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Sinto a pressão contra o batente da janela, ele me força tanto contra ela que estou quase me ferindo, também percebo o quanto ele está nervoso, pois suas mãos estão trêmulas e geladas, pelo menos sei que o infeliz está sentindo alguma coisa.

Meus sentidos aos poucos voltam a normalidade, ou o que dá para ser considerado como normal, levando em conta que estou dependurada a uns bons metros do chão.

Ouço a voz do meu pai enraivecida e ao mesmo tempo nervosa, ouço outras vozes também se misturando a dele. Alguém pedindo calma, tentando conversar. As pessoas tendem a aparecer quando as coisas já estão quase irreversíveis.

Uma nova pressão surje no meu corpo, me imprensado ainda mais, agora estou começando a me ferir, a decepção por saber que não é a primeira vez que ele me deixa uma marca me corrói por dentro. Um grito de frustração fica preso em minha garganta, não posso acreditar que estou nas mãos desse homem novamente, simplesmente não posso. É insano e cruel demais.

Estou olhando para a rua, pensando no meu destino, quando vejo cirenes ao longe, alguém certamente chamou a polícia, encaro as luzes piscando até que a viatura seja estacionada. Torço para que a Renata esteja ali, quero que ela veja o quanto a justiça em seu país é falha e em que tipo de situação me encontro nesse momento.

— Polícia, afastem-se todos! — os ouço falando, e o homem coloca ainda mais força contra o meu corpo.

Sinto vontade de manda-lo ir a merda, gostaria de tê-lo no meu lugar, só para ele vê o quanto isso dói.

— Se vocês se aproximarem ela morre, entenderam? Eu jogo pela janela. — reviro os olhos, se ele continuar me ferindo desse jeito, irei morrer aqui mesmo, bem dramaticamente, sendo cortada aos pedaços por essa merda de batente afiado.

Quem faz um batente desse jeito? Será que ninguém nunca imaginou que alguém poderia tentar matar outra pessoa pela imprensado contra ele?

Os policiais continuam fazendo negociações até que com um impulso, sou puxada de volta, demoro alguns segundos para entender que ele mudou a forma de me matar, agora estou em pé, na sua frente, com seu braço rodeado no meu pescoço. Não me dou ao trabalho de analisar a situação e basear qual das duas estava melhor, passo os olhos pela sala, procurando por uma pessoa em especial, e ali eu a vejo, quando ela me encara seus olhos demoram alguns segundos para me reconhecer, percebo exatamente quando acontece.

Ela deixa um pequeno arfar sair de sua boca, depois, vejo ainda mais determinação em seus olhos, para me tirar daqui. Pelo menos isso, policial.

— Roger, fala comigo, por favor! — olho rápido para o meu lado esquerdo, e vejo Hanna tentando falar com o homem, que até esse momento nunca soube o nome. Então ele se chama Roger.

Estou tão surpresa que perco as palavras a seguir, só me recupero ao vê como suas mãos ocilam contra o meu corpo.

Ele está nervoso por Hanna vê-lo nesse estado?

Agora a psicóloga está na nossa frente, fazendo um tipo de exercício de respiração com ele, suponho que ele seja seu cliente, não posso acreditar nisso. Não acredito que esse maldito faça acompanhamento, e pior, com a mesma psicóloga que eu.

Estou perdida entre a raiva e a negação, quando o sinto me liberar um pouco mais do aperto, procuro pelos olhos do meu pai que me encaram de volta, mostrando-me todo uma chuva de sentimentos. Papai me pede calma com os lábios, depois faz um sinal discreto, no início não o entendo, mas depois percebo que ele está querendo que eu me aproveite da vulnerabilidade do homem com a Hanna para o acertar e escapar.

Sinto um medo súbito, mas papai me pede novamente calma, respiro fundo duas vezes, e depois o encaro, ele balança a cabeça em positivo, então faço o que ele pede, acerto o cotovelo com toda a força que me resta na leteral de seu corpo, depois o chuto para trás, ele afrouxa o aperto em meu pescoço por dois segundos, aproveito essa deixa para me livrar de seu agarre, percebo quando ele se recupera, mas dois segundos pode significar uma vida inteira.

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