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Passamos o resto do dia na casa de tia Abgail e chegamos em casa ao cair da noite, mamãe aparece na porta assim que estacionamos em frente a casa, sua testa enrugada em preocupação e curiosidade, se aproxima rapidamente, abrindo a minha porta e me olhando minusiosamente.

— Porque demoraram tanto? — sua voz emana apreensão.

— Passamos o resto do dia na casa de Carlos. — papai diz, respondendo sua pergunta.

— Vocês passaram o dia lá? — repete, me encarando com surpresa, dou de ombros e passo por ela.

— Abgail lhe mandou um beijo. — meu pai diz, também passando por ela.

— Mas, como vocês passaram o dia lá? — mamãe nos segue. — Cezar, ela, nunca passa tanto tempo na cidade, não gosta de ir na casa dos tios, falei com ela semana passada e ela mesma disse que não iria lá, como que de repente vocês passam o dia na casa deles? — papai lhe ignora. — Cezar, você sabe que nossa filha é problemática... — paro no meio do caminho, e a olho incrédula. Papai também fica chocado, esbarra virando para a encarar, percebo que se controla ao responder.

— Helena, não fale assim dela. Se acalme, está tudo bem! — ela bufa com ironia, levando as mãos a cintura.

— Ela poderia não ter lidado bem com isso, foi muito tempo com ela lá, você sabe que ela não está preparada para tantas emoções, a pscicóloga mesmo disse que ela não evoluiu em nada, você não pode simplesmente levá-la e deixar que passe a tarde toda na casa de Abgail. — choque me toma ao ouvir as suas palavras, eu sabia que Hanna os atualizava de meu estado, mas não imaginava que minha mãe pensasse que sou incapaz de visitar os meus tios, ou que poderia causar algum dano a eles.

Eu não sou louca, e depois, não foi ela mesma quem disse para que eu os visitasse?

— Helena, por favor, você está muito alterada, vamos conversar depois!

— Eu cuido dela dia após dia, Cezar, eu a vejo definhar a cada maldita hora, você não pode levá-la e não me dar notícias, você não pode me deixar o dia todo sem notícias da minha filha. — ela grita descontrolada, lágrimas caem de seus olhos, dos meus também.

De repente me sinto sufocar, não consigo mais presenciar os dois brigando por minha causa, como se eu não estivesse presente, ou não fosse lúcida o suficiente para sentir suas palavras.

Passo por eles com passos largos, papai tenta me alcançar mas mamãe fala algo que o faz se irritar, gritando com ela de volta. Começo a correr, deixando os para trás, as lágrimas caem como enxurrada pela minha bochecha, ouço um latido e algumas pisadas, não paro. Corro sem direção, deixando que meus pés me guiem para longe dali, procurando que a exaustão me tome. Paro em um rompante, percebendo que estou a alguns passos de cair de uma ribanceira, meu fôlego está entrecortado, olho para baixo, para o rio que corta a fazenda, penso como seria se eu caísse dali e acabesse com tudo, olho fascinada, como se a água me chamasse, dou um passo para a beira, nunca me aproximei tanto, sempre tive medo de altura, mas agora ela me atrai mais do que nunca, outro passo e estou muito próxima do fim.

— Catarina? — alguém chama o meu nome, me assusto e quase caio, olho para baixo, só mais um passo. — Catarina, por favor, olhe para mim. — continuo a encarar a água, seria o fim do meu sofrimento, o fim do sofrimento de mamãe, do meu pai, do Miguel... — ei, pequena, não faz assim, olhe para mim, por favor! — só mais um passo e tudo chegaria ao fim. — só olhe para mim que tudo ficará bem, eu prometo. — uma lágrima solitária escorre de meu olho, e viro o meu rosto, encarando aqueles olhos que tanto me traz paz.

Ele está com a mão estendida em minha direção, continuo encarando os seus olhos, vejo ali um medo genuíno, mas também, consigo identificar a esperança.

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