Acordo com uma mão segurando a minha, me assusto a um primeiro momento, para depois me acalmar quando as ideias clareia a minha mente, me fazendo lembrar de quem está sentado ao lado da minha cama, velando o meu sono. Olho para o relógio de cabeceira e vejo que o dia está próximo de nascer, consegui dormir a noite toda sem pesadelos, sem acordar aos gritos, uma lágrima solitária escorre pela minha bochecha, de alívio, de esperança, de gratidão.
Fico um tempo encarando seu corpo pendido para o encosto da poltrona, vendo o seu esforço para me fazer bem, ele não faz a ideia do quanto fez por mim em tão pouco tempo. Lembro de que ele deve sair do quarto, e menso contra a minha vontade, movimento com nossas mãos devagar, tentando fazê-lo acordar, observo quando seus olhos sonolentos se abrem devagar, me encarando, com sono. Sinto vontade de acariciar seus cabelos e beijar seu rosto preguiçoso, mas me contenho e apenas levo a mão em suas bochechas, arrumo o seu cabelo devagar, e sorrio para ele, apenas com o início do amanhecer nós iluminando.
Eduardo sai do transe e se afasta, levantando rápido e caminhando até a janela, quando está para sair se vira para trás, me encarando rapidamente.
— Eu preciso ir, seu pai me mata se demorar ainda mais a chegar no serviço. — sorri em divertimento, sorrio também. — Me encontra mais tarde hoje, lá no celeiro? Depois do almoço. — franzo a testa em curiosidade, mas ele dar uma batidinha no batente da janela, me dando tchau, me obrigo a sorrir, acenando com a mão para ele também.
Ainda não acredito que consegui dormir uma noite inteira sem acordar aos gritos, sem ter maus sonhos, uma noite de sono, de verdade! Apenas segurando a mão de Eduardo, apenas segurando a mão de um garoto que acabei de conhecer, que não sei nada de sua vida, o garoto dos olhos de paz.
Me viro para a penteadeira no canto da parede, e me assusto com minha aparência, cabelos revoltos, parecendo um ninho em minha cabeça, roupas excessivamente folgadas, como que ele não se assustou comigo? Meu Deus, estou absurdamente horrorosa. Também, faz quanto tempo desde que pelo menos passei o pente em meus cabelos? E Eduardo me chamou de linda ontem, sorrio com o pensamento, coitado dele, deve estar com problemas de vista.
Caminho para o banheiro, afim de fazer minha higiene matinal e tomar um banho, saio do box algumas horas depois, me olho no espelho e estranho o que vejo, uma garota totalmente diferente da de pouco tempo atrás, e olha que não fiz muita coisa, apenas levei os cabelos. Procuro algo menos folgado no guarda roupas, e encontro uma calça jeans que a muito tempo não vestia, assim como uma blusa preta de manga longa, que ficava apertada em meu corpo, hoje fica folgada, mas está melhor que as outras. Enxugo o cabelo e ouço batidas na porta, me apresso para abrir e minha mãe se espanta, ficando de olhos arregalados por algum tempo.
— Filha, o qu...e a...con..teceu? — gagueja me inspecionando. Dou de ombros, apenas. Como se não fosse novidade eu estar vestida a algo que não seja moleton, e de cabelos lavados e soltos sobre as costas. — você está... Linda. — ela diz, emocionada.
A abraço, pensando no quanto ela já fez por mim, e em tudo que abriu mão para estar comigo durante todo esse tempo que passei reclusa em minha própria bolha. Ah mãe, eu te amo tanto.
Depois do momento de emoção, seguimos para a cozinha, tomamos o café da manhã, a sinto me olhando todo instante, me mantenho distraída, fingindo não perceber suas olhadas, sei que para ela é estranho e surpreendente me ver assim, deixo que olhe.
Após terminamos saio para fora, indo dá bom dia para Pitoco, Miguel abre o portão da área e quando me vê, arregala os olhos em surpresa, espero que diga algo mas torce o nariz, como se estivesse com desgosto de algo, e passa por mim, sem cumprimentos. Encaro suas costas até que se perde em meio as paredes da casa, me entristeço pela nossa relação, ou a não relação. Não sei o que fazer quanto a isso que nos separou, meu coração em frangalhos se parte ainda mais qua do lembro que consigo tocar um rapaz que mal conheço, e não consigo tocar o meu próprio irmão.
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Um Toque Para O Amor
RomanceCatarina tinha apenas um um sonho, uma mochila, uma saia azul rodada e uma rua escura, quando viu seu mundo desmoronar pela maldade humana. Eduardo é um homem gentil, daqueles que passa pelos problemas com um sorriso no rosto, é quando se torna vaqu...