— Miguel, se acalme. — Eduardo pede, se pondo a minha frente, vendo o quanto o meu irmão parece alterado.
Nunca vi tanta mágoa direcionada a mim, seu olhar me perfura como lâminas afiadas, me encolho, com medo de me ferir fisicamente, o meu coração bate mais acelerado, torço as mãos para que elas parem de tremer, não suporto esse olhar no rosto do meu irmão.
— Saia dá minha frente, peão. Catarina, que merda é essa?
Estou tão nervosa que não consigo processar direito suas palavras. Meu coração retumba no peito tamanha a minha angústia.
— Não fale assim com ela, Miguel ,vamos conversar, cara! — Eduardo pede novamente, mas meu irmão não o escuta. Temo pelo que virá a seguir.
— Quer dizer que na gente você não toca, mas nesse cara você até, até... — xinga baixo.
Sem mais saber o que fazer, e nervosa demais para processar qualquer palavra discutida entre os dois homens a minha frente, busco rapidamente pela agenda, rabiscando algo no papel em branco. Saio de trás de Eduardo, e estendo a mão para Miguel, que para o meu assombro, bate em meu braço, fazendo com que a agenda caia no chão.
— MIGUEL! — Eduardo grita, mas faço sinal para que ele não diga mais nada.
Volto a tentar uma aproximação com meu irmão, ele da um passo para trás, o encaro com lágrimas embaçando minha visão. Ele está tão nervoso quanto eu, seu pomo de Adão sobe e desce violentamente. Agacho no chão, buscando pela agenda, seus olhos me seguem a todo o tempo, recolho a caneta com as mãos trêmulas, e começo a rabiscar novamente.
Miguel, por favor, me perdoe. Peço-te que também me entenda, vamos conversar, por favor, por favor!
Meus soluços entregam o meu desespero, as lágrimas ameaçam rasgar o papel escrito, levanto-me com certa dificuldade dada ao nervosismo, e lhe estendo novamente a agenda.
Miguel começa a lê as palavras, seus olhos se enchendo de fúria a cada letra, mais lágrimas descem pela minha bochecha, não sei o que fazer para reverter a situação, meu irmão não deveria ter visto eu e Eduardo juntos, não dessa forma, antes de estar preparado. Não o recrimino por essa reação, eu o reneguei no início, não consegui me comunicar com ele, tive medo, fui fraca, e essa fraqueza custou a nossa conexão, nossa amizade... Nossa irmandade.
Um riso histérico sai de seus lábios, me assustando.
— Você pede para que eu te entenda quando você afasta a todos nós, mas basta chegar um cara que te interessa pra você esquecer toque e fala, não é?
—Miguel, sua irmã não fala comigo. Pelo menos não com vocal. Sempre que me comuniquei com Catarina foi escrito ou linguagem corporal.
— Deu bem para vê a linguagem corporal que vocês estavam tendo. — não suporto o seu tom de desdém, procuro por um grito, um apelo, um xingamento, o que for, mas nada sai pela minha garganta.
Forço mais um pouco, meu desespero querendo gritar, porém, tudo o que consigo fazer é silencioso. Eduardo nota a minha luta, leva uma mão ao meu ombro, me acalmando, é como colocar gasolina na raiva de Miguel, que em um ato impensado, agarra o meu braço, me puxando para perto dele. Seu toque brusco são como labaredas em minha pele traumatizada, meu instinto é puxar de volta, ele não cede, começa a me arrastar com violência, flashback de um dia aterrorizante passa por minha mente, me assombrando, choro ainda mais, o medo dando lugar ao desespero, Miguel está fora de si, eu estou perdendo a batalha com a lucidez. Luto contra a minha garganta, tentando jogar palavras ao ar, mas nada sai, sinto-me perdida.
— Miguel, solta a Catarina, solta, porra. — Eduardo esbraveja, meu irmão não cede, ele grita palavras ofensivas de volta, não consigo me livrar. Um homem com uma garrafa de bebida alcoólica me vem a mente, um beco de uma rua escura aparece em minha frente, uma força a mais em meu pulso foi o suficiente para me arrastar pra longe da movimentação, e para perto da minha ruína.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um Toque Para O Amor
RomanceCatarina tinha apenas um um sonho, uma mochila, uma saia azul rodada e uma rua escura, quando viu seu mundo desmoronar pela maldade humana. Eduardo é um homem gentil, daqueles que passa pelos problemas com um sorriso no rosto, é quando se torna vaqu...