazer os seus gostos, não gosto de vê-la triste por minha causa, apesar de que no último ano foi assim que a vi, a cada dia, apesar de parecer forte, e tentar a todo custo me animar, eu a vi definhando junto comigo também, seu peso diminuiu, assim como sua aparência cansada está mais evidente, algumas vezes seus olhos estão vermelhos, sempre que ela e tia Abgail se encontram ela chora, desabafando com a melhor amiga, sei que todo aquele clamor é por minha causa, mas não consigo mudar isso, eu não posso mudar isso. Então, para vê-la animada o mínimo que seja, eu forço a comida goela a baixo.
Após o jantar, e todos irem dormir, observo o teto sem de fato vê-lo, mas hoje, ao invés de reviver a cena do pior dia da minha vida na mente, como costumo fazer todas as noites, é outra pessoa que permeia meus pensamentos, outra cena. Uma garota tentando salvar um gato de um cachorro, seria cômico se ela não tivesse sendo agredida pelo bichano mal agradecido, depois um desconhecido chega, e ajuda o felino se salvar, mas a moça está aterrorizada, congelada no lugar, e como se fosse combinado igual aquelas cenas românticas de filmes quando o mocinho salva a mocinha, o rapaz se senta de frente para ela, e começa a ajuda-la a respirar novamente.
Eu sorri para ele, sorri de verdade, tá bom que foi apenas um meio sorriso, mas aconteceu. E ele tem os olhos tão tranquilos, igual um oceano sereno, o garoto dos olhos de paz. Está aí, um bom nome para ele, o garoto dos olhos de paz testo mais uma vez na mente, vai ser o apelido secreto que darei a ele. Sorrio comigo mesma, e, pensando naqueles olhos que me acalmaram, adormeço.
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Um Toque Para O Amor
RomanceCatarina tinha apenas um um sonho, uma mochila, uma saia azul rodada e uma rua escura, quando viu seu mundo desmoronar pela maldade humana. Eduardo é um homem gentil, daqueles que passa pelos problemas com um sorriso no rosto, é quando se torna vaqu...