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Cinco dias, foi o tempo que os rapazes passaram no hospital, em observação. Não saí daquele lugar em nem um momento, nem mesmo quando os meus pais insistiram que eu teria de ir descansar, eu não queria ir para longe, mesmo com todos dizendo que eu não tinha culpa de nada, lá no fundo, eu ainda sentia uma sensação desagradável, daquelas que ferrenha o nosso juízo, repetindo tantas vezes que se tivéssemos feito diferente, nada daquilo teria acontecido. É como quando erramos e uma amiga vem e diz "eu avisei" ninguém gosta de ouvir isso quando algo sai diferente de seus planos, eu também não gosto desse sentimento de culpa, mas ele está ali, por isso não ousei afastar-me do meu namorado e do meu irmão, precisava cuidar deles, saber que estavam bem e, além de tudo, mostrar para o meu irmão que mesmo nas adversidades, nunca deixei de ama-lo.

Hoje é o dia da alta deles, Eduardo estava eufórico, ansioso para sair já dali, segundo ele, ele é "bicho solto" não combina com aquele lugar monótono e tristonho. Miguel também não via a hora de se ver livre do hospital, queria voltar a montar em seus cavalos, viver sua vida da fazenda que tanto ama.

Quanto a mim? Estou a beira de um colapso. Tantas coisas já se passaram em minha cabeça durante essa manhã, ou melhor, durante toda a noite, levando em conta que não consegui dormi um segundo sequer na noite que passou.

Hanna me avisou tantas vezes de que eu precisava me manter sã, respirar e ficar calma, porém, é uma tarefa um tanto árdua para mim.

Parece estranho pensar que justo no dia que eles poderão voltar para casa, minha mente resolva estourar em diversos pensamentos contraditórios. Mas, para uma pessoa ansiosa, não existe local ou hora marcada para se perder em sentimentos gritantes e desesperados.

A verdade é que estou morrendo de medo de quando chegarmos em casa, essa pequena aproximação entre eu e Miguel venha a retroceder. Minhas pernas tremem só de pensar em como minha relação com Eduardo se sucederá, eu nunca tive um namorado antes, minha mente é completamente desorganizada, apesar dos esforços recentes para amenizar a bagunça. Como conseguir manter uma relação com ele?

Esperar sempre pela tragédia, pelo ruir das coisas boas,  pelo pior, é o mantra de um ansioso. E eu vivo diariamente nesse dilema suicida, onde tudo pode acabar com um simples sopro.

Às vezes pego-me conversando comigo mesma em frente ao espelho, ainda não acredito no fato de que estou falando, escutar minha própria voz parecia uma realidade tão distante a alguns dias atrás... Tudo parecia muito distante e, impossível.

— Você está bem, meu benzinho? — o susto faz com que eu puxe o meu braço com brusquidão, levando minha mãe a retroceder um passo.

— Mamãe, perdão. — peço, sentindo-me péssima pela situação. Ainda não me acostumei com toques, principalmente quando o mesmo é inesperado.

— Ah, eu não queria ter te assutado. — um sorriso amarelo estampa suas feições. — ainda é tão novo ouvir sua voz, imagina que eu sempre sonhava com esse dia, até que em fim ele chegou.

Encolho-me, com um pequeno sorriso destinado a ela.

— Eu orei tanto pra Deus fazer a obra em sua vida, filha, eu sabia que um dia ele me responderia. Finalmente minhas orações chegaram ao trono, agradeço ao senhor por isso.

Dou três batidinhas em sua perna, agradecendo-a por todo o cuidado e amor para comigo.

— Irei pedir ao pastor para ir lá em casa com sua igreja, realizaremos um culto de ações de graças pela sua vida, o que você acha?

Suas palavras inesperadas me atingem, mamãe é evangélica, eu também era, antes de tudo acontecer. Após aquele dia, diversos questionamentos passaram a circular pela minha cabeça, hoje, ainda sinto o amor de Deus para comigo, mas não sinto-me tão próxima dele quanto antes. Além do mais, não sei o que pensar sobre os irmãos da igreja, já que faz um bom tempo que não os vejo.

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