Os trinta dias que se seguiram foram os mais diferentes de minha vida, também, os melhores que tive até aqui. Tive que aprender muitas coisas, principalmente em relação ao meu namoro com Eduardo, não é fácil estar com uma pessoa depois de tantos traumas, mesmo que essa pessoa seja muito especial para você, sempre vai existir algo para te desestabilizar, contestar suas certezas. Às vezes uma palavra mal interpretada, ou um olhar diferente do que já é acostumado. Para alguém que sofre de ansiedade, qualquer detalhe fora do lugar lhe desperta um gatilho.
Muitas vezes precisei me afastar de todos eles, ficar quieta no meu quarto, olhando para o teto ou ir até a cachoeira com pitoco, e observar a água cair. Existe um lugar, um do qual nunca poderemos fugir, e esse lugar é o vazio dentro de nós mesmo, ou aprendemos a ter um convívio com ele, ou viveremos perturbados sempre que nos encontrarmos com ele, solitude, talvez, seja a solução.
Hanna está sendo uma boa ouvinte, a coitada esperou tanto tempo para que eu, em fim, falasse com ela, que agora atende minhas ligações até nas madrugadas. Tudo o que estou vivendo é novo, tenho medo de amanhã eu vir a retroceder, uma pessoa muito inteligente, certa vez me falou que um gatilho é porta de entrada para outros mil, acredito nela.
Alcanço uma pedrinha e lanço na água, observando-a sumir em seguida nas ondas revoltas formadas pela queda da cachoeira. Continuo lançando, enquanto vago pelo vazio de meu ser, pensando em tudo e ao mesmo tempo em nada, tentando não me afundar mais uma vez no mar depreciativo ao qual vivi enjaulada por todo esse tempo, escalando a pequenos passos o poço em que estava submersa, buscando voltar a margem.
— Cat, está tudo bem? — assusto-me inicialmente, depois olho de relance para o meu irmão, que se senta ao meu lado. Sorrio como uma boba, ainda não acredito que estamos reconstruindo a nossa relação, senti tanta falta disso, da atenção e amor dele para comigo, de poder retribuir tudo.
Miguel é um dos motivos para que eu queira reagir, nossa aproximação fez com que a minha alma calejada sorrisse, fez com que eu voltasse, aos poucos, respirar novamente.
— Eu amo você! — falo em um ropante, em seguida, sorrio contemplando sua surpresa.
— Eu também. — coça a nuca, com aquele jeito durão dele. — eu também amo você.
Encosto minha cabeça em seu ombro, ele enrijece o corpo, mas com o passar do tempo, relaxa, aproveitando nosso contato.
Continuamos assim, vendo o cair das águas, em silêncio, apenas aproveitando a companhia um do outro. Ainda temos muitas coisas a serem resolvidas, eu não sou tão boa em falar, acho que me acostumei ao silêncio, também repúdio toques, apesar de fazer um grande esforço para aproximar-me deles. Minha aversão as outras pessoas continua igual, e acredito que isso não mudará tão certo, isto é, se realmente algum dia a mudança vir.
Talvez o meu destino já esteja setenciado, quem sabe a minha vida não será para sempre assim? Resumida a silêncios profundos, mudanças drásticas de humores, aperto no peito, seleção de pessoas a estarem ao meu redor. Quem sabe eu realmente não tenha que ser para o resto da vida... Solitária?
— Você está muito quieta. — Miguel me cutuca, continuo calada. — Catarina? — chama com ar preocupado.
— Estou bem. — respondo em um fio de voz.
— Não conseguiu me convencer. — contra-argumenta.
— Só estou pensando, nada que eu não esteja acostumada a fazer. — suspiro.
— Não quero que você se tranque, não suporto a idéia de te vê regredindo novamente, faz uns três dias que te vejo diferente, quieta, pensativa, reclusa. Não gosto disso.
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Um Toque Para O Amor
RomanceCatarina tinha apenas um um sonho, uma mochila, uma saia azul rodada e uma rua escura, quando viu seu mundo desmoronar pela maldade humana. Eduardo é um homem gentil, daqueles que passa pelos problemas com um sorriso no rosto, é quando se torna vaqu...