Estou a mais de dez minutos parada em frente a porta do quarto em que Miguel segue internado, a mais de dez minutos sendo covarde. Levei todo esse tempo pensando em tudo, o que não é muita novidade, já que ultimamente o que mais faço é pensar e pensar. Juro que queria ter um momento de vazio, não aquele vazio gritante que senti durante todos esses dias que se seguiram a minha vida após o trágico dia em que ela fora interceptada. Mas, um vazio calmo, tranquilo, em que eu pudesse ficar com a mente vazia, relaxada.
Já ouvi falarem que yôga é um exercício muito bom, não que eu acredite que a minha cabeça barulhenta seja capaz de dar-me um descanso, duvido bastante disso. Mas eu já duvidei de tanta coisa nessa minha trágica vida, dúvidas essas que foram contestadas, quem sabe essa última também não seja?
Yoga... Vou me inteirar mais sobre isso, quem sabe não aceito o desafio? Sim, desafio, e dos grandes. Porque, para uma pessoa ansiosa como eu, ficar parada por minutos, senão horas, com as pernas cruzadas, falando "aummmm" com certeza seria um desafio... E um martírio.
Porque estou pensando tanto em yoga? Claro, como já disse, eu penso demais, também sou covarde demais para colocar em prática os meus pensamentos. Apesar de que a maioria deles são negativos, então, não seria muito apropriado colocá-los em prática.
Hanna poderia me falar algumas palavras de apoio para eu entrar nesse quarto, mas ir procurá-la só demonstraria o quanto sou fraca, e eu não queria ser tão fraca assim... Mas eu sou, e contra fatos não há argumentos.
Saco o celular do bolso, passei tanto tempo sem realmente utilizar esse treco, pegava apenas para digitar algumas poucas palavras quando eu queria me comunicar com alguém, nada mais que isso, eu não suportava muito contato, preferia a solidão de minha própria companhia.
Disco pela primeira vez o número dela, espero que a ligação seja encaminhada, coloco o aparelho no ouvido, começo a ouvir o "tuuu" da ligação me dizendo que o aparelho do outro lado está chamando, aguardo, ansiosa, ando até a janela mais próxima, olhando para além do hospital, assim como Hanna gosta de fazer quando está em seu consultório, principalmente quando está sendo ignorada por seus pacientes. Quase rio desse pensamento, se não fosse o tamanho de meu desconforto no momento.
— Alô? — sua voz se faz ouvida do outro lado.
— Estou com medo de entrar no quarto do meu irmão. — falo de uma vez, levando a mão até a vidraça, traçando círculos invisíveis.
— Você sempre foi tão gentil ao falar com os outros, ou toda essa educação é resguardada apenas para mim? — rolo os olhos com sua resposta.
— Você é paga para ser minha ouvinte ou minha julgadora?
— Nem uma das duas, sou paga para te ajudar, e não me custa fazer uma crítica de vez em quando.
— Isso é ridículo, você sabe! Poderia perder sua carteira como profissional se eu a denunciasse.
— Você não faria isso.
— Porque tem tanta certeza? Eu não confiaria em mim.
— Eu preciso dizer quantas horas você me viu nesses últimos tempos, e nunca faltou uma consulta?
— Isso não quer dizer que eu a amo.
— Não, mas diz que não desistirá de mim. — sorrio sozinha, ela tem razão, eu não a trocaria por outra profissional. — O seu irmão está bem? — questiona, me fazendo voltar ao assunto inicial, ao mesmo tempo que percebo que ela me distraiu, quando liguei estava eufórica, ansiosa, e ela, com suas palavras provocadoras, me tirou parte da tensão.
Talvez eu comece a estudar psicologia, no final das contas.
— Graças aos céus ele vai ficar bem! Mas ainda não o vi, meus pais já falaram com ele, mas, estou com medo de entrar. — encosto minha testa na janela fria.
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Um Toque Para O Amor
RomanceCatarina tinha apenas um um sonho, uma mochila, uma saia azul rodada e uma rua escura, quando viu seu mundo desmoronar pela maldade humana. Eduardo é um homem gentil, daqueles que passa pelos problemas com um sorriso no rosto, é quando se torna vaqu...