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— Catarina! — ouço ao longe, alguém me chamar! — Cat, por favor, filha! Abra os olhos. — reconheço a voz de meu pai, pisco devarzinho, inicialmente confusa, depois, lembranças me invadem a mente, recordo de o porque estou no chão, encaro os olhos preocupados de meu pai, respiro algumas vezes, tentando acalmar o meu coração, olho para os lados, Eduardo está próximo, vejo preocupação em sua face, nos encaramos por alguns segundos, eu me perdendo em seus olhos de paz, ele me varrendo com o olhar, verificando se estou bem.

Ah, Eduardo, eu estou estilhaçada, jamais estarei bem!

— Catarina, eu estou aqui, filha, estou aqui! — minha mãe ajoelha a minha frente, chamando a minha atenção, e pela primeira vez durante toda a minha vida, sinto vontade de sair correndo de perto dela.

Sento rapidamente, quando suas mãos vem em minha direção, o movimento me causa tontura, seguro a minha cabeça com as duas mãos, mamãe toca o meu braço e eu a afasto, engatinhando para longe dela, que arregala os olhos com minha rejeição.

— Helena, por favor! Dê um tempo a ela.—- papai diz, com gentileza.

Levanto-me com certa dificuldade, ainda me sinto tonta, as pernas estão fracas, mas não quero vê-la mais, ando a passos lentos para dentro de casa, mas antes, olho para Eduardo, que a todo tempo me encara, ele faz menção de vir até mim, mas faço que não com a cabeça, observo seu rosto se contorcer em confusão, com um suspiro sôfrego, entro, deixando os três para trás.

Fecho a porta do meu quarto, não quero ter que ver ninguém, estou mentalmente exausta, fisicamente também, porém, me recuso a dormir. Sento-me a beira da janela, olhando a noite de céu estrelado, que engraçado, lá fora o céu está claro, enquanto aqui dentro de mim, está a noite mais escura, nem uma estrela para brilhar, nem um luar para admirar, apenas, escuridão.

No que eu acabei me tornando? Passei de uma garota extrovertida e alegre, para um caco de gente triste e ferida. De uma menina sonhadora e apaixonada, para alguém sem sonhos, de luz apagada.

Quantas vezes um ser humano consegue ser quebrado até não sobrar mais nada? De quantas formas você consegue morrer e ainda assim continuar respirando? Sinto que morro todos os dias, em alguns, mais de uma vez, mas mesmo assim continuo respirando, como isso pode ser possível? Porque tudo não chega ao fim de uma vez? Porque eu nunca morri de verdade? De uma coisa eu tenho certeza, não há morte pior, do que aquela que você sente na alma, que apaga tudo, e mesmo assim você continua ali, lutando pelo que já se foi, tentando provar que está tudo bem, mesmo sabendo que nunca estará.

Uma lágrima solitária escorre pela minha bochecha, sorrio, melancólica. Pois me sinto tão solitária quanto ela, a diferença de nós duas? É que ela logo se acaba, e eu ainda estarei aqui.

Sinto vontade de gritar, de socar algo, de extravasar toda essa dor, essa aflição, esse sofrimento. Mas me controlo, continuo fazendo com que meus pulmões se encham de ar, continuo respirando quando o que eu mais quero é parar.

Estou encarando o nada lá fora, quando algo chama a minha atenção, observo com mais afinco, e consigo identificar o vulto de uma pessoa, meu corpo se arrepia imediatamente, uma pontada de medo perpassa pelo meu ser, estou prestes a sair correndo quando uma fresta de luz o ilumina, fracamente, porém o reconheço. Minha mente da um salto em confusão, pensando sobre o motivo dele estar aqui, é quando caminha em direção a minha janela, fico estática, o observando se aproximar cada vez mais, até que acena com as mãos, luto para conseguir enxergar direito tendo apenas a luz da lua como claridade, até que consigo entender que me pede para abrir a janela.

Penso sobre isso, um receio me invade a mente assim como uma certa desconfiança, mas ele volta a acenar algumas coisas, e lembrando dos nossos momentos quando nos encontramos, chego a conclusão de que não corro perigo com ele, porém seria loucura deixá-lo entrar no meu quarto, mas estou cansada de estar sozinha, ou ouvindo que sou problemática e insinuações de que não tenho mais jeito.

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